Primeira cooperativa de energia solar do país será instalada no Morro da Babilônia

19/10/20 | São Paulo

Extra

O Morro da Babilônia, na Zona Sul do Rio, está prestes a receber a primeira usina de energia solar em uma favela no Brasil. Serão 58 placas fotovoltaicas instaladas no telhado da Associação de Moradores, que vão gerar uma economia de 30% nas contas de luz de 38 famílias da Babilônia e do Chapéu Mangueira. O projeto-piloto é de iniciativa da ONG Revolusolar e, se der certo, poderá ser replicado em outras comunidades.

— A gente vinha fazendo instalações em modelo individual, em cada casa. Mas isso demandava um reforço da estrutura das casas, que normalmente não suportaria o peso dos painéis. Além disso, muitas têm sombreamento. Esse modelo de geração compartilhada é muito mais viável tecnicamente e economicamente, porque você usa um telhado grande, com boa incidência de luz solar — explica Eduardo Avila, diretor executivo da Revolusolar.Uma pesquisa realizada pela ONG em 2018 mostrou que 70% das famílias na Babilônia estavam regularizadas com a Light, que é a concessionária de energia na região. O problema, segundo Avila, é que o custo da conta de luz para essas famílias é muito alto em relação à sua renda.— Eles pagam muito mais caro, proporcionalmente, do que as classes média e alta, porque a tarifa é a mesma, e a renda deles é menor. Nos nossos projetos, já conseguimos 60% a 90% de redução na conta de luz, utilizando a energia solar. Com o modelo compartilhado, a expectativa é uma economia de 30%.

Segundo Adriano Paraíso, líder comunitário na Babilônia, algumas famílias na favela chegam a pagar R$ 500 por mês de conta de luz, em casas que não possuem sequer ar condicionado.

— A gente paga caro e não recebe um serviço de qualidade. Quando chove, falta luz, quando venta forte, falta luz. A gente ainda não consegue dispensar a energia da Light, mas a economia pra gente é importante, ainda mais nesse tempo difícil — afirma.

Financiamento coletivo vai até terça

A ONG Revolusolar lançou uma campanha de financiamento coletivo para levantar recursos e instalar a cooperativa de energia solar. Os materiais para instalação dos painéis serão doados pelas empresas chinesas LONGi e GoodWe.

Ainda falta cobrir os custos de instalação, capacitação profissional de moradores e implementação de medidas de eficiência energética nas casas dos beneficiados. A cooperativa será construída com mão de obra local.

Interessados podem fazer uma doação a partir de R$ 20 por meio do site benfeitoria.com/revolusolar. Todos os doadores ganham uma recompensa com base no valor doado, que vai desde o reconhecimento no relatório do projeto, até kits com copos, camisetas e bolsas. Doadores corporativos recebem um treinamento em sustentabilidade para os colaboradores.

O objetivo é alcançar o montante de R$ 100 mil até a próxima terça-feira.

Desenvolvimento social

A Revolusolar também tem um programa de formação profissional para os moradores das comunidades beneficiadas, para capacitação como eletricistas e instaladores dos painéis solares. Segundo Eduardo Avila, já são 31 moradores formados.

Vice-presidente de cadeia produtiva da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), Nelson Falcão afirma que, por ser a fonte mais barata, a energia solar tem um cunho social.

— Esse conceito de cooperativa pode ser usado em várias comunidades. Conversei com um grupo de pessoas no sertão da Paraíba que cultivam frutas e, se tivessem energia mais barata, poderiam congelar a polpa para vender. Para eles, a energia solar geraria mais oportunidades.