Na conta certa da indústria

12/02/15 | São Paulo

Brasil Econômico

A primeira demanda por painéis fotovoltaicos agregada ao leilão, de 1 GWp, é exatamente igual ao volume de que o mercado necessita para viabilizar uma indústria local. De acordo com o presidente da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia, uma fábrica de painéis deve ter uma produção de cerca de 500 MW/ano para ser sustentável. Isso daria espaço para duas fábricas se instalarem no país, considerando que toda a demanda fosse atendida por plantas nacionais.

Mas tudo indica que a divisão não será tão simples. Não só alguns investidores estão considerando importar os equipamentos, como existem pelo menos cinco fabricantes mantendo conversas com os vencedores do leilão: a First Solar, a Jinko Solar, a Yingli, a Canadian Solar, a Sun Edison. Estas duas últimas já têm contratos garantidos. A Canadian Solar fornecerá os equipamentos para o seu próprio projeto negociado em leilão, de 90 MW. A companhia ainda não anunciou instalação no Brasil, mas afirma que a tendência é estabelecer a produção no país. A Sun Edison, por sua vez, fornecerá os painéis do complexo de 99,7 MW da Renova, com o compromisso de atender às regras do BNDES.

A First Solar acredita que há espaço para mais players no mercado. “Sobretudo pelo grande volume de contratos deste último leilão”, explica a gerente de desenvolvimento de negócios da companhia, Maria Gabriela da Rocha Oliveira. De acordo com a executiva, a First Solar espera ter um “papel de protagonismo” no desenvolvimento da indústria solar no Brasil e mantém conversas com ganhadores do leilão.

Além dessas grandes companhias, mais tradicionais no mercado global, também estão na briga pelos contratos empresas brasileiras que se instalaram no país de olho na geração distribuída. É o caso da paulista Globo Brasil, que mantém conversas com três empresas que venceram o leilão e deve iniciar a produção dos módulos em abril do próximo ano, com uma capacidade anual de 150 MW/ano. De acordo com a gerente de marketing da empresa, Thatiane Roberto, a companhia já considera aumentar sua capacidade de produção em 2016, com a perspectiva positiva de encomendas a partir do próximo ano.

Mas a instalação de fábricas no país não está atrelada apenas ao leilão. Companhias como a S4 Solar estão apostando na geração distribuída para trazer linhas de produção. A empresa prevê iniciar em março a produção em Goiás de sua linha de montagem de módulos solares, com capacidade de 100 MW ano, na qual investiu cerca de R$ 30 milhões. “Temos até recebido consultas de algumas empresas que venderam no leilão, mas o nosso core business é a geração distribuída, grandes consumidores”, explica o presidente da empresa, João Eugênio Jr. A companhia já tem contratados 45 MW para companhias do agronegócio, de Mato Grosso e Goiás.
Outra companhia que já anunciou uma linha de produção no país, com capacidade de 40 MW/ano, é a Pure Energy. A empresa alagoana inicia nesse mês as obras da planta.

Isso significa que, se os planos anunciados se concretizarem, o Brasil terá uma capacidade de produção de no mínimo 185 MW/ano, excluindo as grandes empresas tradicionais do mercado solar.