Smart cities serão a âncora para a neutralidade carbónica

21/01/21 | São Paulo

Forbes

Numa altura em que as ideias de implementação de smart cities ou cidades inteligentes vão ganhando corpo, Portugal assumiu o ambicioso compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050, sendo que já em 2030 se compromete em reduzir em 55% as emissões de dióxido de carbono.

Para António Cunha Pereira, CEO da Ecoinside, empresa tecnológica de energias renováveis, ao definir estas metas para o país, o Estado português está claramente a dar um sinal de que todas as empresas e os organismos públicos têm que se aliar e começar a trabalhar no sentido de se atingir este desiderato. “Resumindo, a neutralidade carbónica que se pretende alcançar será consequência prática da aposta em smart city”, afirmou o responsável à FORBES.

Além das smart cities, o projeto do hidrogénio e das centrais fotovoltaicas serão também elementos importantes a considerar nesta empreitada de se ter Portugal livre do carbono dentro de 29 anos, um compromisso grande para o qual António Pereira diz que a Ecoinside está disponível e com vontade de ser um agente.

Convicto de que o objetivo da neutralidade carbónica se cumpra, o engenheiro químico que nasceu em Viana de Castelo, há 42 anos, antevê já um mix para o sistema elétrico do país, na medida em que, diz, se vai passar a ter muito mais energia elétrica do que se tem hoje, isto fruto da mobilidade passar de uma dependência elevada de combustíveis fósseis para uma mobilidade elétrica. Por outra via, acrescenta o cofundador da Ecoinside, muito consumo de energia fóssil, como o gás, será substituído pela eletricidade.

“Claramente, as casas deixarão de ter caldeiras, esquentadores a gás e passarão a ter bombas de calor que funcionam à eletricidade. Teremos também as grandes indústrias a usarem a eletricidade ou o hidrogénio produzido a partir de fontes renováveis, o hidrogénio verde, que permitirá que grandes indústrias como as cimenteiras, as siderurgias, as cerâmicas que ainda têm grandes necessidades de energia e que a eletricidade por si não consegue suprir, ou ser a alternativa completa, via hidrogénio será possível”, garante.

Um desafio para todos

Neste desafio, Portugal não está só. Contará com um apoio financeiro do bloco europeu. António Cunha Pereira considera importante a “bazuca financeira” que vem da Europa para apoiar o país, mas, defende que não deve ser vista como sendo o único caminho. “Existe esse dinheiro e que será certamente muito dele canalizado para a vertente das smart cities, o aumento da eficiência energética dos edifícios para os projetos de comunidade de energias renováveis, será muito feito neste sentido, mas não chegará”, adverte.

Para António, existem formas de investimentos alternativas e que têm de ser tidas em conta, como são os casos das empresas sinergéticas, em que se enquadra a Ecoinside, que tem disponível para investimentos um fundo próprio de 15 milhões de euros. O fundo, lançado em julho do ano passado, destina-se a apoiar empresas e municípios portugueses na transição energética e na redução de consumo de energia elétrica. Hoje, pouco mais de seis meses depois do início da operacionalização do mesmo, foram já alocados pouco mais de um milhão de euros em projetos, alguns dos quais já em implementação.

“Agora, o que temos é uma série de projetos nos quais existem negociações avançadas, mas, por causa desta situação da Covid-19, houve um adiamento da decisão por parte das entidades com as quais estamos a trabalhar nos mesmos”, refere António Pereira.

O empresário explica, no entanto, que o impacto que a pandemia está a ter no sector de atividade em que a Ecoinside se insere não é tando de haver desistência de se investir nestas tecnologias, tratando-se mais de um adiar perante as incertezas. “Tanto as empresas como os municípios estão mais limitados na capacidade de agir, quer seja porque têm pessoas em teletrabalho, quer seja porque os resultados não estão a ser conforme o perspetivado”, indicou.

A expectativa, segundo o CEO da Ecoinside, é de que nos próximos três anos se consiga alocar a verba toda em medidas que permitam ganhos de eficiência energética, que promovam a produção de energia a partir de fontes renováveis, ou que tragam ganhos de eficiência hídrica.

Até ao momento, avançou, beneficiaram já do fundo o município Vila de Rei, em que foram instaladas 11 centrais fotovoltaicas para produzir energia para a região, e outros seis projetos de seis empresas privadas com as quais se tem contrato, das zonas de Amarante, Guimarães, Santa Maria de Feira, todas da zona metropolitana do Porto.

O fundo lançado enquadra-se na estratégia da tecnológica para alcançar, nos próximos cinco anos, o objetivo de ser parceira de empresas, autarquias e indústrias, para que possam alcançar os propósitos do Green Deal, conjunto de iniciativas políticas da Comissão Europeia com o objetivo de tornar a Europa neutra em termos de clima em 2050, e do Portugal 2030.

Com cerca de 15 anos de existência, a Ecoinside trabalha com uma equipa interna direta de 18 colaboradores e tem uma série de entidades parceiras que totalizam 200 pessoas e que, de uma forma mais pontual ou mais permanente, prestam serviços. O volume de negócios da empresa ronda atualmente os 2 milhões de euros anuais.