Geração renovável global cresceu 50% em 2023; Brasil se destaca em solar e biocombustíveis

11/01/24 | São Paulo

Repirtagem publicada pela Mega What

O mundo adicionou 510 GW de energia renovável em 2023, crescimento de 50% na comparação com 2022, segundo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) publicado nesta quinta-feira, 11 de janeiro. O destaque foi para a energia solar fotovoltaica, que respondeu por três quartos desta expansão.

Embora o maior crescimento tenha sido na China, onde apenas a energia solar comissionada em 2023 corresponde a toda a expansão global de 2022, Brasil, Estados Unidos e Europa alcançaram os maiores aumentos em geração renovável já registrados em seus territórios.

O expressivo crescimento levou a agência a revisar suas próprias previsões sobre 2023, com acréscimo de 33% no montante, na comparação com o balanço divulgado em 2022. Entre os fatores que contribuíram para uma expansão mais acelerada estão as políticas públicas de incentivo a renováveis e a adoção de geração distribuída pelos consumidores diante da eletricidade mais cara.

Segundo a IEA, considerando as atuais condições regulatórias e de mercado, a potência renovável deve crescer 7,3 mil GW no mundo entre 2023 e 2028, sendo 95% deste montante em energia solar e eólica. O preço de módulos solares fotovoltaicos, que caiu 50% em 2023 na comparação com 2022, deve continuar reduzindo já que a capacidade de produção global deve superar a demanda e chegar a 1.100 GW em 2024. Já a cadeia de geração eólica deve continuar enfrentando desafios de fornecimento, aumento de custos e prazos longos. Apenas na China este cenário não deve ser observado.

Pela previsão, a geração renovável deverá superar o carvão como principal matriz elétrica no começo de 2025. Mesmo assim, para cumprir o acordo firmado durante a última Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28) de triplicar a geração renovável global até 2030, ainda será necessário acelerar este processo, pois o ritmo atual prevê crescimento na casa de 2,5 vezes a atual capacidade.

“Para mim, o maior desafio para a comunidade internacional é escalar rapidamente o financiamento e a implantação de renováveis na maior parte dos países emergentes e em desenvolvimento, muitos dos quais estão ficando para trás na economia da nova energia”, declarou em comunicado o diretor Executivo da AIE, Faith Birol.

Geração renovável no Brasil deve chegar a 108 GW

No relatório, o Brasil se destaca pela expansão geração solar fotovoltaica e pela produção de biocombustíveis. A IEA reconhece que o crescimento acelerado de fontes renováveis representa desafios de conexão e gestão do grid, e menciona o leilão de transmissão ocorrido em dezembro de 2023 no Brasil, assim como uma política de incentivo a sistemas de armazenamento no Chile, como potenciais soluções para estes problemas.

A agência classifica como “generosa” a política brasileira de geração distribuída que possibilita a injeção de energia na rede e avalia que este incentivo tem sido um dos responsáveis pelo montante de geração solar no país. Desde janeiro de 2023, estes incentivos têm sido reduzidos gradualmente.

Mesmo assim, a agência internacional prevê que a fonte solar continuará forte no país, com acréscimos na casa dos 7 GW por ano até 2028. Isso se explica por dois fatores: o custo da energia residencial no país, que tem aumentado diante da menor geração hídrica associada a maior demanda, e os custos para a instalação de sistemas solares fotovoltaicos, que devem continuar baixos.

O país deve ter um crescimento de 108 GW entre 2023 e 2028, o que representa 92,6% do crescimento previsto para a América Latina no período.

A IEA avalia novas plantas de usinas eólicas e solares em mercados como Brasil, Chile, Argentina e México a não dependerão mais de leilões governamentais para se viabilizarem, graças a acordos no mercado livre. No Brasil, o mercado livre deve responder por 85% da nova geração solar e eólica até 2028.

Brasil deve responder por 40% da expansão global de biocombustíveis

A agência também avaliou o crescimento de biocombustíveis e projeta que o Brasil responderá por 40% da expansão global da oferta até 2028, que deve aumentar em 38 bilhões de litros até 2028. O diesel renovável e o etanol devem responder por dois terços desta demanda, e o restante deve corresponder a biodiesel e querosene sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).

Segundo o relatório, as maiores demandas estarão em países emergentes, especialmente Brasil, Índia e Indonésia, por conta das políticas “robustas” para biocombustível, aumento da frota e potencial abundante de matéria-prima.

Globalmente, os biocombustíveis e os veículos elétricos abastecidos com energia renovável deverão evitar o consumo de 4 milhões de barris de óleo equivalente por dia em 2028, segundo o relatório.

O uso de biodiesel vem aumentando de forma acelerada, mas não o suficiente para atingir um cenário de emissões líquidas zero. Para isso, o relatório avalia que seria necessário aumentar o uso de combustíveis renováveis em 2030.

Apenas 7% dos projetos de hidrogênio devem estar operacionais em 2028

Considerando os projetos anunciados globalmente para a produção de hidrogênio verde nesta década, apenas 7% da capacidade proposta deve estar operacional até 2030. Isto ocorreu por conta do ritmo das decisões finais de investimento para os projetos, somado ao apetite limitado dos compradores e ao aumento da produção custos. Na avaliação da agência, para convencer plenamente os investidores, os anúncios de projetos ambiciosos devem ser acompanhados de políticas consistentes para apoiar a demanda.

Rastreador de Progresso em Energias Renováveis

Junto com o relatório, a IEA lançou o Rastreador de Progresso em Energias Renováveis, que possibilita a consulta a dados da série histórica e previsões a nível regional, nacional e global, incluindo o acompanhamento do progresso em direção à meta de triplicar a geração renovável até 2030.