22/07/20 | São Paulo
O investimento na Solfácil foi liderado pelo fundo americano Valor Capital Group, que apostou também em empresas como Gympass e Stone
Investir em energia solar no Brasil é um bom negócio. No último ano, a geração de energia solar por meio de sistemas instalados nos telhados de residências e empresas triplicou, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Mesmo com a pandemia, o negócio não esfriou: o segmento cresceu 45% no primeiro semestre de 2020. Ainda assim, a fonte representa atualmente pouco menos de 2% da capacidade em operação no país, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Aproveitando o potencial de crescimento que ainda existe para o setor no Brasil, a startup Solfácil, criada em 2018 pelo empreendedor Fabio Carrara, oferece crédito para pessoas que queiram instalar a infraestrutura fotovoltaica em suas casas. O negócio, que cresceu 826% no segundo trimestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior, chamou a atenção de investidores e acaba de fechar uma rodada de 21 milhões de reais, liderada pelo fundo americano Valor Capital Group (Stone, Gympass).
Scott Sobel, sócio fundador do Valor, afirma que o investimento na companhia o anima pelo fato de o Brasil ser um dos mercados mais promissores do mundo para energia solar e fintechs. “Dada a experiência do time no setor e a resiliência do seu modelo de negócios, é uma oportunidade para reduzir o custo de energia para consumidores e empresas”, afirma o sócio.
Para começar o negócio, a empresa havia captado 4 milhões de reais em 2018 com investidores anjo. Com a nova rodada, os planos são investir na automatização da plataforma de concessão de crédito, trabalhar para aprimorar a experiência do usuário e focar na expansão comercial do negócio.
Modelo de negócio
A Solfácil foi criada para facilitar o acesso dos brasileiros à energia solar. A ideia de empreender no setor de energia solar surgiu para Carrara em 2014, quando ele trabalhava como diretor no fundo Project A Ventures. Em meio à crise hídrica e energética brasileira, o empreendedor se apaixonou pelo setor e resolveu criar uma empresa de instalação de painéis solares para entender na prática o funcionamento do mercado. “Senti na pele o que era ser um prestador de serviço querendo vender a solução. O financiamento era o que faltava”, diz o fundador da startup.
Para solucionar esse problema, a Solfácil nasceu com a proposta de financiar até 100% do valor do sistema, parcelando o valor do projeto em até 10 anos, o que garante uma mensalidade baixa e muitas vezes menor do que o valor que o cliente economiza na conta de energia elétrica. A depender do prazo, as taxas de juros são de 0,79% a 1,3% ao mês.
Em média, os projetos financiados pela fintech custam 30.000 reais. Em vez de a empresa ir atrás dos clientes finais, ela opera por meio de parcerias com mais de 1.000 empresas que instalam a infraestrutura de energia solar. “Nossos parceiros não tem problema de demanda, o que falta é conversão de vendas por falta de financiamento”, diz Carrara.
Outras instituições financeiras oferecem um crédito similar. Uma delas é a Portal Solar, market place de equipamentos para energia solar, que opera uma linha de crédito com o banco BV. Por lá, o valor pode ser pago em até 60 meses e as taxas de juros variam entre 0,75% e 1,53% ao mês. O banco Santander, desde 2013, também trabalha com uma linha. A instituição parcela 100% do valor dos projetos em até 60 meses e cobra juros a partir de 0,99% ao mês.
Metas, planos e desafios
Para expandir o negócio nos próximos meses, a Solfácil aposta em duas frentes. A primeira é conquistar mais parceiros dentro do universo das 14.000 empresas que prestam o serviço de integração de energia solar. A segunda é expandir o mercado de atuação para além das pessoas físicas. A partir de setembro, a fintech vai lançar uma linha para pequenas e médias empresas que queiram reduzir o valor da conta de luz utilizando a energia solar.
A partir de 2021, o objetivo da empresa é expandir seu portfólio de produtos com o lançamento de um seguro. A startup também não descarta uma expansão internacional, a começar por outros países da América Latina que têm características de mercado similares às do Brasil.
Os desafios para a nova fase, segundo o presidente da empresa, são crescer a equipe de 45 pessoas e continuar a manter um bom relacionamento com o mercado de capitais, fonte do capital emprestado. A projeção da fintech é, nos próximos 12 meses, seguir crescendo 30% ao mês e originar um total de 300 milhões de reais.
Para o futuro, um ponto que deixa todo o setor alerta é a proposta regulatória da Aneel sobre a geração distribuída. A agência considera diminuir o quanto a energia elétrica é capaz de abater em reais na conta de energia dos clientes. Sem esse mecanismo, a economia gerada pelos sistemas poderia deixar de ser tão atrativa para os clientes.
Bárbara Rubim, vice-presidente de geração distribuída da ABSOLAR, afirma que o setor tem batalhado para levar o tema ao Congresso Nacional, onde os benefícios socioeconômicos da energia solar poderiam ser levados em conta em um marco legal do setor. Com a pandemia, as conversas foram postergadas, mas a associação espera que a pauta seja analisada até o começo do ano que vem. “Isso traria segurança jurídica e regulatória para o setor continuar atraindo investimentos para o país”, diz Rubim.