18/08/21 | São Paulo
Reportagem publicada no Estadão
Brasil segue tendência mundial e investe no setor
Em tempos de crise de energia no Brasil e mudanças climáticas em todo o mundo, vários países decidiram mergulhar no desenvolvimento e nas aplicações de sistemas de armazenamento de energia. No Brasil, esse caminho é fundamental, uma vez que permite o uso combinado de várias fontes de energia limpa, como a solar, eólica e hídrica.
Segundo a consultoria internacional Wood Mackenzie, que monitora o setor em todo o mundo, a quantidade de energia armazenada no planeta inteiro deve crescer uma média anual de 31% até 2030, o que vai significar uma armazenagem de 741 gigawatts-hora.
No Brasil, os números apresentados em um estudo da Greener e da NewCharge mostram que a capacidade instalada em 2030 poderá chegar a 18 gigawatts-hora. O que deverá gerar um faturamento de R$ 40 bilhões.
“O armazenamento é a chave para o forte crescimento das energias renováveis. A questão é se o armazenamento pode capturar fluxos de receita estáveis de longo prazo. O armazenamento de baixo custo e de longa duração pode competir cada vez mais com o carvão, o gás natural e a hidrelétrica, permitindo níveis mais altos de penetração solar e eólica”, afirmou Le Xu, analista sênior da Wood Mackenzie, durante o lançamento do estudo da consultoria internacional.
Os sistemas de energia, que vieram para ficar, são formados por três conjuntos básicos de equipamentos. As próprias baterias, os dispositivos que ajudam a regular os níveis de carga armazenada e um terceiro aparelho que transforma a energia estocada nos níveis de tensão, corrente e frequência adequados. Os especialistas do setor, tanto da academia quanto da iniciativa privada, são unânimes em dizer que o armazenamento em bateria vai provocar uma importante mudança no sistema elétrico mundial.
Entre as vantagens dessa tecnologia, o que é muito importante para o Brasil, está a possibilidade de, na origem, na geração elétrica, ocorrer a integração de fontes renováveis intermitentes como a solar e a eólica. O armazenamento pode ser aplicado na geração, na transmissão e na distribuição. A maioria dos projetos piloto em curso até agora, e vários estão sendo feitos na iniciativa privada em parceria com órgãos de pesquisa, mostra que a segurança na geração e a qualidade da energia estão garantidas. Além disso, como se pode jogar energia armazenada nas redes durante os momentos de pico, o modelo tarifário brasileiro também poderá evoluir nos próximos anos, à medida que os sistemas de armazenamento forem avançando. Ou seja, a energia deve ficar mais barata.
Atualmente, um dos maiores projetos de armazenamento de energia em montagem no País é o da Vale. O objetivo é colocar para funcionar um conjunto de dispositivos que vão ter a capacidade de estocar até 10 MWh, o que, na prática, vai diminuir a conta de energia da empresa durante o horário de pico. A companhia pretende usar baterias de íon-lítio, uma das principais tecnologias que estão sendo desenvolvidas em termos mundiais atualmente. Nem sempre sem risco, como mostrou o incêndio recente em uma das maiores unidades de produção desse tipo de bateria no mundo, da Tesla. O fogo na planta da Austrália demorou três dias para ser controlado.
No caso brasileiro, um dos gargalos que precisam ser enfrentados, segundo as empresas, é o da regulamentação do setor, que ainda tem muitas arestas para serem aparadas. Em paralelo às questões regulatórias, o avanço científico e tecnológico tem sido significativo. Em 2017, a Aneel aprovou 23 projetos de pesquisa e desenvolvimento para o setor. Atualmente, eles estão em fase de implantação. Vários grupos em universidades como USP, Unesp e Unicamp e em outros Estados brasileiros trabalham em projetos de inovação voltados para o armazenamento de energia também.
Getty Images
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