12/08/20 | São Paulo
Diferentemente de outros setores da economia que sentiram os efeitos negativos provocados pela pandemia do coronavírus, o mercado da energia solar continua aquecido e em pleno desenvolvimento. Em Rio Preto, empresários do ramo não registraram o crescimento esperado para o ano, mas ainda assim comemoram o bom momento.
Atualmente, a cidade é a quarta maior do Estado em geração de eletricidade a partir do sol, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No mês de julho, a potência total de produção em Rio Preto foi de 7,3 mil kilowatts (kW), atrás apenas de Campinas (9,4 mil kW), Ribeirão Preto (8,9 mil kW) e São Paulo (8,6 mil kW).
Além do ganho ambiental, a vantagem econômica impulsiona a adesão a fontes renováveis. Há cinco anos, a cidade possuía apenas 57 unidades geradoras de energia solar. Agora, esse número saltou para 1.073. Apenas em 2020, a Aneel registrou a instalação de 391 unidades geradoras de energia na cidade, número que já representa 94% dos equipamentos que foram instalados no ano passado inteiro (412).
A energia solar é uma energia limpa e renovável, que não agride o meio ambiente. Mas, apesar dos benefícios que proporciona para o planeta é o benefício no bolso que tem atraído cada vez mais interessados, afirma Arthur Santini, diretor da Ecori Energia solar, empresa que atua na importação e distribuição de painéis solares e componentes.
"O fato de ser uma energia sustentável acaba sendo meio que um bônus. Ninguém gosta de receber conta de energia e esse incômodo é o que faz as pessoas procurarem outras alternativas", destaca Santini.
Nos seis primeiros meses do ano, Rio Preto importou aproximadamente US$ 7 milhões em dispositivos fotossensíveis e semicondutores, que incluem as células fotovoltaicas montadas em módulos ou painéis – utilizados para a captação da energia solar. O montante representa 17% de tudo o que foi importado por Rio Preto no período.
Apesar de não terem sido diretamente atingidos pela pandemia, a crise provocada pelo coronavírus afetou a expectativa de crescimento da empresa. "Nós tivemos uma queda de 40% a 60% sobre as expectativas que tínhamos para o ano. Ainda assim, só nesse primeiro semestre já conseguimos atingir o nosso faturamento do ano passado inteiro", explica Santini.
A busca pela energia solar deve ser cada vez maior nos próximos anos, explica Flávio Rodrigues, proprietário da LumenSol, empresa especializada no mercado de instalações elétricas. "Desde os anos anteriores vinhamos num ritmo crescente nos trabalhos em geral, já nestes seis primeiros meses do ano tivemos uma pequena redução nos projetos e instalações elétricas, mas um crescimento em energia solar fotovoltaica que compensou a falta dos outros serviços", afirma Rodrigues.
O empresário explica que no início, a maioria de painéis solares eram instalados em residências, que exigiam um investimento menor. "Agora, com o aumento da eficiência do sistema e barateamento do preço do painel, muitas fábricas e indústrias têm nos procurado sabendo que é a melhor forma de cortar custos para se manterem competitivas no mercado", reforça.
São três os principais motivos que fizeram a energia solar se popularizar no Brasil nos últimos anos afirma Bárbara Rubim, vice-presidente de geração distribuída da Associação Brasileira de Energia solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Ela esclarece que a alta nas tarifas de energia, a possibilidade de alugar energia de usinas solares e a queda no preço do sistema fotovoltaico impulsionaram o setor. "A tecnologia vem se consolidando ao longo dos anos e isso tem levado efetivamente a uma queda no valor do investimento necessário. Esses três elementos são estruturantes para esse crescimento", destaca.
Apesar do aumento da adesão à geração de eletricidade a partir do sol, o número de consumidores ainda é considerado muito baixo. Em todo o Brasil são 300 mil unidades consumidoras de energia solar, dentro de um universo de 84 milhões de consumidores que poderiam fazer uso da geração própria. "Apesar da energia solar ter crescido muito ao longo dos últimos anos, ela ainda tem uma taxa de penetração muito pequena e que está aquém do potencial brasileiro. O que esperamos é um crescimento maior para os anos seguintes", diz Bárbara.
Mais barato
Desde o dia 1º de agosto, o governo federal reduziu a zero a alíquota do imposto de importação para alguns produtos que compõem os equipamentos necessários para a implantação de unidades geradores de energia solar. No entanto, ainda não é possível confirmar se essa redução será sentida pelo pequeno consumidor. "É difícil dizer se essa isenção vai efetivamente chegar até o consumidor final, pelo perfil dos equipamentos que receberam o desconto, que não atendem ao perfil de usinas de pequeno porte", esclarece a vice-presidente de geração distribuída da ABSOLAR.
Economia no bolso
O engenheiro civil Abrão Salem Neto, 48 anos, acreditava que trocar a energia elétrica convencional pela solar era algo ainda bastante distante da realidade dele, até ficar incomodado com a conta de luz. Ele conta que a família formada por quatro pessoas estava gastando entre R$ 700 e R$ 900 por mês com energia elétrica. "Era uma conta muito alta. Em casa, usamos muito ar-condicionado, temos balcão refrigerado, por isso a conta vinha nesse valor", comenta.
Influenciado por um amigo, ele recorreu às instalações fotovoltaicas no início desse ano. Já foram três meses desde a instalação que ele notou redução no valor da conta. "Tive redução parcial em uma conta e integral outras duas. Agora, passei a pagar R$ 146. Foi uma coisa espantosa, não tem como dizer que não é um bom negócio", afirma.
Rodrigues reforça que migrar para a energia renovável está entre os melhores investimentos do mercado, já que, em média, o retorno do valor gasto é de cinco anos – o que pode diminuir ainda mais com a nova medida de exclusão de algumas tarifas de importação.
"Isso indica que além de uma obra sustentável é uma ótima opção de aplicação financeira, pois calculando a taxa de retorno que se tem sobre o investimento chegamos a valores em torno dos 15%, o que aponta uma rentabilidade que fica entre os quatro primeiros fundos de investimento que mais renderam de março de 2019 a março de 2020".