Mais geração distribuída solar

20/03/21 | São Paulo

Reportagem publicada no Brasil Energia

Banco do Brasil, Claro e Votorantim Energia desenvolvem negócios na área em busca de previsibilidade de gastos com energia, redução de encargos na conta de luz e reforço na estratégia ambiental para reduzir a pegada de carbono

O interesse em projetos de Geração Distribuída (GD) solar cresce rápido no Brasil – em menos de um ano, o país dobrou sua potência instalada. Em abril de 2020, tinha atingido 2,5 GW na área. Em março, alcançou os 5 GW. O movimento é liderado por empresas que estão em busca de previsibilidade de gastos com energia, redução do peso de encargos na conta de luz e reforço na estratégia ambiental para reduzir a pegada de carbono.

O Banco do Brasil, por exemplo, pretende chegar a 2024 com 90% de sua geração suprida por fontes renováveis, sendo que 68% viriam da contratação de energia limpa no mercado livre e o restante, principalmente, de projetos de energia solar. Para tanto iniciou, em março do ano passado, as atividades de sua primeira usina de energia solar em geração distribuída, construída pela EDP em Porteirinha (MG). Com capacidade instalada de 5 MW, a usina fornece energia renovável para 100 agências do BB no estado mineiro, permitindo à instituição economizar R$ 80 milhões ao longo de 12 anos.

Já em outubro, inaugurou uma segunda usina, em São Domingos do Araguaia (PA), para garantir fornecimento energético para 35 agências no estado, estimando uma redução aproximada de 45% na conta de luz, o que representará R$ 17 milhões ao longo de 15 anos. As duas usinas respondem por cerca de 3% do consumo do banco.

No total, o Banco do Brasil tem dez usinas solares, entre projetos em operação, construção e em licitação, que deverão responder por 10% do seu consumo, e analisa opções de energia eólica e de outras fontes. “Nesse momento, nosso desafio nesse primeiro trimestre é estender esses dez projetos para no mínimo 22, ou seja, mais do que dobrar o que fizemos em dois anos. Agora estamos explorando outras oportunidades que não seja solar, mas estamos abertos”, afirma Ricardo Forni, diretor de Suprimentos, Infraestrutura e Patrimônio.

“Preferimos a opção de mercado livre e de geração solar do que comprar certificados de energia renovável. É muito fácil zerar emissão com emissão, e é óbvio que teremos de comprar em algum momento, mas queremos outro compromisso: compra de fontes renováveis no mercado livre e geração de energia solar, além de estudar outras fontes”, complementa Mauro Ribeiro Neto, vice-presidente Corporativo do Banco do Brasil.

O conhecimento adquirido na geração distribuída solar também está levando o banco a avaliar negócios na área como estruturador de projetos para clientes privados e para Estados. O movimento ainda é embrionário, mas a instituição quer apoiar clientes privados na transição energética e apresentar iniciativas para governos estaduais e municípios. Já foram apresentados dois projetos para dois Estados da região Norte, que manifestaram interesse.

Diversificação

Operadora de telefonia, a Claro tem buscado diversificar sua matriz de energia elétrica de olho no aumento do consumo que a chegada da tecnologia 5G trará. No mercado livre, a estratégia é adquirir energia eólica e solar e, na baixa tensão, investir em geração distribuída solar.

Autoprodução a partir de geração solar é outra opção voltada à baixa tensão, segmento em que a empresa trabalha com a meta de atender a 70% da demanda com usinas solares até dezembro desse ano. Até junho de 2022, o percentual deve pular para 80%, diz a Hamilton Ricardo Pereira da Silva, diretor de infraestrutura da Claro, que tem dez mil unidades consumidoras ligadas à média e baixa tensão, de lojas a centros de dados.

A autoprodução ainda permite que a empresa avalie receita adicional com leilões de certificados de energia renovável, como os International Rec Standard (I-Rec), sistema global que possibilita o comércio de certificados de energia renovável.

O crescimento desse nicho tem movimentado as empresas do setor elétrico. No fim do ano passado, a EDP Brasil anunciou a aquisição de 40% de participação na Blue Sol, empresa de geração distribuída solar fotovoltaica.

Em 2020, a Blue Sol vendeu projetos com mais de 17,5 MWp de potência. A empresa totalizou 50 MWp em projetos comercializados nos segmentos empresarial, residencial e no agronegócio entre 2015 e 2020. “Há um crescimento muito forte em geração distribuída solar, seja com empresas maiores em que o interesse é tanto do comércio quanto da indústria, seja com empresas de porte menor”, analisa Carlos Andrade, vice-presidente de estratégia e desenvolvimento de negócios da EDP. A aquisição da Blue Sol deu acesso à empresa a uma rede de franquias, o que assegura capilaridade na força de vendas.

A Votorantim Energia é outra que observa o segmento. “Estamos olhando esse segmento e esperando a definição do novo marco”, afirma o presidente, Fabio Zanfelice. A empresa, terceira maior comercializadora de energia do país, com 20% do total negociado dentro do próprio grupo, está também de olho nos parques híbridos, que mesclam energia eólica e solar, uma forma de se proteger diante das oscilações de preço oriundas da adoção do PLD Horário, vigente desde janeiro.

Regulação

Uma nova regulação sobre a GD solar nesse momento está em discussão. O Tribunal de Contas da União (TCU), ano passado, julgou que é preciso ter uma revisão das normas que norteiam o segmento e avaliar os subsídios cruzados que estariam presentes na tarifa.

Empresários do setor preveem que, nas próximas semanas, deverá ser iniciada a discussão no Congresso sobre o assunto. O deputado Lafayette Andrada (Republicanos) pode pautar em breve a votação do Projeto de Lei da geração distribuída (PL 5829/2019), que vai transformar em lei as regras da energia solar, definir quais tipos de descontos e taxas para quem gera sua própria energia. “A discussão está sendo acompanhada de perto para se avaliar o impacto que a nova regulação pode ter”, diz Fabiano Brito, sócio do Mattos Filho Advogados.

O substitutivo apresentado por Lafayette Andrada, relator do PL, propõe que consumidores de geração distribuída paguem gradualmente pelo uso da infraestrutura elétrica, por meio da chamada TUSD fio B (Tarifa de Uso de Sistema de Distribuição) das distribuidoras e concessionárias. Adicionalmente, estabelece uma transição de dez anos para a mudança do regime em relação ao modelo atual, em linha com as diretrizes do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

As mudanças passariam a vigorar após 12 meses da publicação da Lei e garantiriam a manutenção das regras atuais aos consumidores pioneiros. Os sistemas de geração junto à carga (por exemplo, em telhados e fachadas de edificações), de geração compartilhada (usinas que produzem créditos de energia elétrica aos consumidores), EMUC (condomínios), autoconsumo até 200 kW e as fontes renováveis despacháveis terão cronograma gradual de pagamento da TUSD Fio B, que sobe de 0% em 2022 até 100% em 2033.