Intersolar e EES apontam armazenamento como solução para a viabilidade dos negócios diante dos cortes de geração
Palestras nos dois congressos indicam o uso de baterias em larga escala para mitigar prejuízos causados pelo “curtailment” aos geradores das fontes renováveis

As discussões dos congressos Intersolar South America e EES (Electrical Energy Storage), que estão sendo realizados em paralelo, no Expo Center Norte, em São Paulo/SP, convergem para um mesmo ponto: o modelo de negócios das fontes renováveis, em especial, da solar fotovoltaica, só será viável nos próximos anos com o uso em larga escala de baterias. Mas para isso, os especialistas do setor energético têm apontado um único caminho, o da regulamentação do armazenamento de energia elétrica para proteger os geradores diante dos impactos financeiros ocasionados pelos cortes de geração (curtailment), propiciando maior segurança jurídica, em um ambiente de negócios mais propício para receber novos investimentos.
A descarbonização por meio de novas tecnologias, como a do hidrogênio verde, e o uso de fontes livres de emissões de CO2 para impulsionar o mercado de data centers também tiveram relevância nos debates.
Confira os destaques dos dois congressos na quarta-feira, 27 de agosto:
INTERSOLAR
Na sessão “Mercado em foco: geração solar FV distribuída”, o Conselheiro da ABSOLAR, Guilherme Susteras, afirmou que não está faltando geração de energia, mas sim, carga, o que ocasiona o curtailment. Com o uso de baterias, a redução nos cortes de geração poderia alcançar 69%.
No painel “Geração centralizada solar fotovoltaica: modelos de negócios e panorama de financiamento”, o Coordenador do Grupo de Trabalho de Geração Centralizada, Ricardo Barros, comentou que "a energia solar fotovoltaica continuará sendo um dos vieses da expansão de geração centralizada no País, o que não significa que não há desafios", ao abordar os impactos dos cortes de geração e a precificação inadequada. Rodrigo Borges, Diretor-Geral da Aurora Energy Research, apontou que “as fontes solar e eólica representarão, em 2060, mais de 50% da capacidade instalada do Brasil". Entretanto, disse que a elevada participação de fontes variáveis demandará cada vez mais flexibilidade e desafios com relação à formação de preço, em decorrência de sua volatilidade horária, problemas que podem ser solucionados com o uso de baterias.
A Vice-Coordenadora do GT de Armazenamento da ABSOLAR, Mariana Galhardo, falou da viabilidade da inserção de Sistemas de Armazenamento de Energia (SAE) em diversos modelos de negócios e da capacidade de empilhamento de receitas, principalmente em projetos híbridos.
Sasha Sampaio, VP de Finanças Estruturadas da LightsourceBP, declarou que “a ausência de ressarcimento do curtailment aumenta o risco dos projetos de geração centralizada em R$ 10/MWh, em média, e encarece a energia dessas usinas em pelo menos R$ 20/MWh".
Sobre o tema “Geração de energia solar FV distribuída: marco regulatório e superação dos impactos de inversões de fluxo”, a Vice-Presidente de Geração Distribuída da ABSOLAR, Bárbara Rubim, afirmou que nos próximos 10 anos a capacidade instalada de GD irá dobrar. Apontou que a geração distribuída é o único segmento que possui data fixa para término de incentivos fiscais, o que não ocorre com outros setores. Abordou também a crescente dificuldade dos consumidores de terem acesso a linhas de financiamento para a instalação de projetos de autogeração.
O Diretor da Aneel, Fernando Mosna, defendeu a previsibilidade dos cortes de geração de energia por meio de regulamentação específica, além da abertura do Mercado Livre de Energia, que, em sua opinião, vai agregar valor ao segmento da GD. Sobre os cortes de geração de energia, afirmou que o constrained-off da geração distribuída não será contemplado na terceira fase da Consulta Pública nº 45/2019, da Aneel.
Mosna destacou o armazenamento como uma grande vitória para o setor de geração distribuída. A adoção de SAEs pode alavancar a economia nacional e o mercado das renováveis. "Falar de GD e do emponderamento do consumidor é falar de armazenamento”. De acordo com o Diretor da Aneel, “a GD conseguiu seu espaço na mesa do setor elétrico brasileiro”.
Na sessão “Demandas emergentes por energia solar: centros de processamento de dados, grandes consumidores, eletrificação, hidrogênio verde e outros”, mediada pela Coordenadora do Grupo de Trabalho de Hidrogênio Verde da ABSOLAR, Marília Rabassa, o Diretor Financeiro da Twenty Four Seven Datacenters, Tomás Botelho, destacou que a instalação de data centers no Brasil deve se concentrar no Sudeste, por conta da necessidade de latência e diante dos desafios de escoamento e curtailment.
Márcia Loureiro, Head de Eletromobilidade da Vibra, disse que "a eletromobilidade é uma quebra de paradigma, que não passa somente pela substituição de combustíveis, mas também pela variação de portfólio da indústria automotiva. Já são mais de 500 mil veículos em circulação, em uma frota de 46 milhões entre leves e pesados".
Daniel Pansarella conduziu o painel “Abrindo novos mercados: aplicações inovadoras e versáteis” e falou sobre novos mercados para a solar, trazendo insights sobre armazenamento, H2V, datacenters e mobilidade elétrica. A Pesquisadora de Inovação do Lactec, Priscila Alves dos Santos, abordou os desafios e benefícios dos sistemas agrivoltaicos e comentou como a transição energética tem chegado ao campo.
EES
Na sessão“Os desafios da próxima década para o sistema elétrico brasileiro: capacidade, confiabilidade e custo”, Daniel Danna, Diretor da Aneel, deu destaque aos Sistemas de Armazenamento de Energia (SAE) e os desdobramentos da Consulta Pública nº 39/2023, que visa regular o armazenamento. Ressaltou que a cobrança da dupla tarifa para o sistema de armazenamento será discutida no fechamento da CP 39 e defendeu a importância de o mercado ter segurança jurídica e regulatória. Também tratou do Sistema de Armazenamento Hidráulico (SAH), de ciclo fechado, com potencial hidrelétrico artificial, sem necessidade de queda d' água. Danna listou as próximas ações relacionadas à CP 39, entre elas, a regulamentação do constrained-off.
O CEO da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia, destacou a meta da Aneel de uma matriz energética neutra, 100% livre de emissões de CO2 até 2040. E a transição energética tem papel fundamental nesta transformação, com destaque para a fonte solar fotovoltaica. Apresentou os desafios para o atingimento da meta, entre eles a inversão do fluxo de potência, que deve ter o armazenamento como aliado; sem ele, empresas estão fechando e empregos são perdidos. Pediu maior fiscalização da Aneel para tentar solucionar o problema. "Talvez este seja o cenário mais desafiador que o setor tenha passado em toda a história", diante dos prejuízos causados pelo constrained-off e insegurança jurídica para a atividade econômica.
Sauaia defendeu a realização urgente de leilões do segmento, em especial, de Reserva de Capacidade, fundamental para desenvolver a tecnologia no País. Ele enalteceu a atuação do Diretor Daniel Danna na CP 39, que em seu voto aplicou melhorias significativas à proposta de regulamentação do armazenamento. Mas disse que ainda há pontos que devem ser aprimorados, em conjunto com o setor da fonte solar.
No painel “Por que o Brasil precisa de armazenamento em grande escala no SIN?”, o Engenheiro do NOS, André Medeiros, mencionou que é essencial a inserção de armazenamento no Brasil, visto os novos desafios e crescimentos das renováveis e Micro e Minigeração Distribuída (MMGD). Segundo Medeiros, o armazenamento irá ajudar nas rampas de rede rápida, inversão de fluxo e limitações nas linhas de transmissão.
O Chefe do Departamento de Geração de Energia do Escritório de Pesquisa Energética, da EPE, Gustavo Pires da Ponte, informou que com o aumento das renováveis, conforme o PDE 2034, surgirão diversos desafios para a operação do sistema, devido à volatilidade das fontes renováveis.