Angola: Usina solar na província de Benguela vai produzir 188 MW de energia

20/07/22 | São Paulo

Reportagem publicada pela África 21 Digital

A maior central solar fotovoltaica de Angola, de 188,8 MW, localizada na comuna do Biópio, município da Catumbela, província costeira de Benguela, entrou em funcionamento esta quarta-feira, após a sua inauguração pelo presidente da República, João Lourenço.

África 21 Digital com Angop

A infraestrutura construída pelo consórcio que reúne a empresa norte-americana Sun Africa LCC e a construtora portuguesa MCA (M.Couto Alves, SA) custou 256 milhões de euros. O projeto fortalecerá o sistema elétrico nacional.

A cerimónia de inauguração marcou o arranque a 100% do parque solar do Biópio, um ano e quatro meses após o início das obras e os testes e ensaios realizados.

Foi concluída a linha de transmissão elétrica de 220 Kv para transferir energia desta usina para a subestação existente em Biópio e desta para a estação de seccionamento naquela região, abrangendo um total de 1575 metros, permitindo a injeção de 188,8 MW de energia no rede nacional interligada.

O projecto, o segundo instalado na província de Benguela, depois da Baía Farta, com 96 MW de potência, ocupa 436 hectares e dispõe de tecnologia de ponta para a produção de energia limpa e renovável, suficiente para suprir as necessidades de 500 mil lares de angolanos, o equivalente – como se estima – a mais de um milhão de consumidores, principalmente no meio rural.

O ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, considerou histórico o facto de Angola ter começado a produzir electricidade a partir de um recurso inesgotável, como o sol, numa altura em que as autoridades procuram diversificar a matriz energética.

Descreveu ainda os projetos solares do Biópio e Baía Farta como uma “era da inovação”, com maior consistência e resiliência do sistema elétrico interligado, para compensar as chuvas intermitentes no país, fruto das alterações climáticas.

Uma vez injectada no sistema interligado, a electricidade das centrais fotovoltaicas da província de Benguela estará disponível para abastecer qualquer uma das 10 províncias já ligadas à rede nacional e, assim, prosseguir com a electrificação de mais áreas.

Disse que a expectativa é que muitas famílias angolanas possam ter cada vez mais acesso a energia limpa e barata, além de reduzir os custos de utilização de pequenos e grandes geradores a gasolina e gasóleo.

Mais parques a caminho

O governo anunciou planos para a criação de novos parques solares que entrarão em funcionamento para continuar a reforçar a componente das energias renováveis ??no país e ajudar a responder às necessidades de maior procura.

Angola terá sete centrais solares fotovoltaicas, incluindo os parques nos municípios de Saurimo (Lunda Sul), Lucapa (Lunda Norte), Luena (Moxico), Bailundo (Huambo) e Cuito (Bié). Isso envolverá a instalação de um milhão de painéis solares, totalizando 370 megawatts.

Orçado em 523 milhões de euros, o projeto é desenvolvido pelo grupo MCA e Sun Africa, desde a componente tecnológica à financeira, passando pela certificação internacional, dado que as energias renováveis ??têm sido um forte foco de vários países africanos, incluindo Angola, embora seja ainda longe de concretizar o seu potencial neste domínio.

A concretização deste investimento, assegurado pela Agência Sueca de Promoção das Exportações (SEK), contribuirá para o fornecimento de energia eléctrica a 2,4 milhões de pessoas, sobretudo em zonas com carência de infra-estruturas de acesso à rede pública.

João Baptista Borges reiterou o compromisso do governo com uma matriz com 72 por cento de energia limpa e zero emissões de carbono, como forma de substituir a produção de energia a partir de centrais térmicas, em muitos pontos do país, a partir de geradores.

Impacto ambiental

A instalação do novo equipamento vai evitar a emissão de 935.953 toneladas de carbono (CO) por ano em Angola, que entra na corrida por uma matriz energética ambiental através deste projecto, considerado pelo MCA o maior programa integrado de intervenção pública para as energias renováveis energias na África Subsariana.

O chefe do departamento de Energia e Águas afirmou ainda que estes projectos fazem parte da estratégia do governo de “descarbonizar” a indústria e economia angolanas, tendo em conta a necessidade de garantir um ambiente sustentável para as próximas gerações.

Nos últimos anos, as barragens do país já começaram a registrar pouca afluência de água, devido à falta de chuva. Assim, o Governo angolano aposta na construção destas centrais como alternativa para a produção de energia eléctrica a partir de fontes solares, em paralelo com centrais térmicas, onde se verifica um consumo excessivo de combustível – gasóleo.

A economia de cerca de 1,4 milhão de litros de combustível diários é o impacto que a produção de eletricidade terá, por meio de usinas solares.

Energia solar

A energia solar é convertida em eletricidade através do efeito fotovoltaico, que ocorre quando partículas de luz solar colidem com átomos presentes no painel solar, gerando movimento de elétrons e criando a corrente elétrica chamada energia solar fotovoltaica.

Em vez de combustível ou gás natural usado em usinas térmicas, os parques fotovoltaicos precisam apenas de um ingrediente básico e abundante no país: o Sol, que é o grande diferencial e vantagem.

Na África, países como Quênia, África do Sul, Argélia, Gana, Marrocos, entre outros, se destacam na produção de energia solar.

Estimativas indicam que 60 milhões de pessoas utilizam a energia solar como fonte de eletricidade na África, continente onde quase 87% das pessoas de baixa renda vivem em áreas rurais e não têm acesso à eletricidade.