01/07/20 | São Paulo
Atualmente, no Brasil, as aplicações com baterias são permitidas no modelo off-grid, onde não há paralelismo com a rede de eletricidade pública. Em outros mercados mais maduros (Europa, Ásia e EUA), é possível que a energia das baterias seja injetada na rede pública, o que ajuda na confiabilidade de todo o sistema elétrico e também na modicidade tarifária. Falta em nosso país, regulamentações e regras para que as tecnologias de bateria decolem.
A ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar), que tem atuado de forma consistente no assunto junto aos órgãos públicos competentes, vai apresentar, no segundo semestre deste ano, um estudo específico para contribuir na criação de políticas públicas e de uma regulamentação do uso de baterias e tecnologias de armazenamento de energia no país.
O principal objetivo da elaboração deste estudo é estimular e fortalecer o segmento de armazenamento no Brasil, beneficiando o setor elétrico brasileiro. “Falaremos de regulamentação, de tributação e também abordaremos outras políticas públicas, como linhas de financiamentos. Além disso, discutiremos sobre as normas técnicas, que é um assunto que precisa ser desenvolvido nessa área”, informou Markus Vlasits, Coordenador da Força-Tarefa de Armazenamento da ABSOLAR.
Segundo a ABSOLAR, a tecnologia de armazenamento por meio de baterias traz mais valor ao segmento de geração distribuída , dando maior liberdade e mais autonomia aos consumidores. Além disso, contribui para ampliar a participação da fonte solar fotovoltaica na matriz elétrica brasileira, seja por meio da geração centralizada ou distribuída.
Vlasits enfatizou que o setor de armazenamento já é realidade em muitos países. “Temos mercado, entre os quais se destacam a Califórnia, a Alemanha, Austrália e a Coreia do Sul, que possuem uma capacidade de armazenamento instalada considerável”.
“Aqui no Brasil, estamos começando a explorar e conhecer essas oportunidades. Um passo importante para o mercado brasileiro foi a aprovação da ANEEL de P&D de projetos de armazenamentos. Além disso, estamos vendo a primeira geração de projetos comerciais, que são projetos de média e alta tensão. Estamos começando a explorar este negócio, mas tem muita coisa a ser feita”, acrescentou Vlasits.
Recentemente, a Alsol, em parceria com a BYD, montou um sistema de armazenamento de energia, localizado em Uberlândia (MG), com capacidade instalada de 1.26MVA / 1.366 MWh. Para Adalberto Maluf, diretor de marketing, sustentabilidade e novos negócios, a criação de uma regulamentação tornará a energia fotovoltaica mais democrática.
“A BYD já entregou mais de 5.500 kWh em projetos de armazenamento no Brasil, desde projeto de pesquisa e desenvolvimento, na chamada 21 da ANEEL, a sistemas isolados na Amazonas, na Ilha Grande e na Ilha do Cardoso. Acreditamos que seria muito importante a criação de regulamentações específicas sobre o tema pra que o armazenamento possa crescer como um instrumento de melhoria da qualidade da rede e deixar com que qualquer pessoa possa ser um proconsumer, um consumidor que gera, armazena e devolve essa energia pra rede nos horários onde a rede mais necessita”.
Oportunidades
Ainda de acordo com Vlasits, no mercado de armazenamento existem, pelo menos, três segmentos, sendo que cada um oferece oportunidades específicas e necessita de regulamentações exclusivas:
armazenamento para usuário comerciais e industriais (projetos 'atrás do medidor'): foco em redução de consumo durante horário de ponta, redução de demanda contratada, backup de energia;
armazenamento de grande porte ('em frente do medidor'): prestação de serviços ancilares, diferimento de investimento em infraestrutura de transmissão e distribuição, facilitar despacho de usinas renováveis de grande porte, trading de energia;
armazenamento para sistemas isolados: substituir gerador diesel com projetos híbridos (solar + armazenamento); grande impacto ambiental, ajudará para reduzir a CCC (subsídio de combustível pago para concessionárias e geradores no Norte do Brasil).
Marco no setor fotovoltaico
Recentemente, o país registrou a implantação do primeiro sistema de irrigação de três pivôs implantado em uma propriedade rural no sudoeste de Goiás , a cerca de 300 km de Goiânia, com o uso da energia solar. A estimativa é que com a solução o cliente final tenha uma redução de 60% no consumo diário de diesel.
O sistema de irrigação é abastecido por meio de um sistema fotovoltaico de 773 kWp, com 700 kVA de inversores, 750 kVA de gerador diesel e um banco de baterias de 300 kWh de autonomia. Os inversores, o banco de baterias e o gerador a diesel operam de forma coordenada, o que garante excelente confiabilidade no atendimento das cargas.