Com conta de luz nas alturas, 2021 vira o ano da energia solar

26/12/21 | São Paulo

Reportagem publicada pelo 6 Minutos

O que descobrimos

A geração de energia fotovoltaica no Brasil dobrou de tamanho de 2020 para 2021

No ano que vem, ritmo deve continuar acelerado

Energia solar gera economia de até 95% na conta de luz

“Eu não aguentava mais ficar pedindo para desligar a luz, para não demorar no chuveiro, para fechar a geladeira”, diz a professora aposentada Loreni Luchini, de Campinas. Ela gasta R$ 300 com a conta de luz todo mês e para não ficar nervosa com o valor da tarifa ou com as broncas na família decidiu investir R$ 16 mil em energia solar.

A instalação das placas fotovoltaicas em sua casa foi feita no fim de dezembro. “Eles instalaram tudo em dois dias. Agora, a concessionária de energia vai trocar o relógio de luz e pronto. Vai começar a economia”, diz ela, que espera um desconto de 50% a 95% no gasto com força e luz.

O investimento, diz ela, vai valorizar a casa e, no futuro, ajudará a família a trocar o carro por um modelo elétrico. “E é bem mais ecológico”, afirma.

Muita gente, em 2021, viu as mesmas vantagens que Loreni e decidiu investir em energia solar. Residências, empresas e produtores rurais. “Nós já tínhamos crescido de 2019 para 2020, dobrando de tamanho no potencial de geração e distribuição de energia solar. E dobramos novamente em 2021”, diz Guilherme Susteras, coordenador do grupo de trabalho de geração distribuída da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).

O número de empresas, casas e propriedades rurais que agora tem conexões de energia solar, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), passou de 123 mil em 2019 para 215 mil em 2020. Nste ano, até o início de dezembro, o total de ligações já havia ultrapassado os 314 mil.

O aumento na conta de luz, a bandeira tarifária e a ameaça de um novo apagão de energia foram a mola propulsora dessa mudança. Em relação ao total da matriz energética do país, a energia solar, que representava 4% da geração, agora passa de 6%. A geração hidroelétrica ainda é a maior, com cerca de 70%.

Quanto custa?

Mas não é um investimento barato. Tanto que muita gente tem procurado uma forma bem tradicional para financiar essa mudança: o consórcio. O Magazine Luíza, por exemplo, criou em junho de 2020, seus primeiros planos para venda de placas fotovoltaicas e registrou aumento de 1250% na procura de maio a setembro de 2021. “No geral, são cartas de crédito de R$ 30 mil parceladas em 50 meses. Quando a pessoa é contemplada – ou dá um lance – ela usa o dinheiro para comprar a as placas do fornecedor que escolhe”, explica Alexandre Luís do Santos, diretor de operações do Consórcio Magalu. Existe uma taxa de administração de 14% e juros de 3,36% ao ano.

Quem está instalando?

A maioria é de casas, empresas e produtores rurais. Mas tem muita gente criando também fazendas solares. Elas instalam várias placas num terreno grande e passam a gerar energia para a rede de força e luz.

Nesse caso, algumas empresas fazem o meio de campo entre esses geradores e os consumidores finais. São empresas que funcionam como uma imobiliária de usinas de energia solar, que conectam essas usinas com a distribuidora de energia tradicional (Enel, CPFL, Cemig, por exemplo).

Sem placas

O cliente final não precisa instalar placas em casa para usar essa energia solar gerada em fazendas. Ele faz uma assinatura e paga a conta para essa companhia de geração compartilhada de energia solar associada à concessionaria de força e luz de sua região. Nesse caso, o desconto na conta varia, mas fica em torno de 15% a 20%. Mas nem toda cidade ou região tem esse sistema funcionando. Depende da proximidade com as fazendas de geração solar. A capital de São Paulo, por exemplo, ainda não tem esse serviço. Mas em Minas Gerais, várias cidades têm esse sistema, dentre elas Belo horizonte.

E como será em 2022?

A Absolar está negociando com governos estaduais acordos para ter desconto do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) para instalação das placas. Estados como Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro já concedem essa isenção.

Em São Paulo, a associação fez recentemente um acordo com a InvestSP (Agência Paulista de Promoção de Investimento e Competitividade) para identificar empreendedores do setor solar interessados em investir no Estado.

“A expectativa é continuar crescendo no mesmo ritmo, mesmo que as bandeiras tarifarias de energia sejam mais brandas. As pessoas estão muito interessadas em não depende mais de chuva para ter energia”, diz Susteras.