14/08/21 | São Paulo
Reportagem publicada no Hoje Pernambuco
Os ventos e a radiação solar estão motivando a implantação de sete parques geradores de energia em várias cidades pequenas no Agreste e Sertão do Estado. O investimento total previsto para ocorrer em apenas sete destes empreendimentos é de cerca de R$ 6 bilhões que devem ser gastos até 2023. Uma parte desse montante já começou a ser empregado em obras que estão ocorrendo em pelo menos seis cidades espalhadas pelo Agreste e Sertão do Estado, como Tacaratu, São José do Belmonte, Araripina e Ouricuri. Dentro deste total de investimentos, a única cidade fora destas regiões contemplada com um empreendimento é Macaparana, na Mata Norte do Estado.
Os ventos e a radiação solar melhores para este tipo de geração de energia estão no Agreste e Sertão do Estado. São vários os motivos que estão fazendo estes empreendimentos se concretizarem. Primeiro, o País está consumindo mais energia e vai precisar mais ainda para ocorrer a retomada da economia. Outro fator que está contribuindo para o boom da geração eólica e solar é o fato de algumas empresas estarem querendo consumir este tipo de energia por ser mais limpa. “Também a energia está muito cara. E há um aumento de alguns grandes consumidores buscando uma energia que esteja mais competitiva. A economia comparando com a conta de energia cobrada pela distribuidora é, em média, de 30%”, explica o diretor da empresa pernambucana Kroma Energia, Rodrigo Mello.
Em parceria com a empresa norueguesa Scatec, a Kroma começa as obras, no próximo mês, para implantar o Complexo Fotovoltaico São Pedro e São Paulo na cidade de Flores, a 387 km do Recife. O projeto da empresa de instalar um parque solar em Flores tem mais de cinco anos, mas o que também contribuiu para o empreendimento virar realidade foi o fato de que a empresa já vendeu 30% do que o parque solar vai produzir no leilão de energia realizado em 2019. No setor elétrico, é muito comum às empresas se comprometerem a vender uma energia num leilão realizado pelo governo federal e depois disso começam a se implantar já contando com a futura receita que vão receber.
Durante a construção do parque fotovoltaico de Flores deverão ser empregados cerca de 600 pessoas. Quando o empreendimento entrar em operação, devem ser contratados 40 pessoas, “que devem receber salários acima da média dos que são pagos na cidade”, conta Rodrigo. O empreendimento vai conseguir gerar 100 megawatt-hora pico (MWp). A mesma joint-venture já tem o Parque Apodi, no Ceará, que pode produzir 162 MW pico.
Dos empreendimentos previstos, o maior é o parque de geração fotovoltaica da empresa Solatio, em São José do Belmonte, que poderá receber um investimento de até R$ 3,5 bilhões, de acordo com informações da AD-Diper. A empresa inaugurou a sua primeira usina, a Brígida, com uma capacidade instalada de 80 MW em julho último. As duas outras usinas do empreendimento, Bom Nome e Belmonte, devem ser concluídas até 2022, quando terá a capacidade de produzir 810 MWp, energia que pode abastecer até 800 mil famílias.
“A construção dos parques solares se refletiram, de forma positiva, no comércio. As nossas vendas aumentaram em cerca de 5% mesmo com a pandemia”, conta o proprietário dos Supermercados Belmonte e Maniçobal, Esaú Feitosa. As duas lojas ficam em São José do Belmonte. As informações dele são complementadas pelo secretário municipal de Articulação e Desenvolvimento de São José do Belmonte, Robério Hamilton de Carvalho. “O aluguel de imóveis aumentou. A gente percebe que melhorou a situação de muitas pessoas. Também cresceu a quantidade de pessoas oferecendo refeições fora de casa por causa da movimentação de pessoas. Ocorreu um aumento na arrecadação do Imposto sobre os Serviços (ISS) da ordem de 30% nos últimos meses. E isso foi significativo para o município”, comenta. A prefeitura local também está fazendo reuniões com o Sebrae e o Senac para capacitar pessoas na área de geração de energia renovável.
A empresa pernambucana Eólica Tecnologia e dinamarquesa European Energy, uma das maiores daquele país estão construindo dois parques eólicos o Ouro Branco, em Poção, no Sertão do Estado, e Quatro Ventos, em Macaparana, na Mata Norte. Ambos os empreendimentos totalizam cerca de R$ 450 milhões em investimentos e devem ser inaugurados no segundo semestre de 2022. Em média, cada um gera 150 empregos durante as obras. A mesma parceria também vai implantar o Parque Boa Hora, uma usina fotovoltaica a ser implantada em Tacaimbó com um investimento de cerca de R$ 315 milhões e uma previsão de começar as obras em 2022.
“Temos uma meta de crescimento forte para o Brasil, que é o nosso principal foco entre os países emergentes. Constituímos uma equipe de base local e abrimos um escritório no Recife. Queremos estar no Nordeste, onde vão estar os nossos próximos projetos, principalmente em Pernambuco e na Bahia”, afirmou o diretor da European Energy para a América Latina, Thiago Arruda. A companhia dinamarquesa está presente em 16 países e já tem mais de 1 gigawatt (GW) instalado em geração de energia renovável. E acrescenta: “o potencial solar do Brasil está no Nordeste. Já o eólico está no Sul e no Nordeste, que tem outras vantagens como disponibilidade de conexão e terra disponível”. A disponibilidade de conexão significa subestações que possam receber a energia em alta tensão gerada por esses empreendimentos. Depois que entra na subestação, a energia vai para a baixa tensão e entra na rede da distribuidora que faz a mesma chegar na casa do consumidor final.
Os outros empreendimentos maiores que também fazem parte deste grupo são: Fonte dos Ventos II, parque eólico da Enel Green Power, em Tacaratu; que vai receber um investimento de cerca de cerca de R$ 500 milhões e que já está em construção e deve entrar em operação até o final de 2021; o Parque da Canadian Solar, em São José do Belmonte, que deve receber um aporte de R$ 350 milhões pela empresa canadense Canadian Solar com obras previstas para começar este ano; e, por último, os ventos do Piauí III que está em construção pela empresa Votorantim Energia e a Canada Pension Plan Investment Board (CPP Investments) que está em construção e deve começar a operar em 2023 nas cidades de Curral Novo do Piauí (no Piauí) e uma parte menor do empreendimento fica em Araripina e Ouricuri, ambas no Sertão pernambucano com um investimento total de aproximadamente R$ 2 bilhões em toda a Serra do Araripe. Segundo o governo do Estado, o investimento em Pernambuco neste parque é de cerca de R$ 400 milhões. E, no caso da Votorantim, isso pode estar só no começo, porque a empresa já informou que pretende instalar, no futuro, parques solares em todos os empreendimentos de geração eólica que têm no Nordeste.