Programa estimula geração de energia renovável no campo

11/09/21 | São Paulo

Reportagem publicada na Folha de Londrina

O programa estadual RenovaPR (Paraná Energia Rural Renovável) foi lançado em agosto e, até o momento, mais de 5 mil produtores já procuraram os escritórios municipais do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) para implantar um sistema de geração própria de energia em suas propriedades.

A porta de entrada são os escritórios do instituto. O produtor manifesta interesse em aderir ao programa, podendo optar por energia solar ou biogás/biometano.

Os técnicos do IDR vinculam o produtor a uma empresa cadastrada no programa. Atualmente, existem duas chamadas públicas em aberto, uma para empresas de energia solar e outra para biogás. Até 23 de agosto, 248 empresas de energia solar e 9 de biogás já estavam inscritas.

Antes de ir ao IDR, o produtor já pode ir ao banco para escolher a melhor linha de crédito relativa ao financiamento que pretende tomar, com taxa de juros zero, já que o RenovaPR tem apoio de um outro programa estadual, o Banco do Agricultor Paranaense, sendo que o Estado assume a taxa de juros que seria paga pelo agricultor.

Hoje, o Paraná conta com cerca de 2.300 unidades produtivas rurais gerando energia própria, sendo 2.100 por energia solar e 200 por biogás. “Nossa meta é chegar a 100 mil unidades produtivas gerando energia própria no Paraná até 2030”, anunciou Herlon Almeida, coordenador estadual do programa RenovaPR. Esse volume representa quase um terço do total das propriedades rurais paranaenses – 305 mil.

Segundo ele, o uso da energia renovável no campo é absolutamente necessário porque o preço da energia rural está subindo, não somente pela bandeira vermelha puxada pela crise hídrica.

“Existe, desde 2019, um decreto presidencial estabelecendo que até 2023 a energia rural vai perder subsídio que o governo concedeu historicamente, desde os anos 1930. Grosso modo, a energia rural vai passar a ter o mesmo preço da energia urbana. Então, o programa é muito importante e um dos pontos positivos é a redução de custo de produção”, pontuou.

Algumas cadeias produtivas, em especial do Paraná, são ainda mais impactadas. É o caso, por exemplo, da avicultura de corte, da piscicultura de água doce, da produção de leite e da suinocultura, além de todos os processos agroindustriais.

“Essas cadeias eletrointensivas têm um determinado comprometimento no custo de produção. Por exemplo, a avicultura, dependendo do sistema de produção, se é mais eletrointensivo ou menos, varia no impacto do custo total entre 16% e 29%. Na piscicultura, de 12% a 19% do custo de produção é energia. Suinocultura, de 6% a 12%. Leite vai de 6% a 10%”, exemplifica.

O produtor rural Guillermo Federico Lois instalou um sistema de geração de energia solar há quase cinco anos em sua propriedade localizada em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

Com área total de 13 hectares, sendo 40% de preservação permanente, a propriedade produz culturas como alface, cebolinha e salsinha em sistema hidropônico, além de morango em sistema semihidropônico. Também há três tanques de piscicultura que produzem tilápias.

Hoje a propriedade dispõe de uma pequena usina fotovoltaica, com 13 painéis que geram energia.

“Quando o consumo é menor que a energia produzida, ela é acumulada na forma de crédito em kW. Pagamos hoje para a Copel uma taxa de distribuição de uns R$ 50 por mês. Antes de instalar o sistema, chegávamos a pagar mais de R$ 800 por mês pela conta de energia elétrica”, compara.

Guillermo relembra que a instalação dos equipamentos custou, na época, R$ 20 mil. “Esse valor foi totalmente amortizado em menos de 2 anos. A única manutenção até agora foi lavar os painéis fotovoltaicos a cada um ou dois meses”, pontua.

O produtor rural já projeta expansão da geração fotovoltaica e também estuda a possibilidade de instalar um gerador eólico para promover geração de energia durante a noite. “Tenho motores de uso contínuo (aeradores) e de uso intermitente (bombas de água) que funcionam durante a noite.”

Ele considera “urgente” a instalação de pequenas unidades de geração de energia limpa, como a fotovoltaica e a eólica, nas propriedades rurais.

“A geração hidrelétrica suprime grandes extensões de florestas dependendo das chuvas que, contraditoriamente, diminuem à medida em que cresce o desflorestamento. É urgente, então, a implantação de unidades de microgeração em todos os locais possíveis e isso só será viável com o apoio ágil do Estado”, defende.

Além da questão econômica, ampliar o uso de energias renováveis é uma maneira de colocar o agro do Paraná numa rota de sustentabilidade, criando uma identidade com consumidores mais exigentes, sejam nacionais ou do mundo todo.

“Isso gera uma marca para o agro paranaense e uma identidade com os mercados mais exigentes, dentro dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da Organização das Nações Unidas.”

O Objetivo Sustentável número 7 impõe ao mundo, uma vez que mais de 200 países aderiram, energia limpa e renovável para todos.

“São benefícios econômicos, sociais e ambientais. Social na questão da geração de trabalho e renda. Você produzindo a própria energia, gera novos modos e meios de produção, de agregação de valor, de agroindustrialização.”

O RenovaPR começou fomentando a instalação de duas fontes de energia renovável: a energia solar, por meio da instalação de placas fotovoltaicas, um meio de energia já razoavelmente popularizado. E também a energia do biogás e do biometano.

“O biogás é uma forma de obter energia a partir de uma biodigestão, um processo biológico de fermentação, principalmente de dejetos animais e/ou de resíduos agroindustriais. Tudo isso se coloca em um biodigestor, onde há um processo de fermentação com geração de metano. Isso pode ser aproveitado na forma de biogás ou filtrado, tendo 94% de pureza de metano, daí entraria na categoria biometano. No caso do biogás, você transforma o dejeto, um passivo ambiental, em um ativo econômico”, explica.

Quando se adquire o status de biometano, ele é equivalente, na legislação brasileira regulamentada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), ao GNV (Gás Natural Veicular).

“O produtor pode usar o metano na sua mobilidade, dos caminhões, dos ônibus. E tem um outro benefício importante no processamento do biogás, que é você ter o que sobra do processo de biodigestão, conhecido popularmente como biofertilizante.”

Com isso, o agricultor poderá utilizar esse biofertilizante substituindo o adubo químico, produto que está caro hoje, visto que é derivado do petróleo. “Enriquecido com alguns nutrientes, o biofertilizante adquire um status equivalente ou até melhor do que qualquer adubo que está no mercado.”

Até o início do ano que vem, devem ser feitas outras duas chamadas públicas relativas a fontes renováveis de energia no campo no Paraná, uma para microhidro (pequenas turbinas hidroelétricas que não precisam de barramento de córregos e rios para gerar energia) e outra para pequenos microgeradores eólicos, por ação do vento.

“Os agricultores têm que tomar consciência definitiva de que energia, assim como em qualquer país do mundo, é um fator importante dos processos produtivos agrícolas. Então, a energia é uma riqueza que o agricultor precisa ter muito presente”, conclui.

LEIA TAMBÉM:

Carlópolis se destaca como maior produtor de goiaba do Estado