O Brasil pegou a trilha da transformação ecológica

28/10/23 | São Paulo

Reportagem publicada em Carta Capital

O Brasil é uma das maiores potências de recursos naturais do mundo, com infraestrutura científica e tecnológica necessárias para promover a reindustrialização e consolidar a economia verde. Além disso, a Constituição de 1988 é pioneira na proteção ao meio ambiente. Ou seja, temos a legislação ambiental mais moderna do mundo, que dá segurança jurídica para os empreendimentos.

A Agência Internacional de Energia (IEA) mapeou os investimentos em energia limpa no mundo e concluiu que, no final de 2023, pela primeira vez, os investimentos em energia limpa vão superar os desembolsos em combustíveis fósseis. No último relatório do World Energy Investment, com sede em Paris, consta que desde 2021 o investimento anual em energia renovável aumentou em quase um quarto em comparação com uma alta de 15% nos combustíveis fósseis.

De 2019 até o final de 2022, investidores de ações do mercado privado triplicaram os ativos globais direcionados à sustentabilidade ambiental. Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) indicam que até o final de 2023 a fonte solar fotovoltaica deve gerar mais de 300 mil novos empregos e atrair mais de R$ 50 bilhões em investimentos só para o mercado brasileiro. Segundo relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA, 2022), em 2021 o Brasil gerou aproximadamente 1,27 milhão de empregos ligados às energias renováveis, ficando atrás apenas da China e à frente dos EUA e da União Europeia.

A produção de energia limpa e renovável é motivo de orgulho para nós cearenses. Segundo estudos da consultoria Epower Bay, o Ceará é o terceiro maior produtor brasileiro de energia eólica e o quinto em solar. Com 92 parques eólicos instalados, produz 2,6 gigawatts, representando 1,3% de toda a energia gerada no País.

A primeira molécula de hidrogênio produzida no Brasil foi desenvolvida no Ceará, na nova unidade de geração localizada em São Gonçalo do Amarante. Um feito notável da comunidade científica, que representa um passo firme no avanço da descarbonização da produção econômica no Brasil.

O projeto do governo Lula de reindustrialização para a economia verde tem no Nordeste um dos seus pilares mais fortes e o Ceará se destaca com uma robusta produção de energia limpa. Em maio deste ano, os governos do Ceará e dos Países Baixos lançaram o Corredor de Hidrogênio Verde. A Holanda, juntamente com a Alemanha se comprometeram, com recursos próprios, a investir na produção, no Ceará, e estimular a demanda por hidrogênio verde nos respectivos países, para favorecer a importação.

O Complexo Portuário de Pecém é tido como um dos que têm maior potencial para atrair empreendimentos para geração do novo combustível e o porto de Roterdã é a principal porta de entrada para toda a Europa. O terminal do Ceará recebeu investimentos de 7,5 bilhões de euros do porto holandês de Roterdã. Atualmente, o Complexo do Pecém movimenta mais de 17 milhões de toneladas por ano, gerando mais de 80 mil empregos diretos e indiretos.

O Ceará desponta como o primeiro polo de produção de Hidrogênio Verde do Brasil e da América Latina. O governo do Ceará já assinou, com investidores, 24 memorandos de entendimento relacionados à produção de hidrogênio. Três deles tiveram pré-contratos assinados e já dispõem de área reservada na Zona de Processamento de Exportação do Ceará (Fortescue, Casa dos Ventos e AES) para instalar as fábricas.

A exportação de hidrogênio verde através do Porto do Pecém será a mais curta entre a América do Sul e a Europa e, consequentemente, a de menor custo.

A produção de hidrogênio verde depende da disponibilidade de fontes de energia renovável, como fotovoltáica e eólica. Caso essas fontes não sejam suficientes, a produção de hidrogênio verde pode ser afetada.

O Ceará foi o primeiro grande parque eólico comercial ligado ao sistema elétrico nacional, um grande produtor dessa fonte de energia renovável, além da solar. Estima-se que só o potencial fotovoltaico cearense, avaliado em 643 gigawatts (GW), seria suficiente para suprir mais que o dobro da demanda por eletricidade do Brasil. A energia produzida pelo sol e pelo vento são fundamentais para abastecer os eletrolisadores e faz com que o País tenha boa competitividade.

Recentemente o governador Elmano de Freitas recebeu a diretoria da Cúbico Sustainable Investments, uma das maiores investidoras globais em energia renovável. A empresa será responsável pela construção do Complexo Sobral, um dos cinco maiores projetos de geração de energia solar do Brasil. O investimento previsto supera R$ 3 bilhões, com capacidade instalada de 1.084 MWp. e geração de cerca de 1.500 empregos diretos durante o pico da obra nos municípios de Sobral e Santana do Acaraú.

A área de Educação se movimenta para adequação do sistema de ensino à transformação econômica. As universidades, institutos federais, escolas técnicas, oferecerão novos cursos de formação nas engenharias e capacitação técnica de nível médio para atender à demanda da economia verde.

O plano estratégico para mobilização da cadeia produtiva do Hidrogênio Verde conta com a participação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará (Uece) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) para formação específica em energia renovável de 20 mil jovens em parceria com o MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts com apoio do Programa do H-TEC. O programa consiste na troca de informações para a implantação de laboratórios de ensino especializados e formação técnica, por meio de novos cursos e incentivo a pesquisas na área energética sustentável.

O Programa H-TEC consolida o acordo de cooperação com foco em capacitações em energia limpa, com a parceria entre a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec).

Foram assinados 30 memorandos de entendimento entre o Estado e empresas privadas que pretendem investir na produção do combustível no Ceará. Os investimentos calculados chegam a mais de US$ 8 bilhões. A mudança da matriz energética provocará um impacto considerável na economia cearense, desenvolvimento com elevação da renda da população. Serão gerados empregos que não existiam antes, voltados especificamente para a produção de energia limpa.

A ideia é concentrar diversas empresas ligadas à produção de hidrogênio para disponibilizar o combustível ao mercado internacional. O Porto de Roterdã, na Holanda é o maior da Europa. Em 2020, obteve lucro líquido de 351,7 milhões de euros (cerca de R$ 2,1 bilhões de reais). O Porto de Roterdã não é apenas um acionista do Complexo Portuário de Pecém. Ele é um porto que recebe o hidrogênio verde produzido no Ceará para atender a demanda da Europa.

Uma das pendências para a consolidação do projeto do combustível do futuro, que precisa ser resolvida o mais breve possível, são as regras para eólica offshore Não podemos perder a oportunidade de nos tornarmos um grande exportador de hidrogênio verde. O Projeto de lei 576/2021 disciplina a exploração e o desenvolvimento da geração de energia a partir de fontes de instalação offshore , assim consideradas as localizadas em área do Mar Territorial, da Plataforma Continental, da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) ou de outros corpos de água sob domínio da União. Esse projeto e outros relativos à produção de energia limpa, como a comercialização de crédito de carbono, estão sendo debatidos e tratados como prioridade para inclusão na pauta na pauta da Câmara.

O mundo está pegando a trilha da transformação ecológica com forte investimento na produção de energia limpa e o Brasil é líder nessa jornada. Temos posição única, condições climáticas muito favoráveis, para essa transição: sol, vento, água, natureza exuberante para o moderno projeto nacional do governo Lula de transformação da economia com sustentabilidade ambiental, geração de emprego, elevação da renda e justiça social.