22/03/21 | São Paulo
Reportagem publicada no Brasil Energia
Relatório da REN21 revela que os municípios do país estão ficando para trás nas metas de zero emissões líquidas
A edição de 2021 do Relatório de Status Global de Energias Renováveis nas Cidades, da organização REN21, mostra que 13 cidades no Brasil possuem metas ou políticas de energias renováveis, de um total global de mais de 1.300 cidades. Isso cobre 51,6 milhões de pessoas, o equivalente a 28% da população urbana do país.
As cidades brasileiras estão ficando para trás na definição de metas de emissões líquidas zero, segundo o estudo. Uma exceção é Belo Horizonte (MG), que em 2020 anunciou meta de emissões líquidas zero. No ano passado, 800 cidades no mundo se comprometeram em atingir emissões líquidas zero, um forte aumento quando comparado ao ano prévio em que somente 100 cidades tinham a mesma meta.
A organização analisou também as declarações de emergência climática e identificou que Recife (PE) foi a primeira e única cidade brasileira a declarar formalmente uma emergência climática, em 2019. Globalmente, 1.852 cidades já fizeram tal declaração. Recife também se comprometeu a se tornar neutra em carbono até 2050.
“É importante que os governos municipais se considerem entidades que têm que ser proativas na transição energética e não esperem que apenas os decisores a nível nacional tomem todas as decisões em relação ao seu futuro energético. Eles devem criar as suas próprias metas e desenvolver os seus próprios projetos”, disse ao EnergiaHoje a pesquisadora do REN21 e co-autora do relatório, Flávia Guerra.
Entre os destaques do estudo, estão a prefeitura de Cáceres (MT) e o município de Itu (SP), que alcançaram suas metas de 100% de energias renováveis (para operações municipais e em toda a cidade, respectivamente) até 2020.
A cidade de Palmas (TO) também aparece como destaque, por possuir um projeto que disponibiliza incentivos fiscais para a população instalar painéis solares em seus imóveis. O município também tem iniciativas de instalação de painéis solares em escolas públicas e construção de usinas fotovoltaicas para abastecer todos os edifícios municipais.
Transporte, aquecimento e resfriamento
O relatório mostra ainda que o número de cidades do mundo que impuseram proibições parciais ou totais aos combustíveis fósseis aumentou cinco vezes em 2020 na comparação com o ano anterior. No total, um bilhão de pessoas, cerca de um quarto da população urbana global, vivem em cidades com uma meta ou política de energia renovável.
Segundo Flávia, o desafio maior, a nível mundial, está nos setores de transporte, aquecimento e resfriamento, que representam mais de 80% do consumo final de energia e são os mais poluentes.
“A taxa global de penetração de energias renováveis é de cerca de 4% nos transportes e de 10% no aquecimento e resfriamento. Enquanto o setor de eletricidade representa menos de 20% do consumo final de energia e é 25% composto por fontes renováveis. Apesar disso, nós observamos que há muito mais metas e investimentos para transição energética no setor de eletricidade”, afirmou.
A pesquisadora lembra que o Brasil é um dos maiores produtores de etanol e biodiesel e que há mandatos nacionais de mistura de biocombustíveis com combustíveis fósseis. Isso resulta numa penetração de renováveis no setor de transportes de aproximadamente 20%, “uma das mais altas do mundo”.
Apesar da predominância dos biocombustíveis, a eletrificação do transporte urbano também está ganhando espaço no país, inclusive em São Paulo, a cidade mais populosa. Em 2019, o governo municipal de São Paulo integrou 15 ônibus elétricos à sua frota e estabeleceu a exigência de que sejam carregados com energia solar.