Bandeira vermelha pode acelerar investimentos em energia solar

15/06/21 | São Paulo

Reportagem publicada no InfoSolar

Cenário de alta nas tarifas torna o investimento em sistemas fotovoltaicos ainda mais atrativos

O acionamento da bandeira vermelha e o encarecimento das tarifas de energia elétrica tornam o investimento em geração própria de energia mais atrativo para os consumidores. Empresários e especialistas do setor apontam que, além da possibilidade de economia de energia, o cenário reduz o tempo de retorno do investimento em sistemas fotovoltaicos (payback).

Após passar quase 2020 inteiro em bandeira verde, condição em que a tarifa não sofre nenhum acréscimo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira vermelha patamar 2 em dezembro, o nível mais alto de custo extra ao consumidor (R$6,243 para cada 100 kWh).

A cor da bandeira ficou amarela entre janeiro e abril (R$1,343 para cada 100kWh), vermelha patamar 1 em maio (R$4,169 para cada 100kWh), e novamente para vermelha patamar 2 em junho.

A expectativa é que a bandeira vermelha 2 permaneça acionada ao longo do segundo semestre deste ano, uma vez que o Brasil enfrenta atualmente a pior seca dos últimos 91 anos, com baixa nos reservatórios de hidrelétricas e sem perspectiva de volumes significativos de chuvas no curto prazo.

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“Quanto maior a tarifa de energia, mais rápido o payback. Quando o consumidor faz uma cotação e a parcela do financiamento do sistema se iguala a conta de energia, qualquer aumento se torna uma lucratividade. Isso está acontecendo com clientes que compraram numa realidade tarifária do ano passado”, explicou o sócio e diretor da Entec Solar, Jessé Silva.

A vice-presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), Bárbara Rubim, avalia que o efeito geral desse quadro é tornar a energia solar mais competitiva. “O consumidor cativo, que está no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), está mais sujeito as implicações da crise hídrica na bandeira tarifária, ou na conta de luz de maneira geral”, disse.

“Com a tendência de impacto constante de bandeira vermelha patamar 1 ou 2 até o final do ano, será cada vez mais vantajoso gerar a própria energia. A conta de luz sobe e, por consequência, o consumidor tem uma economia maior. Ele só paga bandeira tarifária sobre o consumo líquido dele, o remanescente pós-compensação”, detalhou Rubim.

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Ela afirma que, em razão do atual cenário hidrológico do País, algumas empresas do setor estimam que o impacto das bandeiras na conta do consumidor seja na casa de 10%. A executiva acredita que a continuidade desse cenário de alta nas tarifas em 2022 e até 2023, em consequência do elevado despacho térmico que ocorre desde outubro do ano passado, também ajudam a contrabalancear fatores de pressão no custo dos equipamentos fotovoltaicos, como o câmbio. “A energia solar ainda conta com grande parte dos equipamentos importados e afetados pela cotação do dólar”, explicou Rubim.

Mercado Livre

O CEO da Esfera Energia, Braz Justi, afirma que os preços elevados em razão da crise hídrica trazem desafios para a comercialização de energia. “Prejudica os negócios essa volatilidade. Dificulta o empenho de dinheiro em operações de risco e afeta uma das pernas de nosso negócio, que é o trade. É impressionando a degradação dos reservatórios. Em março, tínhamos um produto que era negociado a R$ 175 MW/hora, hoje está em R$ 475 MW/hora.”

O executivo aponta que o momento instável faz com que as atividades fiquem travadas. “Nesse nível de preço, as empresas ficam muito engessadas em termos de aplicação. A BBCE [Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia] tem tido volumes bem aquém do normal.”

Ele entende que a comercialização de energia precisa de um ambiente dinâmico. “Vamos esperar uma reversão do cenário. As previsões causam preocupações, com preços altos até outubro e a dependência de um período úmido positivo. O próximo ano pode ser complicado em termos de preço de energia e até mesmo em termos de atividade”, concluiu Justi.