28/06/22 | São Paulo
Reportagem publicada pelo O Setor Elétrico
A área de EPC (engineering, procurement and construction) é um dos pontos mais desafiadores para projetos de geração de energia elétrica a partir da fonte solar fotovoltaica. Trata-se de um trabalho fundamental, estratégico e sob a gestão do mercado nacional. Com o potencial de instalação de algumas dezenas de gigawatts fotovoltaicos nos próximos anos no Brasil, o setor tem ciência de grande demanda por mais empresas e mais profissionais capacitados, com foco neste artigo para as usinas centralizadas. Vale destacar que a energia solar tem um poder de capilarizar a geração de empregos, serviços e renda em todo País.
Em termos corporativos, observa-se que, durante o que se chama de curva de aprendizado, muitas companhias EPCistas passaram e passam por enormes desafios para atender a logística, a necessidade de garantias, o fluxo de caixa e os resultados empresariais.
A elaboração de uma proposta de EPC solar requer uma pré-engenharia que exige a elaboração do projeto básico, quase executivo. Somente assim começam as negociações com os investidores. Isso requer altos investimentos em recursos humanos capacitados, um investimento operacional de praxe de mercado e uma forma de seleção natural dos players mais ou menos preparados para esta desafiadora tarefa. Entretanto, após iniciar as obras, o investidor constata que nem todos os EPCistas consideraram adequadamente alguns pontos importantes, tais como drenagem e terraplanagem da área.
O impacto destes desajustes pode ser direto nos custos e na execução das fundações e, por conseguinte, na estabilidade mecânica dos rastreadores ou seguidores solares (trackers), atingindo severamente a geração de eletricidade final da usina. As obras de drenagem e da terraplanagem são o ponto de partida fundamental para o sucesso de longo prazo de uma usina solar. Portanto, devem ser rígida e atentamente controlados pela engenharia do proprietário do investidor. Soma-se a isso a falta de áreas de terra para a reposição das áreas degradadas, pois nem sempre as licenças ambientais desses lotes são obtidas nos prazos necessários. Portanto, para solucionar esta questão deveriam ser colocadas no mesmo processo da LP e LI dos projetos, a fim de reduzir os tempos médios destas etapas.
Em termos de tracker, poucos se atentam ao fato de que o Nordeste do Brasil é uma das áreas onde o nível de salinidade é um dos mais altos do País. Por isso, deve ser observada a necessidade de um eventual cuidado extra com os componentes metálicos, sensíveis à corrosão, como uma galvanização adicional das estruturas.
Mas um dos pontos mais limitantes na contração dos EPCistas é a obrigatoriedade de apresentar garantias do tipo “fiança bancária”. O elevado custo, contrapartidas exigidas e limitação de linhas de créditos não são cobertas pelos preços de venda dos serviços. O custo elevado e a exigência dos agentes financeiros que fornecem esse tipo de garantia inviabilizam muitos EPCistas de participar de certames de contratação.
A legitima pressão que os investidores fazem sobre os EPCistas deveria ter limites mínimos, pois, caso contrário, o País poderá ter obras com litígios ou até mesmo desafios para sua conclusão.
Neste aspecto, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) começará uma série de encontros entre agentes do setor solar fotovoltaico, incluindo empresas EPCistas, investidores, seguradoras e agentes bancários, para a construção de um denominador comum, vital para a consolidação sustentável e responsável da cadeia construtiva da geração centralizada.