Energia de baixo carbono é oportunidade de R$ 968 bi, aponta estudo

24/03/21 | São Paulo

Reportagem publicada no Canal Energia

Projetos de infraestrutura sustentável no país até 2040 podem atrair até R$ 3,6 trilhões divididos em oito áreas de atuação diferente, identificou publicação do Brazil Green Finance Programme

O segmento de infraestrutura do Brasil representa uma vasta oportunidade para novos investimentos. E energia elétrica de baixo carbono, ao lado de telecomunicações, são os dois campos onde há mais perspectivas em termos de valores de aportes. Essa é a principal conclusão de um estudo desenvolvido pelo Brazil Green Finance Programme, cooperação entre governos brasileiro e britânico que busca incentivar investimentos sustentáveis em infraestrutura, entre outras ações.

O estudo, intitulado Sustainable Infrastructure Investment Opportunities in Brazil, aponta que há uma necessidade de investimentos na infraestrutura sustentável do Brasil de R$ 3,5 trilhões a R$ 3,6 trilhões no período entre 2020 e 2040. Projetos de infraestrutura sustentável são aqueles que são planejados, projetados, construídos, operados e desativados em uma maneira de garantir sustentabilidade econômica e financeira, social, ambiental (incluindo resiliência climática) e institucional ao longo de todo o seu ciclo de vida.

Dentre os oito campos analisados, energia de baixo carbono (onde está incluído geração de energia, transmissão, distribuição e refinarias de biocombustíveis) é a que mais apresenta oportunidades. O montante estimado para energia é de R$ 968 bilhões no cenário base analisado e de R$ 897 bilhões em uma análise de sensibilidade. Quando somado com Telecomunicações, a demanda por investimentos soma 54% do total estimado de oportunidades de investimentos.

Para cada setor, o relatório apresenta um cenário base de oportunidade de investimento, que considera projeções governamentais e dados públicos disponíveis, e um cenário alternativo. Esse segundo cenário é uma análise de sensibilidade feita pela Carbon Trust calibrando variáveis chaves por setor a partir de considerações obtidas em entrevistas com especialistas e pela incorporação de tendências recentes. Esse tipo de análise é feita para prever quanto o resultado gerado pode ser impactado caso os parâmetros usados mudem, neste caso interferindo para uma maior ou menor oportunidade de investimentos.

Segundo a entidade, os fatores-chave que levam a uma oportunidade significativa nesses setores são o rápido desenvolvimento de projetos de geração de energia eólica e solar e a expansão do alcance dos serviços de telecomunicações em fibra óptica.

O relatório também quantifica a oportunidade de criação de empregos e de VAB (Valor Adicionado Bruto) para cada setor e em cada cenário. Considerando a oportunidade de investimentos totais de R$ 3,5 trilhões apontada no cenário base, o potencial de criação de empregos é de quase 2,4 milhões de vagas e R$ 4,4 trilhões de VAB. No cenário de R$ 3,6 trilhões apontado pela análise de sensibilidade, as projeções são de 2 milhões de empregos e um VAB de R$ 4,6 trilhões.

Em energia de baixo carbono especificamente, no cenário base a estimativa é de 1,2 milhão de empregos e VAB de R$ 490 bilhões. Já na análise de sensibilidade os números recuam para 800 mil vagas e VAB de R$ 453 bilhões.

O estudo relaciona várias barreiras específicas do setor e que impedem o investimento neste setor. São eles: cadeias de abastecimento locais limitadas para tecnologias-chave nesse campo, falta de incentivos para investir em melhorias do sistema, capilaridade de alcance limitado das redes de transmissão, carga tributária sobre os principais componentes das tecnologias solar e eólica, falta de metas governamentais de curto e longo prazo, custos de capital iniciais substanciais para tecnologias inovadoras, e ainda, falta de competitividade dos biocombustíveis em relação às alternativas aos combustíveis fósseis.

Ao se considerar iluminação pública, há uma adição de oportunidades que vão desde investimentos de R$ 6,7 bilhões, 15 mil empregos e VAB de R$ 1,7 bilhão no cenário base. No de sensibilidade os números aumentam para R$ 7,9 bilhões, 18 mil e R$ 1,9 bilhão, respectivamente.

A publicação alerta que “embora deva ser reconhecido que fatores gerais, como a classificação BB do país, risco de moeda e riscos de liquidez, a complexidade e a falta de estabilidade do ambiente regulatório e as taxas de desmatamento crescentes que podem dificultar a atratividade do Brasil para os investidores, este relatório apresenta os setores de forma comparável. O objetivo é servir como um primeiro passo para o governo brasileiro, investidores e outras partes interessadas entenderem melhor as oportunidades, riscos e benefícios de alto nível da infraestrutura sustentável no Brasil”.