Teles vão liderar a demanda por autogeração de energia elétrica

20/02/18 | São Paulo

DCI

Cerca de 32,2 mil unidades consumidoras de energia (UCs) são atendidas via geração distribuída, conforme balanço da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Recém-anunciada, a contratação de duas fazendas de geração de energia solar pela Oi deve adicionar 3 mil UCs à lista ainda neste ano. “Queremos 22 fazendas de fontes mistas até 2021, no máximo 2022”, afirmou ao DCI o diretor de patrimônio e logística da Oi, Marco Antônio Vilela, sinalizando que o movimento deve se intensificar. A companhia está prospectando parceiros para as próximas 20 estruturas; Nordeste e Sudeste são os primeiros alvos.

“Estamos analisando projetos eólicos e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Também há um [projeto] bem avançado de biogás”, afirmou Vilela.

As duas fazendas já contratadas devem iniciar operação em novembro. Localizadas em Minas Gerais e com a GD Solar a cargo da construção, a dupla poderá gerar 1,7 GWh/mês, suficiente para suprir o consumo mensal de 10 mil residências.

A aposta em geração distribuída faz parte da estratégia que também envolve ações de eficiência e compra de energia no mercado livre. Vilela explica que a conta anual de energia da Oi seria de R$ 1,1 bilhão sem o esforço; com ele, o montante cai para R$ 750 milhões. Hoje, as 63 mil UCs da Oi consomem 1,6 mil GWh em um ano.

A meta é que 42,5% da energia consumida pela Oi seja oriunda de fontes limpas em 2019. O cálculo considera o montante comprado no mercado livre (atuais 22,4%) somado à capacidade das fazendas próprias.

Mais ambiciosos são os planos da Claro Brasil, dona das marcas Claro, Net e Embratel: a meta é que 80% das cerca de 55 mil UCs sejam atendidas via geração distribuída até o fim do ano, quando a empresa espera contar com 45 usinas.

Classificado como “agressivo” pelo diretor de suporte financeiro ao negócio da Claro Brasil, João Pedro Correia Neves, o projeto conectaria mais UCs à geração distribuída do que o montante atendido no País atualmente. Segundo Neves, das cerca de 32 mil UCs reportadas pela Aneel, “em torno de 5 mil” pertencem à Claro.

A estratégia do grupo prevê quatro parques eólicos (um está pronto e outros dois, em fase bem adiantada) e 20 solares. Capazes de atender uma cidade de 250 mil casas, três deles entraram em operação em Minas Gerais ano passado. Boa parte dos restantes “já tem terreno e parceiros contratados”, afirmou Neves.

No fim de janeiro também foi inaugurada a primeira central geradora hidroelétrica (CGH) para uso da empresa, localizada na região Centro-Oeste. A Claro Brasil ainda planeja três usinas de cogeração qualificada e seis baseadas no uso do biogás. “Em lugares onde há abundância de lixo essa opção é interessante”, diz.

Neves conta que o gasto anual com energia da Claro Brasil ronda os R$ 800 milhões; a demanda da empresa bate os 750 GWh/ano, bem menor que a da Oi, mas superior a da TIM (722 GWh/ano). No caso desta, os primeiros esforços no campo ocorreram em 2017, quando 5 CGHs foram arrendadas para suprir a demanda de cerca de mil UCs. Já a Algar informou que usa a modalidade desde 2014.

Maior grupo de telecom do País, a Vivo confirmou à reportagem que “está prospectando iniciativas de geração distribuída que devem ser anunciadas ao mercado ainda em 2018”, mas sem entrar em detalhes. A companhia também informou que 26% da energia consumida é limpa e oriunda do mercado livre; a meta é atingir 60% até 2020.Outros setoresDe acordo com especialistas ouvidos pelo DCI, o movimento por autogeração de energia também ocorre em outros setores da indústria. Em 2014, a Honda inaugurou um parque eólico na cidade de Xangri-lá (RS) para suprir a demanda energética da empresa em território nacional.

Segundo a presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Élbia Gannoum, outras empresas do setor automotivo tinham projetos similares, mas as iniciativas foram freadas pela crise. “Desde o ano passado houve uma retomada . Outros setores da economia estão interessados na autoprodução”.

O presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), Rodrigo Sauaia, aponta que os setores da construção civil, agronegócio e do comércio têm investido em autogeração. “É uma ferramenta de redução de custos e também um diferencial de sustentabilidade.”

Sauaia também explica que, além de abastecer a demanda energética de suas operações, as empresas podem comercializar energia excedente. “O modelo de mercado livre permite a compra e produção de energia pelo consumidor”, completa Gannoum. “Essa regulamentação propicia iniciativas.”

Outro fator que explica o crescente interesse por projetos de autogeração são incentivos fiscais. Atualmente, 24 unidades da federação oferecem isenção de imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) sobre energia solar. As exceções são Amazonas, Paraná e Santa Catarina.

Minas Gerais se destaca como líder nacional na geração solar distribuída. Além da alta incidência solar, o amplo número de projetos decorre de um programa estadual de incentivos a fontes renováveis. “É o único estado do Brasil que isenta projetos até 5 MW”, explica Sauaia. “O estado tornou-se referência nacional para o incentivo tributário para energia fotovoltaica, o que traz maior segurança jurídica e atrai investimentos.” O executivo afirma que os projetos de energia solar também são atraentes por se tratar de uma tecnologia versátil e de fácil aplicação. “Também pesa o baixo custo de manutenção e operação. Os preços vêm caindo, o mercado crescendo e tornando-se mais competitivo”, finaliza Sauaia.