04/10/17 | São Paulo
Apesar de a energia solar ter um grande potencial de desenvolvimento no Nordeste, o modal ainda esbarra em entraves que prejudicam o cenário. Mesmo com a previsão de R$ 10 bilhões em investimentos na área, se considerados os empreendimentos já contemplados nos leilões realizados pelo governo, empresas que atuam na região afirmam que ausência de linhas de financiamento e problemas de infraestrutura para escoamento da energia são alguns dos que mais dificultam o fomento a esse formato de geração.
“Para as pessoas físicas é preciso taxas de juros mais baratas para financiar, iguais às condições oferecidas para pessoas jurídicas”, diz Paulo Medeiros, gerente comercial da pernambucana Insole. A taxa média é de 1,8% ao mês para pessoas físicas, contra 0,75% para jurídicas.
Diretor da Global Sun, Pedro Nunes concorda. “Em bancos públicos, os interessados esperam até seis meses para conseguir financiamentos. Nos privados, nenhum faz (empréstimos) a preços competitivos”, afirma, acrescentando que outro problema é o desconhecimento em relação à tecnologia. Wladimir Janousek, gerente-geral da Canadian Solar Brasil, empresa especializada na produção de paineis fotovoltaicos, diz que o problema do Nordeste é estrutural. “É um investimento estratégico e que precisa ser revisto em prol das energias renováveis.”
Thomas Kraus, diretor geral da Enerray, companhia que executa projetos fotovoltaicos para empresas vencedoras de leilões promovidos pelo governo, diz que o cenário faz com que projetos com rendimento em determinada área não possam ser desenvolvidos. Para ele, a retomada da realização dos leilões de forma contínua é o principal ponto que pode consolidar o modal.
O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia, acrescenta que, apesar de ter um dos melhores potenciais do país, o Nordeste tem um gargalo para escoar energia. Ele lembra que no leilão que seria realizado no fim do ano passado foi constatado que a região não possuía margem de escoamento suficiente, em especial os estados da Bahia e do Rio Grande do Norte. Além dessas questões, a consolidação do modal solar passa por outros pontos. “Ainda temos um grande espaço para que os estados estruturem seus programas de energia solar fotovoltaica.”
Em nota, o Ministério de Minas e Energia diz que entre 2015 e 2017 foram licitados 20,3 mil quilômetros de linhas de transmissão. “Em dezembro de 2017 está previsto um novo leilão de transmissão, com previsão de contratação de 4,9 mil quilômetros de linhas de transmissão e 10.416 MVA em capacidade de transformação, totalizando investimentos de cerca de R$ 8,8 bilhões”. No que diz respeito às linhas de financiamento, o ministro Fernando Filho afirma que os equipamentos nacionais para produção de energia solar podem ser financiados via BNDES com condições diferenciadas.