19/11/22 | São Paulo
Reportagem publicada pelo Jornal Folha1
O Brasil tem pressa em começar a produzir hidrogênio verde e energia elétrica a partir dos aerogeradores que serão instalados no mar (eólicas offshore). O assunto foi debatido no dia 10 de novembro durante o painel Infraestrutura de Apoio à Transição Energética, no pavilhão brasileiro montado na COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito. O Porto do Açu, em São João da Barra, também foi citado em meio a temática.
“Precisamos acelerar [o processo de implantação de empreendimentos de energia limpa] porque todos países querem liderar esse processo. Muitos países têm condições de liderar, mas talvez o Brasil seja o país que reúne as melhores condições para liderar [esse segmento]”, disse a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum. Ela se referia, em especial, às pretensões brasileiras de produzir hidrogênio verde a partir da energia eólica gerada pelas offshore, que são os aerogeradores instalados no mar.
De acordo com a assessora especial do Ministério do Meio Ambiente (MMA) Roberta Cox, que também participou do debate, as ações do governo, no sentido de desburocratizar as autorizações para a instalação desses empreendimentos, têm avançado de maneira satisfatória, com a publicação de portarias que regulamentaram o decreto de cessão de uso de áreas marinhas.
“Uma das portarias, inclusive, criou o PUG-offshore, que é o Portal Único para Gestão do Uso de Áreas Offshore para Geração de Energia. Até então, no processo de cessão do uso de áreas marinhas, empreendedor e ministério tinham de passar por nove órgãos para terem a autorização. Agora fazemos isso em apenas um balcão único, a exemplo de outros países. O PUG dispara tudo para os outros órgãos”, explicou a representante do Ministério do Meio Ambiente.
Na avaliação da presidente da ABEEólica, “do lado das offshore estamos caminhando muito bem”, com a regulamentação estabelecida a partir das publicações do decreto e das portarias que tratam do assunto. “Agora vamos trabalhar fortemente para termos o primeiro leilão de seção de uso do mar, o que deve acontecer no ano que vem. Daí, o MMA poderá, enfim, fazer o licenciamento ambiental dos parques eólicos”, disse Elbia.
Segundo ela, os projetos visando a produção de hidrogênio verde também estão sendo encaminhados. A denominação hidrogênio verde ocorre quando a eletricidade usada na eletrólise da água, visando a extração do hidrogênio, vem de fontes de energia renováveis como eólica, fotovoltaica e hidrelétrica. Pode também ser obtido por hidroeletricidade e por biomassa de rejeito.
Elbia Gannoum explicou que eólicas, offshore e hidrogênio verde têm relação entre si, “mas são interdependentes”, uma vez que o país tem à sua disposição outras fontes renováveis não danosas ao meio ambiente, o que torna este combustível ainda mais atraente para os investidores.
“O Brasil precisa entender essa oportunidade e ver esses investimentos como fator fundamental para o crescimento do país. Com energias renováveis, vamos gerar emprego, renda; vamos investir em tecnologia e capacitação, além de fazer pesquisas em desenvolvimento e inovação. É um pacote de beneficio de externalidades positivas que temos para atrair investimentos. Não podemos perder nenhum minuto para fazer com que o país realmente aproveite essa oportunidade”, defendeu.
Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio verde tem despertado interesse cada vez maior no exterior por seu consumo e produção não serem prejudiciais ao meio ambiente.
Para ter o selo verde é fundamental que o hidrogênio seja produzido e transportado sem o uso de combustíveis fósseis ou de outros processos prejudiciais ao meio ambiente. Sua produção requer o uso de muita energia, em especial para retirar, por hidrólise, o hidrogênio que é encontrado na água.