COP27: Transição energética no Nordeste deve incluir comunidades rurais

18/11/22 | São Paulo

Reportagem publicada pelo Globo Rural

Região tem alto potencial para instalação de energia solar e eólica, mas especialistas avaliam que matriz renovável precisa incluir promoção social

O potencial brasileiro em energia solar e eólica foi destacado durante Conferência do Clima (COP27), em meio a discussões sobre mudanças para uma matris energética de baixo cabono. Uma questão, no entanto, chamou a atenção e foi destacada por especialistas no assunto, em Sharm el-Sheikh, no Egito: o impacto de investimentos e instalações de estruturas nas comunidades rurais.

O Nordeste é a região brasileira que desponta em aptidão para receber grande parte desses investimentos. Segundo Delcio Rodrigues, diretor executivo do Climainfo, os valores estimados estão na casa dos bilhões de reais. Mas para que a transição energética seja realmente sustentável, diz ele, deve beneficiar a população do local. Foi a partir desta necessidade que foi criado o Plano Nordeste Potência.

“O Plano Nordeste Potência tem como principal objetivo fazer com que as comunidades nordestinas, principalmente as rurais, tenham benefícios a partir desses investimentos. Hoje, a maior parte dessas comunidades tem tido problemas”, comenta, em depoimento para a Globo Rural

Delcio conta que o plano prevê capacitação para gerar empregos a partir dos novos investimentos, bem como regulação para as instalações de torres eólicas e painéis solares. “Envolve uma série de medidas de política pública para que, efetivamente, esses investimentos de porte transformem a vida dessas pessoas para melhor”, diz.

O plano já havia sido apresentados a atuais governadores de estado e a candidatos eleitos neste ano. Segundo Delcio Rodrigues, a ideia de apresentar o Nordeste Potência foi apresentado na COP27 foi levar a discussão do ponto de vista social para a indústria global de energia eólica e solar.

“A gente precisa fazer com que a energia renovável, que vai nos permitir salvar o clima do planeta, também seja benefício e traga redução das desigualdades nas sociedades dos países em desenvolvimento”, comenta.

Mais investimentos

O plano chega em um momento de expectato de aumento de investimentos em energia eólica, solar, hidrogênio verde e bicombustíveis aumentem nos próximos anos. Algo que foi indicado, inclusive, pelo governo eleito. Em seu discurso na COP27, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva também comentou que País tem grande potencial para energia de baixa emissão, “em particular no Nordeste brasileiro, que apenas começou a ser explorado”.

Também participando das discussões da COP27, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, mencionou que 94% de toda a energia produzida no Estado é advinda de fontes renováveis. Estão em construção 44 usinas de energia eólica, além de 73 já contratadas, possibilitando o RN atingir a marca de 12 GW de potência instalada até o final de 2025, o que equivale a 70% da potência instalada de Itaipu, maior hidrelétrica brasileira.

Ela ponderou que a transição da matriz energética e o enfrentamento às mudanças no clima “devem estar associadas à promoção da cidadania, o que significa trabalho e melhor qualidade de vida para nossa população”, disse ela, para quem a “indústria verde” é algo que “irá produzir no mar, energia, hidrogênio e amônia verde”.