03/07/21 | São Paulo
Reportagem publicada no CNN Online
Source fabrica geradores movidos a energia solar que extraem água potável da atmofesra
Mineralização de rios, dessalinização dos oceanos, perfuração de solos. Existem muitas maneiras diferentes de conseguir água potável nos locais onde ela é escassa. Mas com a superpopulação, as mudanças climáticas e a crescente escassez de água, os países estão tendo que buscar novas soluções – e alguns estão convencidos de que a resposta está no ar.
A Source Global é uma das muitas empresas em todo o mundo que extraem água do ar, com a esperança de ajudar comunidades onde ela é escassa. Sua tecnologia, porém, é especialmente sustentável. Chamados de “hidropainéis”, os dispositivos usados por ela no processo são alimentados por painéis solares embutidos.
“É possível coletar água do ar usando energia solar e mais nada, sem precisar de eletricidade, de estar ligado à rede, de infraestrutura. É um processo perfeitamente autossuficiente”, explica Vahid Fotuhi, vice-presidente da empresa para a Europa, Oriente Médio e África.
Os geradores de água atmosférica (AWG, na sigla em inglês), como os usados pela Source, são máquinas que produzem água potável a partir do ar. A tecnologia existe há cerca de uma década e, tradicionalmente, usa a condensação: resfria o vapor de água e coleta as gotículas que forma.
Esse processo, porém, pode consumir muita eletricidade, além de só funcionar em locais com alta umidade. Foram essas restrições que levaram a Source, antes conhecido como Zero Mass Water, a buscar uma solução mais flexível e sustentável.
Com os painéis solares, que alimentam os ventiladores que puxam o ar para dentro do dispositivo, a água potável mineralizada é extraída com energia renovável e zero desperdício.
Pelo mundo
É em Dubai que está o maior pátio produtor da Source. Lá, são produzidos 1,5 milhão de litros de água todos os anos. A companhia planeja ainda criar uma marca de água engarrafada sem plástico e vendê-la para hotéis e resorts, por um preço parecido ao de outras marcas de garrafinhas de água.
A Source já instalou seus hidropainéis em hospitais, escolas e escritórios de vários lugares do mundo com dificuldade de acesso à água. Também está atraindo clientes comerciais – principalmente em países que atendem turistas em paisagens isoladas, como o deserto.
“No Oriente Médio, há muito interesse do setor de hotelaria, com grandes marcas buscando cada vez mais soluções sustentáveis, de olho nas gerações mais novas”, disse Fotuhi.
Está em Dubai o maior projeto turístico da Source, em um luxuoso acampamento no deserto onde os geradores produzem água potável no local. O próximo será na costa do Mar Vermelho, na Arábia Saudita, onde uma empresa que planeja construir 18 hotéis pretende servir a água extraída pelos painéis da Source.
Fotuhi acredita que isso mostra o potencial de expansão desses geradores, que poderiam ir de grandes resorts até pequenas instalações em uma casa de família.
Combatendo a escassez
Mais de 2 bilhões de pessoas vivem hoje em países com alta restrição hídrica. Geradores como os fabricados pela Source e as dezenas de outras empresas do ramo ajudam, mas não serão eles que vão acabar com a crise.
De acordo com Keith Hays, vice-presidente da consultoria especializada em desafios hídricos Bluefield Research, trata-se ainda de um processo muito caro. De acordo com ele, levará cerca de 10 anos para que os geradores de água atmosférica sejam competitivos em termos de custos, além de produzirem só uma fração da água que um poço ou sistema de dessalinização do mar é capaz de fornecer.
Hays defenda que os geradores de água a partir do ar são mais eficientes quando combinados a outras fontes. “Eles podem ser vistos como um complemento aos sistemas de água potável existentes, reduzindo a pegada de plásticos e oferecendo suporte auxiliar”, disse.
É um desafio que Fotuhi reconhece, explicando que os geradores precisam estar próximos da torneira ou da central de engarrafamento que usarão, o que nem sempre é possível. Mas o executivo da Source acredita os benefícios ambientais são claros.
“Olhando para a economia gerada, de uma perspectiva ambiental e da sustentabilidade, a proposta de valor continua muito forte”, diz Fotuhi.