19/11/22 | São Paulo
Promessa do Catar para a Copa do Mundo de 2022, a compensação de todas as emissões de carbono e o uso de energia solar de forma eficiente durante o evento serão tarefas desafiadoras, uma vez que é necessária uma “complementaridade de fontes”, disse à Mover o membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos, Guilherme Susteras.
De acordo com o especialista, que também é sócio-diretor da empresa de energia por assinatura Sun Mobi, uma única fonte de energia não é suficiente. “Só com solar você não gera energia à noite, só com energia eólica você não consegue, porque não venta o tempo todo, então você precisa garantir uma complementaridade de fontes”, disse Susteras em entrevista à Mover.
Segundo Susteras, a energia solar deve ser complementada com o armazenamento, que ainda tem um custo muito elevado. Outra saída é usar fontes de carbono, como gás natural, que é abundante no país, e depois compensar esse uso por meio de ações como reflorestamento, “atividades essas que eventualmente são feitas fora da região”, explica.
Para ele, alguns dos desafios a serem enfrentados pelo Catar são o financeiro, devido ao alto custo da transferência do uso de combustível fóssil para energias renováveis; tecnológico, de escolher adequadamente o sistema que melhor se aplica àquele cenário; e, por fim, de se obter um saldo positivo dessas medidas – isto é, todo o consumo de energia das instalações ser menor do que a produção de energia renovável direcionada para o evento.
No ano passado, o comitê organizador da Copa do Mundo no Catar anunciou que vai utilizar energia solar para refrigerar seus estádios durante os jogos e que sediará a primeira Copa do Mundo com emissão e absorção de carbono equilibradas.
“Vamos sediar o primeiro #Catar2022 @FIFAWorldCup neutro em carbono e demonstraremos ao mundo nossa dedicação em sermos guardiões do meio ambiente”, tuítou a embaixada do Catar nos Estados Unidos na época.
Segundo o comitê, essas iniciativas “deixarão um importante legado de sustentabilidade para o Catar e região, e fornecerão um modelo inestimável para o uso de práticas sustentáveis em futuros eventos esportivos realizados em todo o mundo”.
O histórico do Catar
Segundo o Oxford Business Group, o Catar vem examinando o potencial das energias renováveis em sua matriz energética há mais de uma década. Em sua Estratégia Nacional de Desenvolvimento para os anos de 2018 a 2022, o tema das fontes alternativas de energia também é abordado.
Para os jogos da Copa do Mundo, o Catar desenvolveu uma usina de energia solar de 800 MW que ocupa um terreno de 10 quilômetros quadrados. A organização do evento ainda acrescentou que a usina permanecerá operante após o torneio, produzindo energia limpa e renovável por anos.
“Outras inovações estão obviamente em cena. Eles apresentam sistemas avançados de resfriamento distrital projetados especificamente para o torneio. O Catar experimenta calor extremo, o que pode criar um ambiente hostil para o esporte”, disse a publicação do Oxford Business Group.
“Com os novos sistemas de refrigeração, os sensores são colocados estrategicamente ao redor dos estádios para detectar movimento e ajustar a temperatura ao longo das partidas, mantendo os locais confortáveis e reduzindo o risco de lesões, exaustão pelo calor ou desidratação”.
De acordo com a companhia global de pesquisa e consultoria, haverá uma sala de controle em cada estádio onde a equipe técnica poderá ver quais divisões da área ou campo precisam ser resfriadas ou aquecidas. Uma das principais preocupações desse sistema é o impacto ambiental resultante das elevadas necessidades energéticas, disse o artigo, no entanto, a “energia solar é usada para mitigar o risco”, acrescenta.
Energia solar nos estádios brasileiros
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina , USFC, mostrou que a aplicação de sistemas solares fotovoltaicos que geram energia elétrica em estádios são benéficos à rede elétrica brasileira e à sustentabilidade global.
Segundo a pesquisa “Estádios Solares: potencial de aplicação da energia solar fotovoltaica nos estádios da Copa 2014”, muitos estádios do Brasil possuem a capacidade de gerar montantes expressivos de energia elétrica a partir de fontes limpas e renováveis de energia.
O CEO da empresa de créditos de energia renovável Juntos Energia, José Otávio Carneiro Bustamante, relembra que o estádio Mineirão, em Belo Horizonte, já possui um sistema de geração solar que abastece toda a sua infraestrutura, instalado antes da Copa do Mundo no Brasil. Já a Neo Química Arena, em São Paulo, refrigera o gramado, o vestiário e as áreas fechadas por uma tecnologia de troca de calor que utiliza o sistema de refrigeração por absorção, segundo Bustamante.
“Como um país tropical, temos energia solar abundante e precisamos realizar os investimentos necessários para continuar com a adoção exponencial dessa fonte”, disse o especialista, que ressalta os benefícios sociais e ambientais de investir em energia solar. Entre eles, está a geração de emprego e renda para a população, a redução de custo na geração de energia e o alinhamento com alicerces de sustentabilidade e ESG, sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança.
Contudo, a tecnologia utilizada para resfriar os estádios no cenário de Copa do Mundo é algo específico para a realidade desértica do Catar, de acordo com Susteras, e tais aplicações não são viáveis nos estádios brasileiros.
“Do ponto de vista de eficiência energética, o mais inteligente é você construir estádios que usem a própria arquitetura para amenizar o impacto da irradiação solar sobre os jogadores e, obviamente, fazer jogos nos horários em que a temperatura não seja tão alta”, explica o especialista.
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