Hidrogênio Verde no Brasil tem futuro, mas precisará vencer desafios

10/06/22 | São Paulo

Reportagem publicada pelo Canal Energia

Demanda por projetos, políticas públicas e custos de certificação foram apontados como pontos a serem suplantados

O hidrogênio verde, considerado o combustível da transição energética, deverá enfrentar ainda alguns desafios até deslanchar no Brasil e conquistar o seu espaço. Políticas, perspectivas, projetos e custos sobre o assunto suscitam curiosidade e dúvidas no setor. Camila Ramos, Sócia Diretora da Clean Energy Latin America, mostrou em apresentação durante painel no Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico na última quarta-feira, 8 de junho, que o mercado de H2 verde deve atingir entre 400 e 800 milhões de toneladas por ano em 2050, o que vai representar entre 12% e 22% da demanda total de energia no mundo. Ainda de acordo com ela, cálculo da Agência Internacional de Energia espera que o preço do quilo do h2 verde custa entre € 3,40 a € 5, enquanto o custo do cinza estaria em € 1,5 por quilo. A estimativa é que até 2030 os preços se encontrem.

Levantamento da Bloomberg indica que o Brasil já tem potencial para produzir o H2 verde mais barato do mundo. O custo nivelado ficaria entre US$ 1,7 a US$ 3 o quilo. Em 2030, esse custo cairia para US$ 1 o quilo. Segundo Camila Ramos, o Nordeste brasileiro tem o potencial para oferecer mais de 107 GW de projetos eólicos e solares para produção de hidrogênio verde até 2030.”‘O Brasil tem tudo para ser líder e abraçar esse desafio”, observa.

Ela apresentou ainda estimativas que indicam que o hidrogênio verde será capaz de suprir 14% de toda a demanda energética dos Estados Unidos até 2050. Na União Europeia, que em 2050 quer ter uma economia net zero, o hidrogênio deverá responder por 24% da demanda de energia. Dentro os grandes projetos que já foram anunciados, estão o de HyDeal Ambition, no Oeste da Europa, de 67 GW, o de Aqua Ventus, na Alemanha, com 10 GW, e o de NortH2, na Holanda, também, com 10 GW. Na América do Sul, o projeto Base 1, no Rio Grande do Norte, com 2 GW, e no Chile, o H2 Magallanes, aparecem na lista. Austrália, Japão e China também estão na lista.

Para a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias, Elbia Gannoum, o potencial de atração de investimentos por conta do hidrogênio verde é enorme. Porém ela considera que há muitos projetos de fontes renováveis autorizados, mas com baixa demanda para viabilizá-los. “Nosso problema é gestão do excesso e oferta, temos que ter competência para fazer a gestão da abundância”, avisa. Segundo ela, a associação está de olho nas novas tecnologias como a do H2 verde, porque elas acabam por trazer mercado para a fonte eólica. Ela pediu ainda um olhar sobre o deslocamento da curva de demanda, em um novo patamar para atender a demanda do energético verde que o mundo necessita.

Venilton Tadini, presidente executivo da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base, salientou a importância do H2 verde para o futuro. De acordo com ele, o movimento de transição energética foi acelerado por eventos com a COP, a pandemia e a Guerra da Ucrânia. Ele considerou importante que já se estude as cadeias de produção do hidrogênio para acelerar a eficiência do custo da produção e das condições de armazenagem e transporte do energético. “A estrutura que temos hoje é cara para transportar o H2 Verde e pode pôr em risco a própria viabilidade do projeto, principalmente se destinado a exportação”, avisa.

O executivo da Abdib vê o Brasil como exportador, mas desde que se prepare de modo adequado, com políticas públicas que permitam a inovação no segmento. Ele sugeriu uma política industrial para o setor, mas com a dosagem certa para propiciar o desenvolvimento em ritmo adequado, ao contrário do que aconteceu em setores como as telecomunicações e o petróleo da camada pré-sal. “O Brasil oscila em desvarios de ou excesso de proteção ou falta de entendimento do que é desenvolvimento em novos segmentos com papel de indução do estado em novos segmentos”, explica.

Um grupo de trabalho da Associação Brasileira de Energia Solar e Fotovoltaica contratou um estudo estratégico para mapear os gargalos que as novas tecnologias, como o hidrogênio verde, passarão para ser implantadas no país. Segundo o presidente executivo da associação, Rodrigo Sauaia, caso pontos básicos como segurança jurídica e o custo dos eletrolisadores a preço de mercado não estiverem equacionados, o potencial não será revertido em benefícios.

Assim como a presidente da ABEEólica, ele também pediu demanda, mas também pleiteou o acesso a crédito e políticas pública adequadas que permitam que o mercado esteja confiante para investir na tecnologia. “Se não tem demanda, não adianta ter política pública, porque não vai ter para quem vender o seu produto, seja hidrogênio, amônia ou outros que podem ser produzidos através dele”, comenta. Sauaia também citou os memorandos de entendimento que vem sendo assinados pelos estados. Ceará, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte e Piauí são alguns deles.

Carlos Brandão, presidente da Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade da Energia, classificou o H2 verde como uma indústria de transformação e não de exploração como óleo e gás, mas que será muito competitiva e com taxas de retornos menores. Ele chamou atenção para o custo da certificação do hidrogênio verde. “Isso vai ser uma trava, vai custar muito dinheiro para a gente. Estamos muito atrasados”, aponta. Outro custo alertado foi o dos eletrolisadores, que hoje são na sua maioria produzidos na China.