Crise hídrica impulsiona mercado de painéis fotovoltaicos

16/07/21 | São Paulo

Reportagem publicada na Folha de S.Paulo

Com custo de instalação a partir de R$ 10 mil, crescimento até maio já ultrapassa o de 2020

Atraídas pelo aumento da demanda por energia solar fotovoltaica, 450 novas empresas se lançam nesse mercado todo mês no país, segundo a Absolar, entidade que representa o setor.

Entre 2019 e 2020, o segmento teve expansão de 60%. “A crise hídrica está impulsionando o mercado. Só até maio de 2021, o crescimento já foi de 64%”, afirma Rodolfo Meyer, conselheiro da Absolar.

Não é só o medo da alta na conta de luz que estimula a demanda. A queda no preço dos equipamentos, que ficaram 90% mais baratos nos últimos dez anos, aliada à oferta crescente de linhas de financiamento, tem feito com que mais gente planeje gerar a própria energia.

Com isso, cada vez mais empreendedores apostam no setor. A franquia Energy Brasil terminou 2020 com 300 unidades e chegou a 450 no último mês de junho. A meta é alcançar 600 até o fim do ano.

Os franqueados podem optar por três modelos de negócio: ponto físico com fachada, store in store (dentro de outra loja) ou home based, que permite trabalhar de casa. Todos demandam investimento inicial de R$ 30 mil, fora custos das instalações.

Mas, aos poucos, a franqueadora tem estimulado a migração do formato home based para um novo, o de contêiner, que pode ser instalado até em estacionamentos.

“Por ser um setor muito novo, ter uma fachada é importante. Muita gente não sabe aonde ir quando quer adquirir um sistema de energia solar”, afirma Túlio Fonseca, 41, fundador da rede.

Segundo ele, 75% da clientela é residencial —a instalação de um sistema de energia solar fotovoltaica custa a partir de R$ 10 mil. O restante é composto por casas comerciais, pequenas indústrias e propriedades rurais.

A empresa não exige que os novos franqueados tenham formação na área. O fundamental é ter boa noção de gestão empresarial, diz Fonseca.

O empreendedor Carlos Balbino, 41, começou com formato home based em junho de 2020, mas já tem planos de crescer. Em breve, quer abrir uma loja em Taboão da Serra (Grande São Paulo), onde vive.

No primeiro ano de atuação, seu faturamento foi de R$ 400 mil. Em média, ele faz de duas a três instalações por mês e, eventualmente, aparecem clientes maiores.

“Acabei de instalar o sistema em um mercado de bairro que custou R$ 250 mil. Valeu a pena para o cliente, porque ele pagava R$ 10 mil mensais de energia elétrica”, diz Balbino.

Localizada em Goiânia, a Service Energia cresceu 60% em 2020, sobretudo em função das instalações de painéis solares em propriedades rurais onde não há fornecimento de energia elétrica.

Esses sistemas autônomos, chamados off-grid, são um pouco mais caros —um modelo básico, que é capaz de iluminar uma casa pequena, com geladeira e TV, custa a partir de R$ 14 mil.

A clientela da empresa vai de agricultores familiares a pecuaristas donos de fazendas com mais de mil hectares, afirma Euflasio Moura, 35, fundador da Service Energia.

Com apenas quatro funcionários, a companhia atende os estados Goiás e Tocantins e o oeste da Bahia. Cada instalação pode ser feita por duas pessoas em um único dia, porque os kits já saem pré-montados da sede.

“Com essa ameaça de apagão e contas mais altas, até fazendeiros e sitiantes que têm energia elétrica estão nos procurando. Prevíamos vender 50 kits ao longo de 2021, mas temos instalado até dez por mês”, conta ele.

A Enerzee, também especializada em sistemas de geração de energia solar, trabalha com um modelo que permite a pessoas que desejam instalar painéis em suas casas possam, ao mesmo tempo, empreender nessa área.

A partir de um investimento inicial de R$ 299,50, o profissional tem acesso à plataforma de negócios da Enerzee e passa por um curso de capacitação online. Com isso, ele se torna um consultor, uma espécie de representante de vendas independente.

Das comissões, 30% são convertidas em créditos para a aquisição de equipamentos da empresa. A proposta é que, aos poucos, o consultor consiga comprar o próprio sistema e continue ganhando dinheiro com as vendas.

Atualmente, 90% da receita da Enerzee vem dos 686 consultores em atividade. A meta do fundador Alexandre Sperafico, 47, é chegar aos R$ 100 milhões de faturamento em 2021.

Para Rodolfo Meyer, da Absolar, os próximos anos serão de crescimento ainda mais acelerado do mercado de energia solar fotovoltaica.

“É um segmento que só tende a evoluir, porque cada vez mais o consumidor vai querer sua liberdade energética.”

Carlos Balbino, franqueado da Energy Brasil, em telhado de casa com painéis solares instalados por ele em Mairiporã, na região metropolitana de São Paulo – Jardiel Carvalho/Folhapress (Foto: Jardiel Carvalho/Folhapress)

A Aneel (agência que regula o setor elétrico) em 2015 já previa uma discussão para 2019 sobre os incentivos dados a quem produz energia solar em casa, a geração distribuída (Foto: Caninde Soares/Folhapress)

No ano passado, uma consulta pública foi aberta para discutir as alterações. A agência apresentou uma resolução com cinco alternativas, mas indicou que deveria escolher a quinta opção, a mais extrema das apresentadas, segundo especialistas ouvidos pela Folha (Foto: Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress)

Nesta alternativa, quem produz energia elétrica na própria casa teria que pagar todos os encargos que hoje não paga, com exceção da geração de energia. Portanto, teria que pagar pela rede de transmissão, distribuição e por encargos e subsídios a programas do governo (Foto: Divulgação/Renew Energia)

Também nesta opção, quem já tivesse aderido ao sistema de energia solar até a publicação da medida teria direito a um período de transição até 2030, no qual estaria livre das novas regras (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)