Mercado de finanças verdes oferece alternativa de crédito para projetos de energia solar, apontam entidades

15/07/20 | São Paulo

Portal Solar 

Por Ricardo Casarin

Projetos de geração solar podem ter no mercado de finanças verdes uma alternativa de financiamento, apontam entidades do setor. Empreendimentos de energia renovável respondem por uma parcela significativa dos chamados green bonds (títulos verdes) emitidos no Brasil.

“Projetos de energia solar fazem parte de uma classe de ativos bastante consolidada entre investidores. Existem quase US$ 100 trilhões buscando esse tipo de título e a energia solar é uma das mais facilmente compreendidas como um empreendimento verde”, disse a diretora para América Latina da Climate Bonds Initative (CBI), Thatyanne Gasparoto, durante webinar promovido pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR).

Os títulos verdes são instrumentos de financiamento ou refinanciamento de dívida em que os recursos capturados são totalmente destinados para ativos e projetos sustentáveis. “O setor solar é quase automaticamente elegível para essa certificação, a não ser que a usina possua um sistema de backup movido a combustível fóssil, o que é raro no Brasil”, explica Thatyanne.

Ela conta que em 2019, houve emissão de quase US$ 200 bilhões em títulos verdes no mercado global. Em 2020, o número mais recentemente registrado é de US$ 87,5 bilhões. “Houve uma desaceleração em função da pandemia, mas temos vistos que as operações tiveram melhor liquidez em comparação aos títulos mais tradicionais.”

“Os investidores estão preocupados em manter seus planos de longo prazo e não querem reverter para projetos intensivos em carbono. Os títulos verdes ainda estão entre os mais disputados no mercado de capitais”, acrescentou a diretora da CBI.

A especialista conta que a América Latina apresenta uma evolução mais recente nesse mercado em relação ao resto do mundo e que há muito potencial de crescimento. “Ainda podemos explorar mais, a região representa uma pequena parte das destinações dos recursos.

“A energia é protagonista desse mercado em toda a América Latina, com quase 40% dos recursos sendo destinados para projetos de renováveis, quase todos eles nas áreas de geração eólica e solar. O Brasil não é diferente”, assinala.

Uma iniciativa recente no país para tratar deste mercado foi o Decreto 10.387/2020, assinado pelo governo federal em junho. O texto trata do incentivo ao financiamento de projetos de infraestrutura com benefícios ambientais e sociais e facilita a emissão de debêntures verdes. “Esse decreto estimula novas emissões, permitindo que se atenda uma crescente demanda por títulos verdes”, avalia o sócio do escritório Mattos Filho, Bruno Tuca.

Ele conta que esse incremento na procura tem ocorrido no mercado internacional, principalmente por parte de investidores europeus. “Também vemos no Brasil a formação de fundos para buscar esse tipo de papel. O decreto visa simplificar o procedimento de emissão de debentures, para que as fontes renováveis tenham facilidade e prioridade em relação a projetos de geração térmica, por exemplo.”

A expectativa é de que o Ministério de Minas e Energia edite nos próximos meses uma nova portaria esclarecendo alguns pontos específicos do decreto para o setor. O CEO da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia, disse durante o webinar que a entidade tem mantido uma interlocução com a pasta a respeito do tema. “Ainda não recebemos um retorno terminativo, mas sabemos que o tema está sendo discutido internamente e em conjunto com o Ministério da Economia.”