Fórum na Fiesp mostra oportunidades e desafios para a geração distribuída de eletricidade

17/05/16 | São Paulo

 Agência Indusnet Fiesp

No Workshop de Geração Distribuída, evento realizado na Fiesp nesta quinta-feira (12/5) e aberto pela embaixadora Maria Celina Rodrigues, diretora titular adjunta do Departamento de Infraestrutura da entidade, especialistas brasileiros e estrangeiros discutiram maneiras de assegurar a expansão do mercado de geração distribuída de energia, aproveitando oportunidades que vão da maior segurança energética à criação de empregos e renda graças ao surgimento de uma nova cadeia de produção.

Everett Wakai, cônsul comercial dos Estados Unidos, enumerou quatro ações estratégicas para a modernização da geração distribuída: apoiar investimentos que garantam a criação de um sistema mais eficiente; fomentar inovação; assegurar a rede elétrica e empoderar e habilitar o consumidor. “Hoje em dia, com novos modelos de negócios de energia distribuída, o consumidor irá se tornar o grande protagonista deste setor. Não podemos esquecê-lo”, disse Liz Dalton, vice-secretária do Departamento de Energia dos Estados Unidos, fez a apresentação principal. “É preciso, antes de tudo, aceitar que a transformação na geração e distribuição de energia elétrica é inevitável”, disse. “O comportamento do consumidor está mudando, está mais digital, mais conectado. [O homem] trabalha o dia inteiro, pelo mundo inteiro e para isso precisa de eletricidade.”

Toda essa mudança no comportamento do consumidor e na forma de se utilizar energia elétrica, diz Dalton, acarreta necessidade de uma transformação e modernização do sistema de geração e distribuição. Entre outras coisas, para evitar ataques cibernéticos e para colaborar com as reduções de emissão de gás carbônico.
Dalton acredita que as práticas norte-americanas no setor possam servir de modelo e inspiração para o setor brasileiro, ajudando a garantir maior segurança, confiabilidade e até mesmo competitividade.

Segundo a vice-secretária, por questões geográficas e jurídicas, as regulamentações norte americanas são feitas por regiões, não sendo possível “uma solução única para todos” e, por isso, “os desafios são maiores e as oportunidades igualmente vastas”. Ela cita como exemplo os diferentes modelos de geração de energia de fonte solar na Califórnia, cada um deles com uma parceria específica com o governo. No Havaí o foco é criar novas medidas para manter a estabilidade da geração distribuída.
“Temos cerca de 3.300 concessionárias e 1.100 jurisdições, muitas delas sobrepostas”, detalha. “Isso é algo que exige a união do governo federal e, principalmente, a participação da iniciativa privada.  O objetivo é melhorar a resiliência e a qualidade do sistema.”

Dalton afirma que as parcerias público-privadas (PPP), “sobre as quais o Brasil já possui vasta experiência”, são essenciais para garantir que o sistema de energia elétrica consiga acompanhar a evolução da demanda, por meio de investimentos em sua modernização.

Espaço para crescer

Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), reconheceu durante sua participação no fórum o papel dos EUA como exemplo para o Brasil. “Temos muito a aprender com a experiência acumulada deles”, disse, mas lembrou também que as questões estratégicas aqui são muito diferentes. “Estamos nos primeiros dias da geração distribuída. Temos espaço para crescer na geração distribuída antes que isso se torne um gargalo para seu desenvolvimento”, afirmou, explicando que nos EUA começou a haver maior preocupação com isso quando se atingiu a marca de 11 GW de geração distribuída). Até 2030, serão 10 GW instalados no Brasil, disse, defendendo que isso não é preocupação no momento.

Em relação a esse mercado, destacou a possibilidade de participação ativa do consumidor na geração (ele se transforma no que é chamado de prosumidor, neologismo que funde numa só palavra o produtor e o consumidor de energia). Nos EUA, disse, o setor fotovoltaico (que usa tecnologia que transforma a luz do Sol diretamente em energia elétrica) cresce 60% ao ano desde 2008 e atingiu 28 GW em 2015, dos quais 8 GW de geração distribuídas. Para 2016, há novos 16 GW contratados. Sauaia atribui esse quadro favorável a eixos estratégicos adotados pelos norte-americanos.

O primeiro é a regulação adequada. As políticas públicas são igualmente adequadas, para inserção na matriz. Sauaia citou o incentivo na forma de abatimento no IR do investimento em energia (investment tax credit). Além disso, lembrou, o governo abriu opções de financiamento compatíveis com essa tecnologia. A vontade política, em sua opinião, possibilitou a rápida expansão nos EUA.
Ele afirmou que o Brasil ganhou a partir de março, com alterações nas regras para geração distribuída, condições adequadas para avançar. Mas, para ele, em políticas públicas e metas, estamos no começo. A questão, disse, é de desenvolvimento socioeconômico, pela criação de uma nova cadeia, com geração de empregos e renda. “Não é só energia.”

O financiamento, afirmou, é chave para destravar mercados. Ele enxerga sobretaxação para o setor solar fotovoltaico e pede isonomia tributária, o que permitiria a redução de cerca de 10% no custo para o consumidor final.

Ana Christina Mascarenhas, gerente de Eficiência Energética da Neonergia, frisou que a Resolução 687 não resolve problema da incidência do ICMS sobre geração distribuída. Mas, disse, “as pessoas já estão fazendo isso. ”Em 2014, eram 424 unidades ligadas, agora 1.927“, exemplificou. Ela se disse surpresa por ter descoberto que os consumidores estão satisfeitos com a instalação de microgeração, mesmo sem fazer a conta. Isso fez a Neoenergia se convencer que precisa participar de alguma maneira desse mercado, para não perder consumidores. Lembrando que o valor de instalação de um sistema de geração distribuída caiu, podendo ficar abaixo de R$ 8 mil, disse que isso acarreta perda de receita e aumento da manutenção da rede. As distribuidoras, disse, não podem gerar nem prover serviços, e ela defende que isso mude.
José Sidney Martini, Diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp e professor da USP, moderador do primeiro painel do fórum, destacou o aumento do número de participantes nesse mercado, que está em mudança. “Cada um dos players precisa ter visão do todo.”

Dirceu de Azevedo, diretor de Sustentabilidade para a América Latina da Accenture, falou sobre os riscos para os atuais atores com as mudanças no mercado. Avanços tecnológicos reduzem o custo e viabilizam novas tecnologias, como a solar fotovoltaica. Também os consumidores estão mais interessados em eficiência energética e em geração distribuída. Muitos agentes atuam no mercado, como geradores de energia e startups, e outras empresas não usuais, como Google, Tesla e outros, estão atentos a essas novas oportunidades.

Destaca três modelos que já são realidade e podem ser aplicados aqui, mesmo com problemas brasileiros como regulação e dificuldade de financiamento. Um deles é de formas alternativas, como leasing, para geração solar distribuída. Outro modelo é da otimização de flexibilidade, e o terceiro, a energia vista como um serviço, com soluções por exemplo para iluminação e conforto térmico.

Clint Carter, diretor da Luminant, maior geradora de energia do Texas, disse que o mundo está no meio de uma revolução tecnológica, a quarta revolução industrial, com sistemas cibernéticos e sistema físicos de produção (por exemplo, impressão 3D). Para assegurar a segurança energética, disse, há um aliado importante, a Internet Industrial das Coisas, que permite o monitoramento em tempo real de equipamentos em geral – aspecto vital para a geração de energia. Isso, afirmou, está permitindo nova era de excelência operacional no setor de energia. “O big data [dados em grande escala] é transformável em inteligência”, afirmou. Para lidar com isso, a Luminant tem o Power Optimization Center, uma avançada central de controle remoto que inclui um setor de segurança cibernética.
Martini, do Deinfra, ressalta essa preocupação com a segurança energética, lembrando que o consumidor nem sempre se preocupa com a possibilidade de falta de energia. Destacou a importância da tecnologia, especialmente computação, para o setor.

Diego Elizalde, gerente geral da S&C América do Sul, ressaltou a mudança no modelo de fornecimento elétrico, com a instalação de geração distribuída, com sua intermitência no fornecimento. As microrredes são vistas como solução para problemas de confiabilidade. Precisam de manobras rápidas e inteligentes para a intermitência e armazenamento.

Martini destacou os novos modelos de negócios, com oportunidades para serviços ancilares. Vai ser negócio, disse.
 
O painel “Demanda automatizada, eficiência enérgica e gestão de energia” foi moderado por Nand Ramchandani, diretor de Relações Governamentais da OSIsoft. Nelson Leite, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) falou sobre gerenciamento pelo lado da demanda e questões regulatórias pendentes para a aceleração da inserção de míni e microgeração no Brasil. Também explicou os recursos distribuídos de energia (distributed energy resources, DER), base tecnológica da energia do século 21.

Para Jim Hart, vice-presidente da S&C América do Sul, a tecnologia tem mudado nos últimos 25 anos, tornando-se mais flexível e, ao mesmo tempo, a demanda por energia também está mudando. “A demanda energética está mudando no Brasil, assim como está mudando no resto do mundo. O mesmo acontece com os investimentos”, disse.
Hart explicou um pouco da proposta da empresa em que trabalha. Na produção de energia, a oferta é mais distribuída, para acomodar o crescimento. A transmissão tenta ser flexível, inteligente, resiliente, aumentando a visibilidade. No uso da energia, a tentativa é integrar a atividade de uso final, dar poder ao consumidor.

Marcos Rizzo, diretor para a América do Sul da Gridco, apresentou caso de sucesso de uma empresa no Havaí, de geração distribuída de energia por painéis fotovoltaicos. Clint Carter, diretor da Luminant, citou exemplos de casos de sucesso na prevenção de falhas, graças ao sistema inteligente de monitoramento remoto.