04/08/21 | São Paulo
Reportagem publicada na Forbes Brasil
Desde 2012, os produtores rurais já investiram cerca de R$ 3,4 bilhões em energia solar, gerando mais de 21 mil empregos
O crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano, 1,2% maior do que o do último trimestre de 2020, suportado em boa parte pelo crescimento de 5,7% da agropecuária no mesmo período, traz um cenário animador para a economia em 2021.
Alguns analistas projetam um aumento próximo de 5% no PIB do ano! No entanto, a seca intensa que se abate há alguns meses sobre amplas regiões no sudeste, no sul, leste e centro-oeste do país pode levar a uma séria crise hídrica com escassez nos reservatórios das usinas hidrelétricas dessas regiões, o que poderia ter um impacto negativo nas estimativas referidas.
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As autoridades do setor energético já fizeram acionar as termelétricas, que são caras, poluentes e responsáveis pelas bandeiras vermelhas na conta de luz, mais cara, na cidade e no campo. Vale lembrar um fato bastante comentado: cerca de 46% da matriz energética brasileira é renovável, enquanto no mundo todo a parcela renovável é de apenas 14%. E a agroenergia oriunda da cana-de-açúcar ( bioeletricidade a partir do bagaço e da palha da planta), do etanol (também de milho) e do biodiesel de oleaginosas representa 17% da matriz. Ou seja, a contribuição do agro para a economia nacional transcende a alimentação.
Um dos principais insumos para o sucesso de nossa competitiva atividade rural é, sem dúvida, a disponibilidade de energia nas fazendas de todos os tamanhos e tipos de produção. É a eletricidade que toca, por exemplo, os diferentes modelos de motores, as bombas para irrigação indispensável na horticultura que gera as verduras, legumes, frutas e flores. Ou as grandes áreas de café, produtos cítricos e até algodão. Não há refrigeração de carnes, leite e derivados sem eletricidade; nem na regulagem de temperatura nas criações de vacas leiteiras, frangos e suínos; na iluminação; em cercas elétricas; no monitoramento das propriedades rurais; nos escritórios agrícolas onde a internet tem papel central na gestão.
Diante dessas demandas todas, têm crescido nas fazendas brasileiras a geração e o uso da energia solar produzida localmente. Desde 2012, os produtores rurais já investiram cerca de R$ 3,4 bilhões em energia solar, gerando mais de 21 mil empregos. O setor rural responde, hoje, por 13,1% de toda a potência instalada em sistemas de geração própria com a fonte fotovoltaica. E, num país onde o sol brilha quase todos os dias, esse modelo tende a crescer muito, garantindo segurança energética, estabilidade jurídica, previsibilidade e maior autonomia para os produtores rurais com luz mais barata! E com uma sustentabilidade maior, sobretudo na questão ambiental, tão reclamada por consumidores do mundo todo.
Para que o avanço dessa modalidade de energia aconteça, é importante a criação de um marco legal que permita todos os ganhos referidos acima. E está em curso na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei número 5.829/2019, cuja aprovação traria esse indispensável regramento legal.
Segundo estudos da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), essa atividade pode trazer cerca de R$ 140 bilhões em novos investimentos até 2050, com a redução, no período, de R$ 150 bilhões de custos no uso de termelétricas. Calcula-se ainda que a energia fotovoltaica produzida localmente poderia gerar, no período referido, uma economia de mais de R$ 20 bilhões em perdas na transmissão, distribuição e mesmo geração de energia em usinas de grande porte distantes dos locais de consumo.
Em resumo, a energia solar bem regulamentada será um formidável aliado na produção rural competitiva e sustentável do Brasil.
Roberto Rodrigues é é coordenador do Centro de Agronegócios da FGV
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Coluna publicada na edição 88, lançada em junho de 2021