Especialistas debatem geração e expansão de energia solar fotovoltaica no Brasil

19/10/17 | São Paulo

Agência Indusnet Fiesp
 
Apesar do forte recuo econômico do país nos últimos anos, o setor de energia solar fotovoltaica vem ganhando espaço em diversos segmentos da indústria. Só em 2016, a atividade cresceu 320%, dinâmica que deve ganhar força também este ano. Em um esforço de mapear as oportunidades e perspectivas deste setor, o Departamento de Infraestrutura (Deinfra) da Fiesp realizou um workshop com especialistas nesta quarta-feira (18).
 
Em painel mediado pelo diretor da divisão de energia da Fiesp, José Ayres de Campos, executivos da área discutiram a expansão da geração deste tipo de energia no Brasil.
 
Do Ministério de Minas e Energia (MME) da Presidência da República, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético Eduardo Azevedo Rodrigues explicou que o governo entende o segmento como um importante vetor para outras áreas; técnica, econômica, ambiental e social. “Temos o princípio de que todo o processo de expansão do segmento energético deverá ser transparente, baseado em números e de acordo com nossos compromissos também no exterior”, afirmou.
 
Para o secretário de Energia e Mineração do governo do Estado de São Paulo, João Carlos Meirelles, o país está passando por uma fase de mudanças brutais, no setor elétrico principalmente, com a exaustão das grandes fontes locais. “Nós não temos mais grandes hidrelétricas, as últimas construídas são de fio d’água no rio Madeira e Tapajós”, alertou. De acordo com ele, enquanto o mundo possui 13,7% em mecanismos de energia renovável instalada em seu parque industrial, o Brasil já trabalha com 43,5% e São Paulo com 60,8%.
 
O presidente executivo da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia, esclareceu que do ponto de vista técnico não há nenhuma restrição da inserção da energia solar fotovoltaica na matriz elétrica brasileira, tanto na média alta tensão, quanto na baixa tensão. “O Brasil pode inserir até 40% de fonte eólica e solar em sua matriz, mesmo sem uma estrutura técnica robusta. Os benefícios são maiores que os custos”, apontou.
 
Tributação e juros
 
Desafios para a Cadeia Produtiva, tema do terceiro painel do workshop Energia Eólica no Brasil, realizado nesta quarta-feira (18 de outubro) na Fiesp, reuniu gigantes industriais, tendo como moderador Ronaldo Koloszuk, diretor da Divisão de Energia do Departamento de Infraestrutura da entidade.
 
As boas perspectivas para a expansão da geração de energia solar fotovoltaica não se repetem para a fabricação local de painéis solares e outros componentes. A culpa, segundo Nelson Falcão, executivo de Desenvolvimento de Negócios da Flextronics, que fabrica painéis para a Canadian, e trackers, está na tributação, que favorece o produto importado da China, e as taxas de juros, que não tornam atraente a compra local financiada pelo BNDES.
 
Também relatou o desafio de produzir localmente Adalberto Maluf, diretor de Marketing, Sustentabilidade e Novos Negócios da BYD, gigante de 230.000 funcionários com fábricas no Brasil de ônibus elétricos e de baterias e painéis solares. O sistema tributário é problema, sendo necessária a isonomia, com os mesmos incentivos dados aos painéis importados, defendeu.
 
Fábricas no Brasil
 
Falcão explicou que a planta de produção foi totalmente financiada pelo BNDES. Disse que é a cada dia mais difícil manter fábricas no Brasil. Para isso a ABSOLAR, da qual é integrante, busca sensibilizar Brasília.
 
Os investidores que se preparam para o próximo leilão mostram menor interesse pela alternativa de produto nacional financiado pelo BNDES, afirmou. O esforço grande para o investimento na cadeia produtiva não deve ter vida longa. “Talvez um ano.” A razão, disse, é que o produto chinês chega ao Brasil pagando apenas frete e imposto de importação, cerca de 12%, e a produção local exige o pagamento de 30% a 40% em impostos.
 
Para compensar isso o BNDES teria que oferecer juros mais baixos, mas isso não acontece, disse.
 
O Brasil tem capacidade para fabricar mais de 1 gigawatt de painéis solares fotovoltaicos, além de ter fabricantes de trackers e outros componentes. Isso atende à demanda, afirmou Falcão. Depois do arranque inicial, a indústria do setor está em vias de ser abandonada por falta de demanda. E não consegue exportar. Quando se retomar o ritmo de leilões de energia, a indústria nacional não vai estar aqui.
 
“A angústia é minha também”, disse Koloszuk, ao comentar a apresentação de Falcão.
 
Maluf, da BYD, explicou que houve grande queda de preços em 2016, por excesso de estoque. O governo chinês interveio, comprando o estoque e equilibrando o mercado. O aumento da demanda chinesa fez o preço subir, dando um pouco de fôlego à fabricação brasileira. Assim como a Flex, a BYD tem previsão de baixa demanda depois de 2018, com o fim dos contratos atuais. Plantas de grande porte depende dos grandes contratos de leilão, e por isso a demanda por geração distribuída não deve ser suficiente.
 
Em 2018 a BYD deverá inaugurar planta para fabricação de chassis, e em 2020/22 fabricará células de baterias e de painéis solares, disse Maluf.
 
A BYD foi a primeira fábrica a produzir mais de 100.000 veículos elétricos por ano, disse. Teve em 2016 fatia de 13% do mercado mundial de veículos elétricos. Em sua avaliação, deve aumentar muito o mercado brasileiro para carros. A consolidação é esperada para 2020, disse.
 
Lembrou que a geração solar fotovoltaica, que deve ter acréscimo de 90 GW neste ano, tem o maior crescimento entre as fontes renováveis, acima de eólica e hidroelétrica. “Não há por que o Brasil não ser grande” também na fotovoltaica, disse Maluf, lembrando que o segmento é o que mais emprega.
 
“Tenho plena convicção” do crescimento do mercado de carros elétricos, afirmou Koloszuk, citando as políticas anunciadas por fabricantes, como a Volvo, e governos, como o da Alemanha, de ampliação da fatia deles na produção total.
 
Também participando do painel, Harry Schmelzer Neto, gerente de Geração Distribuída e Redes Inteligentes da Weg, lembra que quando começou na área, em 2012, não havia nada no Brasil, situação que mudou em 2015. Ele explicou a evolução da linha produzida pela Weg e explicou os planos para os próximos anos.