ELEIÇÃO: Crescimento garantido

19/02/15 | São Paulo

Recharge News

Independente de quem ganhe as eleições presidenciais brasileiras, os setores eólico e solar continuam otimistas e preveem forte crescimento nos próximos anos.

A três dias do pleito, as pesquisas mostram que Dilma Rousseff do PT retomou a liderança com cerca de 40% dos votos enquanto Marina Silva, do PSB, que estava empatada com a presidente há duas semanas, tem agora cerca de 25%. Em terceiro lugar, vem Aécio Neves do PSDB, com cerca de 20%.
 
Em um possível segundo turno – se nenhum candidato tiver mais de 50% dos votos válidos
– as pesquisas confirmam o favoritismo de Dilma, que agora tem cerca de 10% a mais que Marina que, recentemente, chegou a liderar por uma pequena margem. Segundo as pesquisas, Dilma também venceria Aécio Neves pela mesma diferença.

“Não importa quem for presidente, o setor vai continuar a ser incentivado como um complemento à matriz elétrica brasileira”, disse Élbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).

De um lado, o país precisa cada vez mais de energia já que o consumo de eletricidade deve crescer cerca de 4% ao ano. Do outro, os dois pilares do setor eólico garantem a estabilidade: PPAs (contratos de energia) de 20 anos conquistados nos leilões recentes e as políticas de conteúdo local, que obrigaram fabricantes internacionais a fazer investimentos de longo prazo no país.

A energia eólica está em franca expansão. Insignificante em 2009, a capacidade eólica brasileira já passou a marca dos 5GW, ou 4% da matriz elétrica, este ano e caminha para chegar a 14GW em 2018, garantidos por contratos obtidos nos leilões anuais e gerando mais de 70 mil empregos ao longo do caminho.

Tamanho foi o sucesso da fonte, que ela foi incluída nos planos deca-anuais de expansão de forma significativa, inclusive no último que prevê 24GW de capacidade eólica instalada até 2023.

“Não podemos deixar de ser otimistas quando olhamos para trás. Hoje, a indústria está consolidada e tem a perspectiva de ser uma fonte competitiva a longo prazo”, lembrou Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis da Greenpeace no Brasil.

Historicamente, as hidrelétricas têm fornecido no mínimo 70% da energia. Mas, hoje, o  país se vê obrigado a diversificar a matriz por causa de barreiras socioambientais para novas usinas na região amazônica e por uma nova geração de projetos hidrelétricos com reservatórios menores que são facilmente afetados pelas secas cada vez mais recorrentes.

Apesar do atual governo apostar na expansão da matriz térmica como fornecimento de base (previstas para atingir 32GW em 2023), as renováveis vêm ganhando em importância, e o caminho trilhado pela energia dos ventos deve ser seguido pela energia solar.

A energia fotovoltaica vem chamando a atenção dos planejadores pela continuada queda dos preços de equipamentos, seus baixos impactos ambientais, o menor tempo de implantação e o alto potencial de geração de empregos.

“Todos os candidatos querem incentivar a fonte, mas o programa da Marina deixa isso mais claro, principalmente com o projeto de instalar 1 milhão de telhados solares em quatro anos”, lembrou Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de
 
Energia Solar (ABSOLAR).

Mas, explica Sauaia, os principais mecanismos da expansão enérgica, como a contratação nos leilões e o planejamento, não devem mudar para a energia solar. Ao contrário, eles devem até ajudar a consolidar o setor eólico já que o governo introduziu melhorias na proposta de conteúdo local para a fonte solar e vem dando sinais de querer contratar capacidade solar suficiente – no mínimo 1GW por ano segundo Sauaia – para montar uma indústria nacional.

Portanto, não fará diferença o partido do novo mandatário no Palácio do Planalto, o mercado aposta na imutabilidade das políticas de conteúdo local – que vêm dando certo para gerar empregos, atrair investimentos e garantir transferência de tecnologia. Espera-se também a continuidade da oferta de financiamento mais barato pelo BNDES e na contratação de energia de diversas fontes por meio de leilões, nos quais o governo pode priorizar as que levem menos tempo para serem implantadas ou as que necessitem de menos recursos do governo.

O governo também incluiu a fonte solar no planejamento a longo prazo, prevendo que a fonte atinja 3,5GW até 2023 por meio de leilões anuais.

Grandes players internacionais já estão se preparando para investir no mercado nacional. Empresas como a chinesa Yingli Solar, a japonesa Kyocera (já presente no Brasil) e as americanas SunEdison e First Solar já têm representações no país, apostando que o mercado solar saia do marasmo de expansão de apenas 10MW anuais já em 2015.

Segundo Paulo Rocha, da Agenda Brasil Sustentável a velocidade da implantação da energia solar seria maior com a vitória de Marina por causa de seus histórico de militante ambientalista e por sua maior compreensão da economia verde.

Élbia, da ABEEólica, concorda que Marina é a candidata mais “verde”, mas ela questiona a proposta de abrir mais espaço para financiamento do setor privado para as renováveis.

“O BNDES é imbatível”, disse. “Eu venho estudando modelos de financiamento para setor de energia por 16 anos e até agora não descobri uma alternativa”.

Poucas mudanças também serão possíveis nas políticas de conteúdo local. Élbia acredita que o setor superou um desafio enorme de atrair os principais fabricantes e, agora, com o início do setor solar, será difícil justificar qualquer mudança.

Empresas como as espanholas Gamesa e Acciona, a francesa Alstom, a americana GE, a alemã Enercon (Wobben), a argentina Impsa e a brasileira WEG estão investindo em novas fábricas que, juntas, terão capacidade para produzir mais de 1500 turbinas por ano, ou mais de 3GW. As empresas estão também desenvolvendo cadeias de fornecedores, o que está gerando empregos.

Para o setor eólico, até 2016, o conteúdo local dos aerogeradores deve atingir 70%. Já para o setor solar, o pacote recém-anunciado prevê que até 2020 componentes como módulos, células, inversores e até o próprio silício purificado podem ser produzidos aqui.

O programa de governo da Marina vai além do incentivo à energia solar, pois é o único que também indica a redução da dependência de derivados de petróleo e sinaliza para o desenvolvimento de um mercado de carbono. Porém Marina não conseguiu aprofundar este debate já que a campanha foi focada na macroeconomia, na geração de empregos e na continuidade de políticas de distribuição de renda.

Com Dilma, a velocidade já é conhecida, mas, tanto o setor eólico quanto o solar, receberam bem alguns pequenos ajustes que incentivam um pouco mais as fontes, a começar com os preços-tetos para o leilão de reserva de outubro que incorporaram os custos reais e riscos dos setores.

Aécio Neves é visto como o mais pró mercado, mas é o mais desconhecido pelo setor de renováveis. No entanto, ele já declarou apoio ao desenvolvimento de energia solar e, quando foi governador de Minas Gerais (2003-2010), a Cemig começou a dar mais importância às energias limpas – chegando a entrar no bloco de controle da Renova em 2011 – e implementou alguns incentivos para energia solar no seu estado.