Conta de luz já teve três reajustes consecutivos em 2021

11/08/21 | São Paulo

Reportagem publicada no Canal Solar

Entre janeiro e julho, o valor da cobrança extra de energia saltou de R$ 1,34 para R$ 9,49 para cada 100 kWh consumidos

O desabastecimento dos principais reservatórios brasileiros em meio à crise hídrica provocou três reajustes consecutivos na conta de luz neste ano. É o que aponta um levantamento do Canal Solar, com base em relatórios publicados pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Em janeiro, quando a bandeira vigente no país era a amarela, a cobrança extra de energia era de R$ 1,34 para cada 100 kWh consumidos. O valor permaneceu estagnado até o dia 30 abril, quando o primeiro reajuste foi anunciado, com o acionamento da bandeira vermelha, no patamar 1, a um custo de R$ 4,16 para cada 100 kWh.

Cerca de um mês depois, em 28 de maio, veio o segundo reajuste nas faturas de todo o país, com a bandeira tarifária mudando de patamar: saindo da vermelha 1 para a vermelha 2, a mais cara de todas. O novo valor, com isso, subiu para R$ 6,24 para cada 100 kWh consumidos.

O terceiro e último reajuste ocorreu em 29 de junho, com o anúncio de um aumento de 52% em relação ao valor que vinha sendo praticado anteriormente. O anúncio foi dado pela ANEEL dias após a entidade ter aprovado a resolução que estabelecia um novo tabelamento do valor das bandeiras. Com isso, o preço passou dos R$ 6,24 para R$ 9,49.

Há menos de um mês, a Agência abriu uma consulta pública para decidir se a taxa da bandeira vermelha, no patamar 2, em agosto, continuaria em R$ 9,49 ou se seria aumentada para R$ 11,5 por cada 100 kWh, justamente, em virtude da crise hídrica atual, que é a pior dos últimos 91 anos. Na ocasião, apesar da discussão, a entidade achou por bem não aumentar a tarifa pela quarta vez no ano.

A inflação oficial no país, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), subiu 0,98% em julho, registrando o maior resultado para o mês desde 2002, quando ficou em 1,19%. Ao todo, o indicador acumula agora uma alta de 4,76% desde o começo do ano e de 8,99% nos últimos 12 meses, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em julho. A maior variação (3,10%) e o maior impacto vieram do grupo habitação, por causa da alta da energia elétrica (7,88%), que acelerou 1,95% em relação ao mês anterior. O único grupo que registrou queda foi o de saúde e cuidados pessoais (-0,65%), influenciado pela redução de 1,36% dos preços dos planos de saúde.

Com o país encurralado pela bandeira vermelha, por uma inflação cada vez maior e por uma conta de luz cada vez mais salgada, profissionais do setor de energia alertam que é preciso diversificar a matriz energética nacional o mais rápido possível.

Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica),por exemplo, defende a geração própria de energia solar como um fator fundamental para melhorar a economia e eliminar os riscos de racionamento de energia a curto prazo no país.

“Está claro que a energia solar é uma parte importante da solução para esta crise energética que vivemos. É uma fonte dez vezes mais barata do que as termelétricas que estão sendo ligadas o tempo todo, onerando a conta de luz dos brasileiros e trazendo um impacto nefasto para toda a economia”, disse.

Saiba mais: ONS aponta que Brasil terá déficit de potência elétrica em novembro.

Na opinião do executivo, a fonte fotovoltaica também vem sendo uma peça fundamental na diversificação do suprimento de eletricidade. Ele explica, por exemplo, que sistemas solares em telhados e pequenos terrenos já representam mais de 40% de toda a potência instalada da usina hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior do mundo.

“Até hoje, com praticamente nenhum incentivo, o Brasil já tem cerca de 40% da usina de Itaipu em energia solar em geração distribuída. É nítido, que se houver incentivos governamentais, as pessoas vão investir e isso vai ajudar a reduzir a conta de luz de todos os brasileiros, porque vai se usar menos bandeiras vermelhas e termelétricas, além de gerar mais suprimento de energia”, frisou.

Criada pela ANEEL há seis anos, a bandeira tarifária é um sistema que aplica uma cobrança adicional na conta de luz sempre que ocorre um aumento do custo da produção de energia no país. O objetivo é fazer com que o acréscimo pague o uso mais intenso das usinas termelétricas.

O funcionamento é simples: as cores verde, amarela ou vermelha (nos patamares 1 e 2) indicam se a energia custará mais ou menos em razão das condições de geração. Quando a produção nas usinas hidrelétricas está favorável, aciona-se a bandeira verde, sem acréscimos na tarifa. Em condições ruins, podem ser acionadas as bandeiras amarela, vermelha 1 ou vermelha 2.

Vale lembrar que os valores das bandeiras tarifárias são atualizados todos os anos e consideram como cálculo base parâmetros como estimativas de mercado, inflação, projeção de volume de usinas hidrelétricas, histórico de operação do SIN (Sistema Interligado Nacional), além dos valores e limites do PLD (Preço de Liquidação das Diferenças).