05/10/17 | São Paulo
Nesta semana, a matriz energética brasileira recebeu a adição de novos 546 megawatts de energia solar, provenientes de duas novas usinas entrando em operação e que trazem um salto na capacidade instalada do país que, embora ainda atrasado na utilização da tecnologia, já ostenta uma posição mais avançada no ranking mundial.
De propriedade do grupo energético italiano Enel, os novos empreendimentos de geração centralizada que entraram em operação são as usinas solares Ituverava, no município de Tabocas do Brejo Velho-BA, e a Nova Olinda, instalada na cidade de Ribeira do Piauí-PI.
Com cerca de 850 mil módulos fotovoltaicos espalhados por 579 hectares, a usina de Ituverava gera 254 MW de energia limpa, enquanto a Nova Olinda gera 292 MW através de seus aproximados 930 mil placas solares, ocupando uma área de 690 hectares.
De acordo com a empresa, as duas usinas solares são, atualmente, as maiores em operação da América Latina gerando, juntas, uma quantidade de energia suficiente para abastecer 568 mil casas. As instalações consumiram investimentos na ordem de R$2,2 bilhões.
Graças a esses dois novos empreendimentos em energia solar fotovoltaica, a produção elétrica nacional a partir dessa fonte ganha um salto significativo, de 282 MW para 828 MW, e com a perspectiva de encerrar o ano com o seu primeiro gigawatt (1000 MW).
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), Rodrigo Sauaia, esse é um marco alcançado por poucos países no mundo, “Há hoje no mundo entre 25 e 30 países com essa capacidade instalada. Estamos longe da liderança, mas saímos da lanterninha”, diz ele.
Tal marca é um reflexo de investimentos feitos na cadeia produtiva nacional que somam cerca de R$5 bilhões, vindos tanto de empresas brasileiras como estrangeiras, que apostam em uma fonte limpa e renovável com alto potencial em nosso país.
Quando comparamos o potencial da fonte hídrica, a mais explorada no país, com o potencial das fontes renováveis em expansão, eólica e Solar, vemos como o nosso setor energético está defasado, com 172 GW de energia podendo ser gerada pela força da água, 440 GW pela força dos ventos e nada menos que 28.500 GW através da luz do sol que atinge todo o território.
Segundo Sauaia, os projetos de usinas solares já contratados e previstos para entrar em operação nos próximos meses deverão expandir a capacidade de geração solar do país para 3,3 GW até o final de 2018, valor que poderia ser maior não fosse os efeitos da forte crise econômica que atingiu o país e que desacelerou o crescimento da tecnologia.
Com a alta da moeda americana, muitos projetos já contratados foram devolvidos por conta do encarecimento dos equipamentos fotovoltaicos, a maioria deles importados, que inviabilizou a sua continuidade.
Agora que a economia volta a se restabelecer, no entanto, a tecnologia ganha novo fôlego e deverá ter boa participação no leilão de energia a ser realizado em dezembro pelo governo.
Em rápida depreciação no mundo inteiro, chegando a ser mais barata que a eólica em alguns países, a energia solar enfrenta no Brasil alguns desafios para conseguir alcançar essa queda de preços e se tornar mais competitiva ante as demais, alega o presidente da Associação.
De acordo com ele, o maior deles é conseguir expandir a cadeia produtiva nacional, com linhas de fabricação e montagem instaladas no país e que consigam trazer equipamentos com preços mais atrativos.
Porém, mesmo com 20 fabricantes já em operação no Brasil, os equipamentos nacionais ainda lutam para conseguir competir com os valores praticados pelos fabricantes chineses.
Entretanto, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Augusto Barroso, a questão é diversificar a matriz energética do país, usando essas tecnologias renováveis para gerar a maior parte da energia, mas, visto a sua intermitência, utilizando outras fontes para garantir o suprimento nos momentos de não geração, como termelétricas a gás natural.
“Daqui para a frente, não vamos ter uma expansão de geração por meio de hidrelétricas de grande porte, como ocorreu até agora. Teremos uma matriz bem mais diversificada e robusta.”, disse Barroso.
Com todo o potencial da fonte no país, somado aos investimentos crescentes, a capacidade instalada da energia solar no Brasil deverá atingir 7 GW em 2026, segundo a projeção feita no plano decenal de energia 2021-2026, realizada pela EPE.