07/09/21 | São Paulo
Reportagem publicada no O Globo Economia
Fabricantes têm alta de até 70% nas vendas de geradores e painéis solares
RIO – O medo do brasileiro de enfrentar falta de energia e o aumento da conta de luz fizeram com que a demanda por geradores de eletricidade e painéis solares disparasse. Estes equipamentos funcionam como uma espécie de plano B de empresas e consumidores para lidar com a mais grave crise hídrica dos últimos 91 anos. As fabricantes já registram alta de até 70% nas vendas, reforçam estoques e esperam uma temporada prolongada de faturamento mais elevado.
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Na semana passada, o governo anunciou a criação da bandeira tarifária de Escassez Hídrica, uma sobretaxa de R$ 14,20 a cada cem quilowatts-hora consumidos que será aplicada na conta de luz até abril do ano que vem. O valor cobrado representa aumento de quase 50% em relação à bandeira vermelha nível 2, até então em vigor.
Com a perspectiva de uma crise hídrica prolongada, o próprio ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirma que esse cenário não se encerra no fim do ano.
No mercado de geradores movidos à combustão, a Toyama teve alta de 70% nas vendas nas linhas de produtos. Fernando Quiroga Nunes, gerente comercial da empresa, diz que a procura é maior pelos de média potência, usados em casas, comércio, agronegócio e pequenas indústrias:
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— Com a crise hídrica e o risco de falta de energia, percebemos aumento significativo na procura por geradores por distribuidores e consumidores finais. Reforçamos os nossos estoques esperando atender toda a demanda.
Na DCML, um dos principais distribuidores, a alta foi de 15% a 20% em relação ao ano passado. Daniel Viol, gerente da área de Geradores, diz que há expectativa de aumento de 30% dos estoques para atender a demanda não programada de clientes que precisam de gerador de pronta entrega:
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— Há preocupação quanto a uma possível falta de energia. O que mais preocupa é o custo, especialmente no horário de pico.
Consumidor ‘ressabiado’
Para Valdo Marques, vice-presidente executivo da Stemac, fabricante de geradores, o brasileiro já está “um pouco ressabiado” e por isso a demanda começou antes de qualquer problema. A empresa teve aumento de 35% na demanda em dois meses. Ainda assim, ele torce para que o cenário de risco de racionamento não se confirme adiante:
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— Quando isso ocorre, há um desarranjo no mercado, com pico de demanda e problemas logísticos de entrega. E os insumos já estão muito escassos.
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No mercado, há equipamentos entre R$ 2 mil e R$ 10 mil entre os mais simples, que permitem um banho quente ou o uso de eletrodomésticos. No segmento de R$ 20 mil a R$ 50 mil, eles garantem o funcionamento por horas de uma residência ou condomínio em caso de falta de luz, mas é preciso fazer instalação na rede por meio da concessionária de energia, assim como nos painéis solares.
Segundo Roberto Wagner Pereira, especialista em energia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o empresariado tem recorrido a investimentos em eficiência energética, autogeração e geração distribuída. Isaque Ouverney, gerente de Infraestrutura da Firjan, lembra que a energia pode somar 40% dos custos de produção da empresa.
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Não foram só os geradores que se tornaram a compra da vez. A Genyx Solar Power, distribuidora de equipamentos solares, aumentou estoques, ampliou a contratação de funcionários e investe em logística para aumentar a velocidade de entrega.
— As vendas subiram 50% nos últimos três meses em relação aos meses anteriores. Se comparamos com o ano passado, a alta é de 100%. A crise reduziu o tempo do retorno financeiro com a compra de equipamentos solares em um ano, de 4,5 anos para 3,5 anos — afirmou Bruno Motteran Costa, diretor comercial da Genyx. — Estamos ampliando os estoques, mas não conseguimos atender a demanda.
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Hoje, cerca de 70% das placas solares no país estão no mercado residencial. As reduções na conta podem ficar entre 50% e 95%, a depender do volume de consumo e intensidade do sol, segundo as empresas.
Em média, um painel solar que gera 400 quilowatts por mês custa de R$ 15 mil a R$ 20 mil. Para Glauco Santos, diretor da Elgin Solar, a crise acelerou a decisão de compra:
— Em julho e agosto, as vendas aumentaram 50% em relação aos meses anteriores, por causa da preocupação com o menor nível dos reservatórios e a tarifa maior de energia. Estamos elevando estoques e comprando painéis de marcas de Europa e Japão.
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O Portal Solar, site que reúne 22 mil empresas de energia solar no país, prevê crescimento de 150% no segundo semestre na procura por equipamentos e instalação de placas solares.
Rodolfo Meyer, presidente da empresa, diz que decidiu apostar no desenvolvimento de um projeto para permitir a venda direta das placas por meio de de franquias, modelo em que o vendedor vai até a casa do cliente e instala o equipamento:
— Hoje, vender placa solar é como vender picolé em dia quente. As vendas vão subir ainda mais nos próximos meses, pois é quando a crise hídrica vai chegar em seu pico.
Vendas aquecidas: Empresas reforçam estoques com expectativa de aumento prolongado da demanda nos próximos meses em razão da escassez de chuvas (Foto: Foto: Divulgação)
Para economizar, ligue o aparelho apenas quando for dormir e desligue logo ao acordar. Uma opção é usar a função sleep, disponível em alguns modelos. Outro cuidado é manter o ar-condicionado em temperatura adequada. Especialistas recomendam 23ºC. Não é preciso colocar temperatura muito baixa, para não gastar muita energia. (Foto: Foto: Pixabay)
Em uma família com quatro pessoas, o uso do chuveiro elétrico corresponde a cerca de 25% da conta de luz. Para economizar, evite banhos muito longos e dê preferência a usar o chuveiro no modo verão, que economiza até 30% de energia (Foto: Foto: Pixabay)
Quando a porta fica muito tempo aberta, o motor funcionará mais, gastando mais energia. É importante também manter a borracha de vedação da porta da geladeira em bom estado. Ao viajar, uma opção é esvaziar a geladeira e desligá-la da tomada. (Foto: Foto: Pixabay)
A substituição de lâmpadas incandescentes pelas de LED pode gerar uma redução de 75% a 85% no consumo de energia. Além disso, essas lâmpadas duram mais. Em relação às lâmpadas fluorescentes, a economia é de cerca de 40% (Foto: Foto: Pixabay)
Dê preferência a lavar uma grande quantidade de roupas, para economizar água e energia. Evite colocar muito sabão, para não ter de enxaguar duas vezes. Na hora de passar, a melhor opção é juntar roupas e passar uma grande quantidade de uma vez. Desligue o ferro quando for interromper o serviço. Use a temperatura indicada para cada tipo de tecido e comece pelas roupas mais leves. (Foto: Foto: Pixabay)
O uso do ventilador de teto durante 8 horas por dia gera um gasto de apenas R$ 18 por mês. Mesmo assim, é importante evitar deixar o aparelho ligado quando não houver ninguém no cômodo. Na hora de comprar, lembre-se que quanto maior o diâmetro das hélices, maior o consumo de energia. (Foto: Foto: Pixabay)
No caso dos eletrônicos, a recomendação é desligar o televisor e os videogames quando ninguém tiver usando. Retirar os aparelhos da tomada também ajuda a poupar energia. (Foto: Foto: Arquivo)
Estoque de painéis solares (Foto: Foto: Divulgação)
O uso massivo de energia solar no país, que até pouco tempo atrás parecia uma coisa improvável, está avançando rapidamente (Foto: Foto: Divulgação)
Brasil volta ao ranking dos dez maiores maiores países em expansão da energia solar (Foto: Foto: Jose Manuel Ribeiro / REUTERS)
Placas de energia solar no teto da Cadeg, Mercado Municipal do Rio de Janeiro. Vinte por cento da expansão foram nos telhados (Foto: Foto: Gabriela Fittipaldi / Agência O Globo)
Planta solar da Equinor no Ceará (Foto: Foto: Divulgação)
Parque Solar Nova Olinda, da Enel, em Ribeira do Piauí (PI). Brasil volta ao ranking dos dez países com maior expansão na energia solar (Foto: Foto: Divulgação/Enel)
Módulos fotovoltaicos em um parque solar em Guaimbê, no interior de São Paulo (Foto: fotovoltaicos em um parque solar em Guaimbê, no interior de São Paulo Foto: Jonne Roriz / Bloomberg)
China ocupa o primeiro lugar no ranking de expansão de energia solar. Painel solar em uma fazenda da China (Foto: Foto: Bloomberg)
Seca no lago da hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais, expõe pequenas enseadas, ilhotas e até compromete a navegação (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
O nível dos reservatórios do centro-sul do país já estão em níveis mais baixos que os que levaram à crise que levou ao racionamento de energia em 2001 (Foto: Foto: Agência O Globo)
Hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais. Especialistas do setor dizem que se não houver redução do consumo a partir de outubro podem acontecer desligamentos pontuais (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
Barragem da hidreletrica de Furnas, MG, chegou a 18% de sua capacidade. Brasil vive sua pior crise hídrica em nove décadas (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
O presidente Jair Bolsonaro editou um decreto que determina a redução do consumo de energia elétrica em todos os órgãos públicos federais entre 10% a 20% (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
Barragem está localizada no curso médio do rio Grande, no trecho denominado “Corredeiras das Furnas”, entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória, em Minas Gerais (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
Seca no lago expõe pequenas enseadas e ilhotas (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
Baixo nível de represas preocupa especialistas (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
Com o baixo nível da represa pequenas ilhas de terra começaram a surgir no meio da represa (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
O Rio Grande faz parte do sistema de águas para gerar energia na Usina Hidrelétrica de Furnas (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
País terá de usar os estoques hídricos armazenados nas usinas para tentar evitar apagão e racionamento de energia neste ano (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)
Governo estuda medidas para redução do consumo de energia elétrica para evitar um apagão. (Foto: Foto: Joel Silva / Agência O Globo)