29/01/15 | São Paulo
Cadeia produtiva precisa de sinal de continuidade para se instalar no país
Agência CanalEnergia, Planejamento e Expansão
A inserção da energia solar na matriz elétrica brasileira a partir do Leilão de Energia de Reserva, que aconteceu na última sexta-feira, 31 de outubro, foi considerada uma vitória. A fonte conseguiu contratar 202,1 MW médios ou 889,6 MW ou ainda 1048 MWp, a um preço médio de R$ 215,12/MWh. Para se chegar a esse preço, houve uma grande competição entre os projetos da fonte, visto que o valor teto era de R$ 262/MWh.
Thaís Prandini, diretora da Thymos Energia, avalia que o leilão foi extremamente competitivo, pois os preços ficaram abaixo dos US$ 100, sendo até menores que em alguns países. "Os vencedores do leilão ou tem projetos muito bons, com fator de capacidade bem alto, ou conseguiram fornecimento de equipamento barato ou sacrificaram um pouco a taxa de retorno", analisou Thaís. Ela diz que foi importante o governo definir um preço-teto considerado alto, de R$ 262/MWh, porque ele deu margem para a competitividade. "Se o preço fosse de R$ 230/MWh ou R$ 220/MWh afugentaria os investidores. Se é colocado um preço mais alto e tem muitos investidores interessados, automaticamente há uma queda no preço", comentou.
Para Rodrigo Sauaia, diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, o LER 2014 representou um marco histórico para o setor. Ele diz que se for feito um comparativo do que havia sido investido em energia solar no país até então, só o certame representou 20 vezes toda a capacidade instalada do país e 70 vezes toda a capacidade de energia solar fotovoltaica que está conectada a rede. "Pensando em volume de investimentos, de recursos transacionados, o certame representa cerca de 15 vezes tudo o que o Brasil já investiu ao longo da sua história em energia solar fotovoltaica", apontou.
No entanto, ele diz que alguns pontos ainda precisam ser melhor trabalhados e um deles diz respeito à cadeia produtiva, pois para se obter um financiamento do BNDES é necessário cumprir os limites mínimos de conteúdo nacional. "O leilão deu um sinal positivo de que o governo está interessado em investir em solar fotovoltaica. Mas é claro que para que a gente tenha de fato o desenvolvimento da cadeia, é preciso que haja um sinal com continuidade, de que esse não seja um leilão isolado, mas parte de um planejamento de inserção da fonte na matriz", completou.
O ideal, na visão de Sauaia, é que seja contratada anualmente 1 GW de capacidade instalada. A opinião é compartilhada por Carlos Delpupo, diretor da Keyassociados. Ele conta que os fornecedores de equipamentos estavam muito engajados em trazer soluções competitivas para os projetos. "Mas, para eles trazerem fábricas para o Brasil, não podemos parar por aí. Isso não é suficiente para consolidar o mercado. Para que isso aconteça, existem dois caminhos: um é mostrar continuidade nessa estratégia e o outro é criar melhores condições para que o mercado de energia distribuída se fortaleça também", declarou Delpupo.
Ele defende que a vocação da solar é para a energia distribuída e que é preciso uma regulamentação clara e condições de financiamento. Para ele, as duas vertentes, tanto a centralizada quanto a distribuída, precisam ser estimuladas para se atrair a cadeia de fornecedores para o país. No que diz respeito a geração centralizada, Thaís Prandini, da Thymos, acredita que a fonte estará presente no próximo leilão de Reserva de 2015 com um produto específico, como aconteceu neste ano. "Esse foi um primeiro passo, um sucesso, tivemos um bom preço, bem mais competitivo do que o governo imaginava, e daqui para frente será bem melhor", afirma a diretora.