Do sol a energia para o desenvolvimento rural no Sul de SC

03/01/22 | São Paulo

Reportagem publicada pelo Portal Litoral Sul

Quando olha para o horizonte, Márcio Dominguini vê na propriedade em que produz tilápias com o cunhado, Valdecir Antônio Alvez, uma paisagem diferente. Próxima as casas onde eles vivem no bairro São Domingos em Criciúma e dos açudes onde produzem os peixes, cerca de quatro fileiras de placas solares chamam a atenção.

Entre em nosso grupo e receba as notícias no seu celular. Clique aqui .

Do sol, veio a redução de custos na conta de energia da propriedade. Foi em 2019 que Márcio e Valdecir decidiram, com apoio da EPAGRi no projeto, implantar a energia fotovoltaica na propriedade.

“Foi feito um acompanhamento, o rapaz que fez os projetos explicou que levaríamos em torno de 10 anos para pagar o investimento com a geração de energia e as placas tem validade de 20 anos. Foi visto que era uma coisa muito benéfica”, conta Márcio.

Márcio e o cunhado Valdecir instalaram painéis solares na propriedade em que criam tilápias e tiveram redução no valor da conta de energia – Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

A produção de energia através do sol ainda não supre toda a demanda das casas e dos açudes. Porém já é um grande alívio quando chega a fatura. “Ainda não supre tudo, mas dá um bom desconto por mês. Quando não tínhamos tinha mês de pagar R$4 a R$ 5 mil reais de energia. Daí ela vai abatendo. Em maio desse ano, por exemplo, nós zeramos a conta de energia”, conta Márcio.

São quatro casas, aeradores e bombas de seis açudes que utilizam a energia fotovoltaica na propriedade. A propriedade produz cerca de 60 a 70 toneladas por ano de tilápia. “Eu consigo ver quanto as placas solares estão produzindo de energia em um aplicativo no celular”, explica Márcio.

O caso da propriedade de Márcio e Valdeci, atualmente, não é uma exceção. Devido a fatores como redução de custo, incentivos governamentais em linhas de financiamento e redução de custos diversas propriedades rurais do Sul de Santa Catarina já contam com energia fotovoltaica.

“Do ano de 2020 para 2021 houve um incremente violento pelo menos dos projetos que passam pela Epagri”, explica o engenheiro agrônomo da Epagri na Regional Sul, Fernando Damian Preve Filho.

Em 2020 foram realizados cerca de 11 projetos pela Epagri Sul, já neste ano esse número passou para 32 projetos.

“Na questão fotovoltaica na Epagri considerando as regiões de Araranguá e Criciúma fizeram 11 projetos, mais ou menos R$1 milhão e 200 mil reais em 2020. Já se analisarmos 2021 esse número saltou para praticamente 32 projetos de energia fotovoltaica com cerca de R$ 3 milhões”, explica. “Estou falando de projetos que passaram pela Epagri. Então, esse número deve ser bem maior”, completa.

Do Sul de SC para o mundo

Quando os agricultores e irmãos Luiz Pizzoni e Carlos Cesar Pizzoni instalaram o sistema de captação de energia solar para o aviário deles em Timbé do Sul, não imaginavam que ganhariam o mundo.

A propriedade dos irmãos se transformou em referência de sustentabilidade e foi apresentada na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP 26), que ocorreu em novembro, na cidade de Glasgow, na Escócia.

“Foi uma surpresa muito boa, termos uma propriedade da agricultura familiar representando o Brasil em um evento mundial tão importante. Isso foi muito prazeroso”, conta Luizinho. “No começo, o pessoal do Banco nos procurou, não percebemos a importância do que seria”, completa.

Os irmãos Luiz e Carlos utilizam a energia fotovoltaica no aviário que possuem e viraram caso internacional – Foto: Divulgação/Epagri

Os irmãos utilizaram uma linha de financiamento do Banco do Brasil para a instalação da rede fotovoltaica. Desta forma, foi uma a única do Sul de Santa Catarina escolhida pelo banco em todo o país para serem exemplos na COP 26.

“O Branco do Brasil tem uma meta de difundir essa tecnologia. Eles escolheram alguns projetos no Brasil para fazer entrevista e exibir na Cop 26. O de Timbé foi um dos escolhidos. Ele é um dos projetos referência no Brasil em energia solar”, explica extensionista rural da Epagri, Filipe Kinalski, que elaborou o projeto para os irmãos em 2020, sendo implantado em maio de 2021.

Os agricultores investiram R$ 320 mil para a implantação da energia fotovoltaica com geração prevista de 83,49 kWp. Valor este conseguido através da linha de crédito Pronaf Bioeconomia, com juros anuais de 3% ao ano. Além disso, eles receberam subvenção do programa Menos Juros, da Secretaria da Agricultura, da Pesca e de Desenvolvimento Rural de SC, de 2,5% dos juros limitados a R$100mil.

“Em maio foi ligada na rede elétrica, até o mês passado ele abasteceu só o aviário. Agora já estou com crédito na concessionária e vou começar a usar na minha casa. Se tiver sobra vai passando para outras propriedades que estejam com a conta de energia em meu nome”, conta Luizinho.

No aviário dos irmãos são alojados uma média de 58 mil frangos por lote durante o ano. Além disso, eles cultivam brócolis, couve-flor e arroz no sistema pré-germinado em uma propriedade de 11,2 hectares.

“Nesses últimos seis meses que estamos com o sistema ligado, tivemos uma economia de cerca de R$ 4 mil reais por mês, em um total de em torno de R$24 mil reais”, ressalta Luizinho.

Benefícios da energia fotovoltaica

Um dos benefícios mais importantes da energia fotovoltaica é a questão ambiental, por ser uma energia renovável, limpa e sustentável. Além disso, os painéis solares apresentam longa vida útil e podem reduzir os custos na conta de energia.

“Vantagens de redução da conta de energia, vantagem da baixa manutenção. É basicamente fazer a limpeza dos painéis. Os painéis como um todo dificilmente dão problema e a garantia de desempenho é de 25 anos. Então, a vida útil longa é, também, uma vantagem ”, explica o engenheiro eletricista, Jesiel da Luz Ferro, que já atuou na área.

Recomenda-se, segundo ele, que a limpeza do painel solar seja realizada em intervalos de seis meses, mas a frequência de limpeza varia de acordo com o local de instalação e inclinação dos painéis.

Número de projetos de financiamento através da Epagri para instalação de painéis solares no campo cresceu de 11 para 34 em 2021 no Sul de SC – Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

Placas solares geram energia sem Sol?

A pergunta é uma das mais frequentes quando se fala sobre energia solar. E a resposta é sim. Porque as placas solares geram energia baseada na radiação do sol. Desta forma, mesmo em dias de chuva, as placas produzem energia. Segundo Jesiel, obviamente que em dias ensolarados as placas produzem mais energia que em dias nublados ou chuvosos.

“Tem Sol todo dia, vai ter geração todo dia. Até em dias chuvosos acaba gerando, mas vai gerar menos, porque a irradiação será menor. O Sol fica “coberto” pelas nuvens, mas ainda se aproveita um pouco da radiação solar e acaba gerando um pouco de energia. ”, explica o engenheiro.

Quais os passos para instalação da energia solar?

Primeiro passo é a realização de um projeto para o local onde será instalado. Incluindo um estudo de previsão de quanto tempo levará para o sistema ‘se pagar’. Desta forma, determinando, também, a viabilidade ou não da instalação das placas solares.

“Em quase todos os casos vale a pena a instalação”, ressalta o engenheiro.

No projeto, também, é determinado o local que serão instaladas as placas. Sendo que o a localização geográfica, o posicionamento e a inclinação são determinantes para a quantidade de energia que elas irão produzir.

Existem, basicamente, dois tipos de sistemas de instalação. Um em que a energia gerada pelas placas é armazenada em baterias, sem estar conectado a rede elétrica da concessionária de energia. Outro, que é o mais utilizado no Brasil, em que o sistema é diretamente ligado à rede elétrica.

“Neste caso tem que haver autorização da concessionária e após a instalação, eles devem trocar o medidor de energia para um medidor bidirecional que mede a quantidade de energia que é consumida da rede pela propriedade e a quantidade que é injetada na rede”, explica Jesiel.

Esse último modelo foi possível devido a uma nova legislação que permitiu a ‘venda’ de energia elétrica. Desta forma, se uma casa ou propriedade produzir mais energia do que consome, ela ficará com créditos na fatura da concessionária.

“O projeto é feito baseado na média mensal de consumo do consumidor. Projeta-se um sistema que seja capaz de suprir esta necessidade. Nos meses de verão, onde a geração é maior, é provável que se gere mais energia do que consuma. Neste caso, irá “sobrar” energia, ou seja, o cliente ficará com saldo em sua fatura. Este saldo pode ser utilizado, por exemplo, em meses em que o consumo for maior que a geração.”, finaliza o engenheiro.