21/09/16 | São Paulo
O intenso desenvolvimento tecnológico para buscar formas cada vez mais eficientes de armazenar energia é fundamental para a inserção de fontes mais limpas de geração – como eólica e solar – na matriz energética brasileira.
Embora eficientes, essas fontes são intermitentes, o que pode colocar em risco a segurança energética. Garantir o armazenamento da energia gerada para momentos de queda da produção é a chave para tornar os combustíveis fósseis cada vez menos competitivos.
A avaliação é do diretor de desenvolvimento de tecnologia e mercado da Abaque (Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia), Alexandre Bueno: "A descarbonização é mundial e irreversível."
Para Bueno, o grande gargalo para uma real expansão do uso de fontes renováveis é garantir a segurança no fornecimento de energia, possível com o armazenamento. Em todo o mundo, há como armazenar 190 gigawatts, mas nada relevante ainda no Brasil, que conta majoritariamente com a energia hidrelétrica. "Isso mostra o potencial desse mercado.
Para Alexandre Bueno, a descarbonização é mundial é irreversível. Já Fernandez-Pita diz que ainda falta investimento para a energia solar
O avanço tecnológico é preocupação também das empresas do setor. A vice-presidente de desenvolvimento estratégico da AES Eletropaulo e presidente da AES Ergos, Teresa Vernaglia, avalia que esse negócio, que sempre contou com mercado cativo e baixo desenvolvimento tecnológico, passa hoje por uma revolução semelhante a vivida pelas telecomunicações há alguns anos.
"A inovação é aposta. Para continuar tendo posição no mercado precisamos trazer para perto pessoas para inovar conosco". Dentro dessa ideia a AES criou uma aceleradora de startups para buscar novos modelos de negócio em armazenamento de energia, mas também em internet das coisas, geração distribuída, eficiência energética e veículo elétrico, tudo com recursos regulatórios previstos para pesquisa e desenvolvimento.
Segundo Teresa, a tecnologia também pode ser usada para combater fraudes, ou "gatos", que causam as perdas não-técnicas das empresas de energia. Os smart grids, ou redes inteligentes, são os sistemas de distribuição e transmissão de energia elétrica que usam recursos de Tecnologia da Informação (TI).
Um dos pontos dessa rede são os medidores inteligentes, capazes de captar o comportamento de consumo de um determinado cliente e acusar quando algo sair da normalidade, o que poderia ser indício de fraude. As perdas das empresas são repassadas integralmente aos consumidores. Então todos ganham.
Ganho de eficiência
Para Teresa Vernaglia, a aposta é na inovação. Já Sandro Yamamoto, o Brasil é rico em recursos naturais e inteligência.
A tecnologia também favorece as fontes limpas de energia não só no armazenamento, mas também na produção. Instrumentos com laser são capazes de medir ventos de forma mais precisa, aumentando a previsibilidade da produção de acordo com o padrão dos ventos.
"Isso ajuda a reduzir muito a intermitência da energia eólica. Sabemos, por exemplo, que no Nordeste 90% do tempo os ventos sopram na mesma direção. Há como prever constância e potência", explica Sandro Yamamoto, diretor técnico da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica). "Somo ricos em recursos naturais, mas também em inteligência para contornar os problemas."
Yamamoto conta que em 2014, quando houve falta de energia findo das hidrelétricas e as termelétricas foram acionadas, elevando a conta de luz dos consumidores, o uso da eólica respondeu por uma economia de R$ 6 bilhões nessas contas. "A bandeira poderia sido mais vermelha ainda. Há muito espaço para todas as fontes de energia.
Na energia solar há um campo ainda maior a ser explorado, explica Luis Fernandez-Pita, vice-presidente da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). Cada megawatt instalado pode gerar 30 empregos diretos e 90 indiretos. Mas, embora a regulação beneficie a energia solar, ainda falta financiamento, segundo Fernandez-Pita.
Ele se queixa também da falta de isonomia tributária entre os componentes dos sistemas solares, que torna o produto nacional caro. "A energia solar é fundamental nos projetos de geração distribuída, que permite democratizar a energia", afirma. A geração distribuída permite produzir energia no local do consumo.
Os executivos participaram do seminário Diálogos Capitais: Energia Limpa, que aconteceu nesta sexta-feira 16, em São Paulo.