Com flexibilização, setor solar aposta em retomada dos negócios no segundo semestre

22/06/20 | São Paulo

Agência Estado 

São Paulo, 18/06/2020 – Com a flexibilização das medidas de isolamento social em diversas cidades do País nos últimos dias, o setor de geração distribuída (GD) solar já trabalha com a perspectiva de uma recuperação dos negócios no segundo semestre. Entre 2018 e 2019, o mercado havia crescido 236,8% no número de instalações de sistemas fotovoltaicos, mas a restrição de circulação imposta pela quarentena desacelerou a taxa de expansão para 79,9% na comparação do acumulado de 2020 com igual período de 2019, registrando taxas negativas nos meses de maio e junho deste ano.

"No mercado de GD solar, um fator muito importante do processo comercial é o aspecto relacional, que é ir lá na casa da pessoa, explicar o negócio. Tem muito processo feito pela internet e pelo telefone, mas uma parte da venda acaba sendo presencial. Com a pandemia do coronavírus, isso foi interrompido e esfriou o mercado", explica o sócio-diretor da SunMobi, Guilherme Susteras, cuja empresa opera no modelo de fazendas solares.

Antes da pandemia, o mercado de GD solar mantinha um ritmo forte de crescimento, muito em função da redução de custos dos equipamentos e da corrida dos consumidores para aproveitar as regras mais favoráveis para o uso da tecnologia, que hoje concede desconto 100% na conta de luz – a intenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é reduzir este incentivo. No primeiro trimestre de 2020, o mercado havia crescido 174,8% frente ao mesmo período de 2019.

Com a diminuição das restrições de circulação nas principais cidades brasileiras, a expectativa é que os instaladores possam retomar as negociações com os potenciais clientes. "Quando o [governador João] Doria anunciou a abertura gradativa em São Paulo, no mesmo dia começou a entrar mais pedidos de orçamento, no mesmo dia começou a se fechar mais venda. Esse foi o primeiro dia em que foi possível notar claramente uma diferença no mercado", conta o presidente do Portal Solar, Rodolfo Meyer, o maior marketplace de GD solar do Brasil e tem que mapeado cerca de 25% de todas as instalações fotovoltaicas do País.

Apesar do aumento do nível do desemprego e da retração da economia, que tornam o consumidor mais cauteloso neste momento de crise, o setor de GD solar aposta em alguns fatores para retomar o crescimento visto anteriormente. Um deles é a redução do preço dos sistemas fotovoltaicos. Com a constante evolução das tecnologias das placas solares, Meyer aponta que os custos dos equipamentos têm caído a uma taxa média anual de 10%.

Em 2020, o executivo aposta em uma queda ainda mais acentuada por força de uma questão conjuntural: a redução da demanda global por projetos de energia solar, em função da pandemia do coronavírus, levou a um excesso de oferta de equipamentos, especialmente de fabricantes vindo da China. "Com isso, os custos dos equipamentos fotovoltaicos devem diminuir em torno de 20% este ano", projeta Meyer.

Mesmo a recente alta do dólar, que impacta no preço final dos produtos, deve ter efeito limitado nos custos em 2020. Diante da oferta demanda pré-crise, Susteras diz que muitos distribuidores adquiriram produtos para revenda ainda quando a cotação do dólar estava mais baixa. Com a redução do número de projetos no Brasil, muitos destes equipamentos ainda estão em estoque.

"Ainda não sabemos como será a resultante destes fatores, até porque a questão do excesso de capacidade depende de como os países europeus vão incentivar as fontes renováveis pós-pandemia. Mas, no pior cenário, os custos vão ficar tão atrativos quanto eram antes da crise", argumenta Susteras, em referência ao Green Deal europeu, que pretende descarbonizar as economias dos 27 países participantes do bloco até 2050.

Um segundo fator é o maior conhecimento da GD solar fotovoltaica. O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Ronaldo Koloszuk, comenta que toda a discussão promovida pela Aneel em torno dos incentivos para os projetos solares no Brasil trouxe mais informação sobre o tema ao público brasileiro e apresentou ao consumidor uma nova forma de economizar na conta de luz.

"Um terceiro aspecto é o fato de que as linhas de financiamento hoje estão mais baratas do que em anos anteriores", acrescenta Koloszuk. A combinação destes fatores cria um cenário de ciclo virtuoso de retomada da demanda pelos projetos de GD Solar, em meio a um contexto de perspectiva de aumento das tarifas com os impactos negativos da pandemia sobre toda a cadeia do setor elétrico.

Emissão de debêntures

A possível retomada da demanda dos projetos de GD Solar teria potencial para tornar esse segmento um dos principais destinos dos recursos dos investidores com a redução da taxa Selic, hoje em 3% e com perspectiva para diminuir 2,25% ainda este mês nas apostas de instituições financeiras. "O mercado de capitais vai precisar achar um investimento mais atrativo do que a Selic para remunerar os seus recursos e vão ter que ir para a economia real", avalia Susteras.

O executivo aposta que o cenário pode viabilizar a emissão de debêntures para financiar projetos de maior porte, como fazendas solares. Inclusive, como mostrou o Broadcast na última sexta-feira, a publicação pelo governo federal do decreto nº 10.387/20, que amplia o escopo das ofertas de debêntures de infraestrutura e cria novos mecanismos para emissão de debêntures verdes, pode dar novo impulso para os projetos do setor.