Oportunidades de negócio e inovações se unem pelo avanço do segmento fotovoltaico
Armazenamento, hidrogênio verde, eletromobilidade e data centers têm protagonismo no segundo dia do 5º Encontro Nacional ABSOLAR

O segundo e último dia do 5º Encontro Nacional ABSOLAR, que foi realizado no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo/SP, destacou novas tecnologias como parceiras no desenvolvimento da energia solar no País nos próximos anos. O Marco Legal do Armazenamento, vai propiciar a disseminação e barateamento dos sistemas de baterias; foi apresentada a visão de médio prazo para a produção em larga escala do hidrogênio verde, mais limpo e econômico; assim como o amplo aproveitamento do excedente de energia elétrica gerado pela fonte fotovoltaica nos centros de dados que devem ser instalados e na frota de veículos elétricos que não para de crescer no Brasil. Outro ponto alto do evento foram as Rodadas de Negócios, que visam acelerar parcerias e gerar novos contratos a partir do contato direto entre fornecedores, geradores e consumidores.
Avanços e gargalos do H2V no Brasil
Eduardo Tobias, Vice-Coordenador do Grupo de Trabalho de Hidrogênio Verde da ABSOLAR, afirmou que ainda há a necessidade de uma política pública para a criação de demanda desta nova tecnologia e apresentou os principais projetos que estão saindo no papel no Brasil e Paraguai.
O Diretor Acadêmico da ABHAV, Paulo Sérgio Franco Barbosa, chamou atenção para o potencial do hidrogênio na redução da dependência brasileira de fertilizantes importados, afirmando que, com cerca de 10 GW de capacidade instalada em eletrolisadores, seria possível substituir grande parte dessa importação. Em sua fala, defendeu uma visão pragmática da transição energética, não extremista, focada em metas alcançáveis que contem com adesão da indústria.
A Diretora de Carbono e Desenvolvimento de Negócios da Atlasagro, Elisa Figueiredo, falou do papel do fertilizante verde para a reindustrialização do País. Disse que a produção do insumo é responsável por 2% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, algo equivalente ao setor de aviação.
Débora Yanasse, Sócia da Mayer Brown, abordou a regulação legal e infralegal já construída para o H2V. Detalhou pontos importantes do Marco Legal do Hidrogênio de baixo carbono e dos benefícios do Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Rehidro). Segundo Yanasse, a regulamentação do setor é urgente para oferecer previsibilidade ao mercado e permitir que projetos avancem.
Desafios na operação do sistema elétrico
Marcio Trannin, Vice-Presidente da ABSOLAR, destacou que o setor de renováveis vive sua maior crise devido aos cortes de geração e dos riscos operativos crescentes. Alertou para a possibilidade de blackout em dias críticos e defendeu que o foco precisa ser na operação do sistema, buscando soluções de curto prazo enquanto alternativas estruturais, como sistemas de baterias, ainda não estão amplamente disponíveis.
Rodrigo Borges, Market Lead na Aurora, abordou a necessidade de melhorar os sinais econômicos do setor, reforçando que hoje o preço não reflete a realidade da operação. Para Borges, modernizar a formação de preços e incentivar a flexibilidade é essencial para reduzir os cortes e tornar o sistema mais eficiente.
Nilton Marcello, Gerente de Planejamento e Projetos da ISA CTEEP, reforçou que a transição energética depende de uma transmissão moderna, digitalizada e robusta. Apontou os desafios da expansão acelerada das renováveis, destacando investimentos em modernização, digitalização e gestão integrada para manter o sistema seguro e resiliente.
O Papel do Brasil na Nova Economia Verde
Camila Ramos, Vice-Presidente de Investimento e Hidrogênio Verde da ABSOLAR, destacou como o H2V está ganhando espaço no Brasil e reforçou que o País tem vantagens competitivas por causa da matriz renovável e do potencial de expansão da energia solar. Falou da necessidade da criação de segurança regulatória para atrair investimentos. Também trouxe a visão de que o hidrogênio verde pode impulsionar novas cadeias produtivas e posicionar o Brasil como protagonista global na transição energética.
A Especialista em Parcerias Estratégicas no Instituto Amazônia+2, Júlia Forlani, tratou do financiamento híbrido para destravar projetos sustentáveis na região. Ela explicou que a iniciativa estrutura facilidades de investimento capazes de combinar diferentes tipos de capital, criando arquiteturas financeiras que reduzem risco e atraem investidores privados.
Já Paulo Resende, Gerente de Transição Energética da FINEP, anunciou a abertura de uma nova chamada pública de R$ 500 milhões, estruturada em subvenção econômica, na qual a empresa não precisa devolver os recursos ao governo. O objetivo é estimular tecnologias promissoras da transição energética, que ainda precisam comprovar seu potencial antes de atingirem escala comercial.
Cenário legal e regulatório para Geração Distribuída no Brasil
A Vice-Presidente de Geração Distribuída da ABSOLAR, Bárbara Rubim, falou do cenário legislativo, destacando as principais discussões em andamento no âmbito da GD e os desafios para 2026.
O Deputado Federal Pedro Uczai (PT-SC), que teve participação ativa no debate da MP 1.304/2025 em prol do segmento solar, comentou o cenário regulatório do setor elétrico brasileiro e as perspectivas da fonte fotovoltaica para 2026. Uczai elencou quais devem os próximos passos que vão orientar a expansão da energia solar no Brasil, entre eles, o desenvolvimento do Marco Legal do Armazenamento.
Fernando Mosna, Diretor da Aneel, apresentou quais os próximos assuntos de GD que deverão ser regulamentados pela agência reguladora, citando custos, benefícios e cortes de geração.
Data centers e novas cargas do setor elétrico
Piero Carli, Vice-Presidente de Design da Ada Infrastructure, falou como a infraestrutura digital, especialmente de data centers, precisa acompanhar o crescimento da demanda energética de forma eficiente e sustentável. Explicou que o design desses sistemas tem buscado reduzir consumo, otimizar operação e integrar soluções renováveis, incluindo a fonte solar.
Marcela Martins, Diretora de Gestão Energética da Ascenty Data Energy, destacou que para data centers a energia é um dos principais custos, por isso a autoprodução virou estratégia fundamental para garantir eficiência e competitividade. Ela explicou que a demanda do setor explodiu: o que até então era de 3 a 4 MW, passou a 70 até 100 MW, o equivalente ao consumo de uma cidade de 100 mil habitantes.
O Executivo de Tecnologia, Rafael Dolabela, explicou que a energia virou o principal fator na escolha de localização de data centers. Ele destacou que o avanço da inteligência artificial aumentou drasticamente a demanda por processamento e, como consequência, por energia, já que modelos de IA consomem muitas vezes mais do que algoritmos antigos.
Renan Lima, Presidente da ABDC, explicou que o projeto “Brasil no Mapa” busca posicionar o país como destino competitivo para data centers, já que o Brasil possui mais da metade da capacidade instalada da América Latina. Lima enalteceu três pontos essenciais para atrair investimentos: ajuste fiscal para reduzir a carga de impostos sobre a infraestrutura; agilidade nos processos de conexão de energia, que hoje demoram muitos meses e dificultam novos projetos; além da criação de um ambiente regulatório seguro para inteligência artificial.
Aprimoramentos legais e regulatórios para modernizar o setor
Renata Nogueira, Assessora de Diretoria da EPE, trouxe a visão do planejamento sob a ótica da reforma setorial. Ressaltou que a energia solar será o motor da ampliação da matriz elétrica na próxima década. Em relação ao PDE 2035, o novo relatório apontou grande evolução para 2035, com a previsão de 6GW em capacidade de baterias.
Cesar Pereira, Gerente Executivo de Regulação da CCEE, trouxe números do sucesso da abertura de mercado para a alta tensão, o que fez com que 43% da energia comercializada no Brasil seja via Mercado Livre. Quanto a abertura para a baixa tensão, ela deve ocorrer até novembro de 2027 para unidades consumidoras comerciais e industriais e novembro de 2028 para os consumidores residenciais. Também defendeu simplificações para permitir que o consumidor com MMGD participe plenamente do mercado livre.
Isabela Vieira, Diretoria de Programa do MME, apresentou a visão da pasta sobre a reforma, explicando que o objetivo das MPs era criar mudanças rápidas, possíveis e que destravassem discussões maiores. Destacou a simplificação da tarifa social, a abertura total do mercado com datas definidas e as medidas de equilíbrio entre os ambientes livre e regulado. Vieira afirmou que leilão de reserva de capacidade será um marco para criação de know-how operacional no País e aproveitou para confirmar a realização do certame no ano que vem. Já a inclusão do armazenamento no Reidi ainda é uma possibilidade, segundo Isabela, por meio de modificação no decreto 6.144/2007, o que depende de articulação do MME com o Ministério da Fazenda para viabilizar a aplicação dos incentivos ao armazenamento.
Marcos Farinha, da EPE, ressaltou que, embora o LRCP seja desenhado para atender à demanda de potência, o armazenamento também contribui indiretamente para reduzir o curtailment, aproveitando excedentes que seriam desperdiçados, realocando essa energia para horários de maior necessidade. Essa prática tende a diminuir tanto os cortes quanto custos sistêmicos associados à sobra de geração.
Marcos explicou que a EPE e o ONS estão avaliando a criação de cenários intermediários para o leilão. Ele explicou que o certame deve considerar momentos em que a bateria é fundamental para prestar serviços ancilares e sustentar a operação do sistema. Isso envolve ajustar os percentuais de geração eólica e solar nos estudos, permitindo que o leilão capture de forma mais realista a necessidade de serviços adicionais.
Panorama internacional do armazenamento
Nelson Falcão, conselheiro da ABSOLAR, destacou experiências na Alemanha, Espanha e Chile, países que avançaram criando regras claras, especialmente em relação à isenção de tarifas de fio para armazenamento.
Samir Moura, da Canadian Solar, disse que armazenamento acelera a maturidade do mercado solar ao resolver o desafio da flexibilidade, permitindo deslocar energia no tempo e reduzir cortes de geração. Ele apresentou a queda contínua nos custos das baterias, o avanço tecnológico global e mostrou exemplos emblemáticos, como a “curva do pato” da Califórnia, onde 16 GW de sistemas de armazenamento foram instalados para evitar cortes.
A analista da Greener, Luísa Bertazzoli, apresentou dados de inteligência de mercado mostrando o avanço expressivo da capacidade global de armazenamento, liderado pela China, seguida dos Estados Unidos e Europa, especialmente Alemanha e Itália. Bertazzoli explicou que a queda acentuada no preço das baterias é um dos principais vetores de expansão mundial, com reduções de até 40%, chegando a cerca de US$ 165/kWh.
Luiza também destacou aplicações como backup, segurança energética e redução de picos de demanda. Por fim, apontou que o Brasil ainda está em estágio inicial, com aproximadamente 300 MW instalados, impulsionados por programas públicos.


