Setor solar mostra resiliência para superar obstáculos em 2026
5º Encontro Nacional ABSOLAR reúne cadeia produtiva da fonte fotovoltaica em São Paulo para discutir as perspectivas do segmento para o ano que vem

"A ABSOLAR sempre estará disposta a enfrentar os desafios do setor", declarou Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR durante a cerimônia de abertura do 5º Encontro Nacional, que começou nesta quarta-feira, 10 de dezembro, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo/SP. Sauaia reforçou o comprometimento da entidade com a defesa do segmento fotovoltaico, e afirmou que, apesar das batalhas, uma grande movimentação está em curso no País: transformar a energia solar fotovoltaica na principal fonte da matriz elétrica brasileira. Além disso, o uso de sistemas de baterias para armazenamento de energia “é um caminho disruptivo e inevitável”.
Já Ronaldo Koloszuk, Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR, destacou as pautas relevantes do setor solar que estão na programação do Encontro Nacional. Ronaldo ressaltou que 2025 foi um ano difícil tanto para a Geração Centralizada, com o problema recorrente dos cortes de geração de energia, quanto para a Geração Distribuída, com os embates políticos em torno da Reforma do Setor Elétrico proposta pela MP nº 1.304/2025 e regulamentada pela Lei nº 15.269/2025. Mesmo com um cenário desafiador para 2026, Koloszuk enalteceu a resiliência do setor solar, que deve se superar em 2027.
Anfitrião do evento, Jonas dos Santos, Head de Vendas de Solar GD da WEG, revelou que é motivo de orgulho caminhar junto com a ABSOLAR na realização do Encontro Nacional e participar da transição energética no País.
A Prefeitura de São Paulo também marcou presença com Alessandra Andrade, Presidente da SP Negócios, que representou o Prefeito Ricardo Nunes (MDB). Andrade frisou que energia solar não é só uma alternativa, mas é o futuro do Brasil, apresentando dados e estratégias do governo municipal para a evolução da fonte fotovoltaica na cidade de São Paulo, em prol do desenvolvimento ambiental, social, tecnológico e econômico. Segundo ela, são muitas as oportunidades a partir da demanda por soluções sustentáveis, com destaque para os data centers. Afirmou que o papel da prefeitura é conectar governo, empresas, investidores e startups, tornando-se referência para o País e para o mundo.
Tarcísio Branco Amorim de Almeida, Diretor de Energias Renováveis da SDE do Governo do Estado da Bahia, ressaltou que é necessário crescer para obter soluções sustentáveis. A perspectiva é que aconteça uma nova onda de energias renováveis, mas é necessário corrigir possíveis "efeitos colaterais". Tarcísio falou da importância de desenvolver estratégias para que ambos os setores (GC e GD) desempenhem seus papéis e destacou o Programa Estadual de Transição Energética (Protener), desenvolvido na Bahia.
Frutos da parceria ABSOLAR x Sebrae
Rodrigo Sauaia falou da cooperação entre ABSOLAR e o Polo Sebrae de Energias Renováveis/RN, que foi anunciada e formalizada na última edição do EN, em 2024. Segundo Sauaia, com o apoio do Sebrae foi possível reduzir drasticamente os custos para certificação de pequenas empresas. João Hélio, Diretor Técnico da entidade no Rio Grande do Norte, destacou o potencial competitivo dos empreendedores que obtiverem o selo, as soluções sustentáveis e o auxílio concedido às empresas certificadas. Demonstrou apoio à ABSOLAR na luta pela transição energética no País.
Perspectivas para o ano que vem
O CEO da ABSOLAR apresentou as projeções do setor solar fotovoltaico para 2026, destacando fatores políticos, com tensões geopolíticas globais e eleições majoritárias no Brasil. No setor elétrico, pediu atenção ao custo e benefícios da GD, às condições do Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi), e à regulamentação do armazenamento de energia elétrica e o Leilão de Reserva de Capacidade (LCARP 2026).
Na economia, houve destaque para a tendência de estabilidade do real ante o dólar; o aumento das tarifas de energia elétrica acima da inflação, tendo em vista que a pressão inflacionária está caminhando para o teto da meta; a manutenção do patamar elevado da taxa básica de juros (Selic). Além disso, Rodrigo Sauaia ressaltou que os desafios enfrentados pelo segmento em 2025 devem permanecer no próximo ano, entre eles, cortes de geração renovável, necessidade de expansão da infraestrutura de transmissão e distribuição e negativa de conexão por elevação de inversão de fluxo de potência. Sauaia lembrou que o setor solar vai contribuir com mais R$ 31 bilhões em novos investimentos no Brasil em 2026, gerando mais de 319 mil novos empregos verdes e destacou as ações da ABSOLAR referentes ao armazenamento, cortes de geração e geração distribuída.
Comunicação de alta performance para o setor solar
"Precisamos vender para pessoas diferentes, não para quem é igual, e para isso a comunicação com conexão é fundamental", afirmou Phelipe Siani, jornalista, âncora da CNN Brasil na Palestra Magna do Encontro Nacional ABSOLAR. Siani destacou a comunicação de alta performance, com conteúdo, mas sem deixar de ser simples, bem-humorada, objetiva e didática para a população, visando à conversão em resultados positivos para o setor solar fotovoltaico.
O comunicador considera que a mensagem divulgada por grande parte das empresas peca por ser genérica, sem dados palpáveis para a sua audiência, no caso do segmento, o consumidor de energia e quem deseja instalar sistemas fotovoltaicos em sua residência. "É importante se colocar no lugar do outro, ter empatia para comunicar", disse Phelipe.
Principais pautas do setor solar em debate
No Palco Laranja, Rafael Moura, Coordenador do GT de Armazenamento da ABSOLAR, abriu o painel “Flexibilidade e capacidade do SIN: armazenamento como ferramenta chave para o futuro da operação do sistema elétrico”, e abordou a evolução da regulamentação de armazenamento de energia no Brasil, com atuação constante da Associação em audiências e consultas públicas e tomadas de subsídio.
Renan Gomes de Pieri, Doutor em Economia e Professor da FGV, falou no Palco Verde do cenário dos últimos anos no Brasil, no painel “Perspectiva na política, economia e no setor elétrico brasileiro”. De Pieri destacou o período pós-pandemia, quando houve forte crescimento do PIB e pleno emprego, em uma economia que oscila muito. Ressaltou o peso do setor agrícola no avanço do PIB em 2023, contribuindo com 15% de crescimento. 2024 o ritmo da evolução do Produto Interno Bruto foi mais lento, mas ainda melhor do que esperado.
Cristiano Augusto Trein, Diretor do Departamento de Políticas para o Mercado (SNEE/MME) tratou da abordagem do governo para os problemas dos cortes de geração de energia e as iniciativas estatais para a modernização do sistema elétrico brasileiro. Disse que o MME está atuando para destravar investimentos no setor, como um articulador entre as empresas e o governo federal. Trein afirmou que há perspectiva de exportação de energia renovável, solar e eólica, para países vizinhos em função da demanda de data centers.
No mesmo fórum, Tchiarles Hilbig, Gerente de Mercado da América do Sul da DNV, revelou que em 2060 cerca de 79% da eletricidade global virá das fontes solar e eólica. Ressaltou que o armazenamento está se tornando realidade, e que há grande entusiasmo do mercado pelo leilão que ocorrerá em 2026. Hilbig disse que a tecnologia de baterias é essencial para a inclusão de energias renováveis variáveis na rede elétrica. A expectativa é de que a capacidade global de armazenamento conectada à rede deva expandir 25 vezes, saindo de 2,4 TWh em 2024 para 60 TWh até 2060. Declarou também que as baterias de íons de lítio estão prontas para assumir protagonismo, com custos médios caindo de US$ 370/MWh em 2024 para US$ 235 até 2030, podendo chegar em 2050 a US$ 155.
2026: ano de intensas mudanças regulatórias
No segundo painel do Palco Laranja – “Marco legal do armazenamento: caminhos para regulação e expansão”, Vinicius Suppion, Especialista Técnico-Regulatório da ABSOLAR, apontou como lacuna a ausência da figura do Agente Armazenador na a Lei nº 15.269, tema que deverá ser enfrentado no próximo ano por meio de Projeto de lei ou Medida Provisória. Suppion avaliou que 2026 será um ano de mudanças regulatórias intensas, sem precedentes no setor elétrico, mas que também trará oportunidades relevantes para os empreendedores.
Destacou que a Lei nº 15.269 representa um avanço relevante para o setor de armazenamento, especialmente pela inclusão da tecnologia no Reidi, o que contribui diretamente para a viabilidade econômica. Mas ressaltou, no entanto, que a dupla tarifação continua sendo um dos principais entraves, uma vez que a Consulta Pública nº 39/2022, da Aneel, permanece em stand-by. Suppion disse que, embora o marco legal tenha sido aprovado, a fase de regulamentação será decisiva, exigindo acompanhamento próximo e diálogo constante com a Aneel.
Também falando de regulação do mercado, Tatiane Pestana, Gerente Executiva do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), disse que o armazenamento é tratado como um tema estratégico pela instituição, integrando o grupo dos seis assuntos regulatórios prioritários. Do ponto de vista da operação do sistema, destacou que a tecnologia é fundamental para ampliar a flexibilidade e enfrentar os desafios atuais e futuros da operação.
Experiências internacionais do armazenamento
Sob o ponto de vista jurídico, Urias Martiniano, Sócio da UMN Advogados, citou experiências internacionais de isenção tarifária para o armazenamento, tanto na Espanha, quanto na Alemanha. Nestes países há o reconhecimento do papel estratégico dos sistemas de baterias para a confiabilidade do sistema elétrico. Também chamou atenção para o dispositivo legal que atribui aos geradores os custos do leilão de reserva de capacidade, avaliando como equivocada a premissa de que apenas esses agentes demandam potência. Segundo ele, uma alocação de custos desproporcional pode gerar desequilíbrios financeiros e levar à judicialização.
Martiniano considera que a publicação da Lei nº 15.269 altera de forma significativa o cenário regulatório do armazenamento. Desta forma, passou a ocorrer desalinhamento entre a minuta da CP 39 com o novo marco legal.


