China quer construir estação espacial para captura de energia solar até 2030

18/08/21 | São Paulo

Reportagem publicada no Olhar Digital

O governo da China anunciou o objetivo de construir uma estação espacial com o objetivo de capturar e armazenar energia solar até 2030, como parte da meta de zerar a emissão de carbono do país até 2060. O projeto deve aproveitar um parque de células fotovoltaicas que começou a ser construído em meados de 2018, eventualmente paralisado em meio a debates sobre seu custo, e retomado em junho deste ano.

A China é constantemente criticada pelo seu alto volume de poluição, advindo de uma enorme estrutura de fábricas e indústria pesada que permeia o país – diversas empresas do ramo tecnológico empregam mão de obra fabril chinesa na montagem de seus eletrônicos, o que, apesar de medidas de filtragem e redução de emissões implementadas nos últimos anos, ainda faz com que o país seja um dos mais poluentes do mundo – em média, produzindo 38,84 microgramas de partículas nocivas por metro cúbico de ar, segundo o Statista.

Projeto ambicioso da China quer estação de captura de energia solar no espaço, para transmissão direta à centro de distribuição na Terra, mas há alguns percalços a serem superados. Imagem: Jenson/Shutterstock

O projeto busca posicionar uma estação orbital de 1 megawatt (MW) de capacidade até 2030, para que ela faça a captura dos raios solares e redistribua a energia obtida na estação solar terrestre em seguida. A segunda parte desse processo – a estação – deve ter sua construção finalizada até o fim deste ano.

Com o conjunto inteiro em pleno funcionamento, o objetivo é o de que, até 2049 – ano que comemora um século da instalação do regime democrático no país -, ele já consiga produzir um 1 gigawatt (GW). Hoje, a China tem esse mesmo volume de energia advindo de seu principal reator nuclear, mas embora seja uma fonte limpa de energia, esse tipo de método ainda gera lixo radioativo.

A ideia da China de usar uma estação espacial para a captura da energia solar é uma que remete aos filmes de ficção científica, mas ela traz um fundamento válido: estações terrestres só operam essa captura durante o dia. E mesmo isso ainda pode depender de climas favoráveis. No caso da China, a poluição que “suja” o céu e possíveis tempos frios ou chuvosos podem até interromper o processo energético. Com uma estação orbital, esse problema é resolvido, já que não há impedimento direto do Sol incidir sobre as células fotovoltaicas.

O principal obstáculo é comprovar que a transmissão dessa energia do espaço para a Terra funcionaria de forma plena com uma tecnologia sem fios. O conceito existe há décadas – originalmente proposto por Nikola Tesla -, porém até hoje sua aplicação é limitada a curtas distâncias de transmissão.

Os engenheiros chineses querem minimizar esse problema por meio de sistemas de concentração de distribuição. Onde Tesla errou ao permitir a dispersão da energia capturada em várias direções, a China quer direcionar isso a um ponto específico. Atualmente, eles conseguem fazer isso em experimentos envolvendo balões a 300 metros (m) de altura. Ao fim do ano, eles querem ampliar isso para 20 quilômetros (km), com uma nave coletando raios solares da estratosfera.

Outro problema é a radiação: segundo um estudo conduzido pela Universidade Beijing Jiaotong, a única forma de mitigar esse risco é assegurando que ninguém possa morar a distâncias inferiores a 5 km das estações terrestres de captura. Estimativas indicam que isso pode exigir um forte trabalho de rezoneamento por parte do governo. Mas os percalços não param por aí, já que mesmo trens a 10 km de distância podem passar por problemas como perda de comunicação.

Segundo o professor Ge Changchun, da Academia Chinesa de Ciências, o projeto recebeu amplo apoio do setor energético: “a maior parte das novas fontes de energia, como a eólica e a solar, não são estáveis. E outras opções, como a fusão nuclear, ainda são tecnologicamente incertas. Assim, um sistema de energia solar no espaço pode ser representar uma grande escolha estratégica”.