09/10/20 | São Paulo
Alta no preço do frete internacional impacta mercado fotovoltaico
O mercado fotovoltaico, e demais setores da economia, estão sofrendo com a alta de até 650% no preço do frete internacional nos últimos dois meses. Especialistas apontam que os principais fatores para este aumento são a retomada da cadeia produtiva pós pandemia e a aproximação do feriado na China, celebrado entre 1º e 7 de outubro (Golden Week).
Este cenário já tem provocado impactos financeiros no mercado fotovoltaico. "O frete internacional marítimo aumentou de US$ 700,00 por contêiner para US$ 5.000,00 devido à alta procura no período. Como, em média, cabem 600 módulos num contêiner, houve mudança de US$ 1,2 por módulo para US$ 8,33 cada", relatou Fernando Castro, diretor de vendas da Risen Energy Brasil.
"Além disso, incidem outros custos, como imposto de importação e PIS-Cofins. Com isso, eu estimo um adicional de 30%. Assim, temos um aumento de US$ 1,56 para US$ 10,82 por módulo", acrescentou Castro.
Segundo Livia Verjovsky, diretora comercial na WM Trading, a alta é explicada pelo overbooking por conta das omissões de navios que aconteceram no mês de agosto. Por consequência, a disponibilidade de espaço caiu para aproximadamente 50% da capacidade anterior.
"Essa redução no espaço somado à retomada das importações pelas empresas, visando as vendas de final de ano, além da pandemia da Covid-19, foram as oportunidades vistas pelas companhias marítimas para aplicar os valores atuais. O segundo semestre, historicamente, já é marcado pelo aumento no custo do frete se comparado ao primeiro. Mas, neste ano temos visto valores acima do normal para a época", esclareceu Livia.
"Por enquanto não há previsão de normalização dos serviços e nenhum armador anunciou extra loader para amenizar a situação dos espaços. Infelizmente a situação atual tem sido desfavorável para o setor fotovoltaico uma vez que grande parte dos insumos é importado. Porém a tendência é de queda após o Ano Novo Chinês, em que voltaremos a ter valores mais razoáveis", acrescentou Livia.
Eudes Silveira, diretor da Port Trade, explica que o preço do frete marítimo, principal logística utilizada pelo setor solar, possui um histórico de altas e baixas em determinados períodos do ano. "Historicamente, a alta do preço do frete antecede os feriados chineses, como o celebrado em outubro e janeiro. Além disso, é comum que entre agosto e setembro tenha este aumento no frete devido às compras para o fim de ano, já que o comércio começa a preparar seus estoques para as vendas de natal a partir de outubro", explicou.
"Todo começo de ano é comum que o preço do frete suba após o feriado chinês, celebrado em janeiro, e se mantenha até a realização da SNEC, principal feira de tecnologia da China, normalmente realizada em abril. Após duas semanas da realização do evento, os preços voltam a subir devido à demanda pelos produtos lançados. Este ritmo segue até junho, que é quando o custo volta ao patamar no normal, onde o preço é entre US$ 1.500,00 e US$ 2.000,00", acrescentou Silveira.
Ele ainda destacou que o preço do frete marítimo praticado entre US$ 400 a US$ 700, registrado neste ano, foi atípico e ocorreu devido à pandemia da Covid-19, já que houve desabastecimento da cadeia produtiva. "O frete atingiu o patamar entre US$ 400,00 e US$ 700,00 devido à pandemia por falta de mercadoria".
Alta no frete impacta os preços finais
Com o aumento no custo do frete internacional, distribuidores de equipamentos fotovoltaicos no Brasil afirmam que os preços também devem sofrer alta. O principal fator apontado é a retomada da economia, que impacta em toda cadeia produtiva mundial.
"Infelizmente, para o Q4 [quarto trimestre], os impactos serão repassados aos integradores e consequentemente ao consumidor final. Afinal, teve alta de 10% no dólar, as entregas da China tem atrasado e os armadores estão fazendo transbordo. Tudo isso impacta em mais custos", afirmou Aldo Teixeira, fundador e presidente da distribuidora de equipamentos fotovoltaicos Aldo Solar.
Quem também afirmou que os preços devem afetar o bolso de integradores e do consumidor final foi Leandro Martins, presidente e fundador da distribuidora Ecori Energia Solar. "Os preços dos módulos estão subindo e a justificativa apresentada é a lentidão na produção por normas de segurança mais rígidas e por falta de componentes dos painéis solares, que também tiveram alta nos preços em dólar. Não tem como segurar. Os Ex-tarifários, publicados recentemente já deixam de ser viáveis pois a alta da taxa cambial extrapola o valor CIF máximo permitido, não tem como usar esta redução de impostos. Sem falar na alta dos componentes nacionais como cabos e alumínio por exemplo", além do frete internacional que sofreu alta de mais de 500% nos últimos meses, destacou Martins.
Outra dificuldade vivenciada pelos distribuidores, segundo Aldo Teixeira, são os atrasos nas entregas. "De um lado o exportador comenta que não tem equipamentos, não tem transportador para levar até o porto e não tem contêiner disponível. Já os armadores dizem, em alguns casos, que estão pulando porto. Aconteceu dois casos nas últimas semanas. Os navios deveriam ter uma rota porto-a-porto e, no meio do caminho, eles simplesmente mudam a rota e descarregaram nossos contêineres no porto de Santos, que é longe para nós. Com isso, tivemos que fazer o transbordo, atrasando as entregas em torno de 14 a 21 dias" relatou Aldo.
A dificuldade na logística também foi apontada por Camila Nascimento, diretora comercial da Win Energias Renováveis. "Tem sido difícil encontrar janelas de embarque e muitos pedidos encontram-se com expectativa de atraso de mais de um mês", destacou Camila.
Assim, como indicado por Eudes Silveira e por Livia Verjovsky, a expectativa é que a situação comece a se normalizar a partir de novembro.
"Após este feriado chinês, na primeira semana de outubro, existe uma tendência de o preço recuar. Também deixo um recado, que a Aldo sempre manteve estoques de seis semanas de vendas, para suportar uma aceleração. Mas, durante o mês de outubro, essa reserva técnica de estoque cai para duas semanas. Porém, em novembro e dezembro já está garantido um estoque médio disponível, para seis semanas de vendas e, com isso, vamos atender toda a demanda necessária do mercado", concluiu Aldo.