Questão ambiental é base para a economia brasileira

09/05/21 | São Paulo

Reportagem publicada no Exame


Tema está entre as prioridades das principais casa de análise de instituições financeiras

A questão climática está na ordem do dia, especialmente após as discussões da Cúpula do Clima, organizada pelo governo dos EUA e que reuniu lideranças de mais de 40 países. Em pauta, temas como desmatamento e as emissões de carbono.

No Brasil, mais além das políticas adotadas, uma coisa é certa: esse debate é crucial para a economia brasileira, e afeta toda a sociedade e as empresas – sobretudo as companhias de capital aberto.

Hoje, questões socioambientais estão na lista de prioridades das mais relevantes casas de análise de instituições financeiras internacionais e nacionais. São elas as principais balizadoras para as aplicações de fundos de investimentos, especialmente os situados em países com uma sensibilidade maior para o assunto.

No ano passado, fundos que administram cerca de US$ 3,7 trilhões em ativos manifestaram preocupação específica com a Amazônia, sob a liderança da Storebrand, da Noruega.

O Brasil está no centro das atenções e, mais além de vieses sociais, políticos e diplomáticos, o assunto precisa também ser visto pelo viés da economia, além dos pertinentes aspectos socioambientais.

Afinal, um eventual rebaixamento do grau de investimento no país nas principais agências de classificação de risco poderia reduzir o fluxo de capital estrangeiro.

O setor privado tem feito a sua parte. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento que reúne mais de 280 empresas e instituições representantes do agronegócio, meio ambiente, setor financeiro e academia, enviou uma carta ao governo brasileiro em busca de metas mais ambiciosas em relação ao clima. Propositivo, o texto relaciona seis medidas capazes de reposicionar o país na agenda climática, com base em leis e normas que já estão em vigor, como o Cadastro Ambiental Rural.

Em paralelo, a adoção de elevados padrões de governança e nas áreas social e ambiental, organizados na sigla ESG (Environmental and Social Governance em inglês), ganha força na agenda das empresas. No Brasil, a listagem no Novo Mercado, segmento especial da B3 que reúne as empresas de capital aberto com avançados níveis de governança, já é relevante – mais de 150 empresas estão chegando nesse patamar.

No mundo, em um relatório do início deste ano, o Science Based Targets, iniciativa de grupos ambientais e centenas de empresas reunidas pelas Nações Unidas, segundo reportagem do New York Times, revelou que 338 grandes empresas ao redor do mundo para as quais tinha dados de emissões suficientes reduziram coletivamente suas emissões de carbono em 25% entre 2015 e 2019.

Não é fácil reduzir as emissões, mas começar é indispensável. Isso parece mais palpável em negócios como mineração e energia, que têm impactos mais visíveis, mas também é válido e necessário em empresas de tecnologia, entretenimento e educação.

As oportunidades de avanço estão disponíveis. Empreendimentos como parques solar-fotovoltaicos vêm crescendo e, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já respondem por 52,83% dos projetos outorgados e ainda não iniciados e 10,02% dos que estão em construção – o Grupo Ser Educacional é um deles: só compra energia de fontes renováveis e investe em suas próprias usinas de geração fotovoltaica.

Importante registrar que o Brasil já conta com uma matriz energética de baixo carbono, com 74,92% das usinas impulsionadas por fontes consideradas sustentáveis, com baixa emissão de gases do efeito estufa, segundo dados do Sistema de Informações de Geração da Aneel.

Há outros motivos para acreditar: o país tem um agronegócio com bons modelos de gestão e alta tecnologia, que vêm aliando capacidade de produção com responsabilidade socioambiental. E aqui temos gente qualificada, bem formada, com capacidade de execução.

As soluções não são tão simples, é evidente, mas tudo começa exatamente como recomendam as boas práticas de mercado: diagnóstico, estratégia, planejamento, metas, prazos e gestão.

É um processo de longo prazo, mas com uma certeza: a consistência de suas ações será essencial para que o Brasil possa, de forma sustentável, atrair os investimentos de que precisa em uma economia cada mais organicamente global, com uma matriz de geração de energia sustentável forte para a redução de carbono, e não apenas dependendo de suas imensas reservas florestais.

No final das contas, a virada nas expectativas será essencial para uma retomada da confiança, o que é fator decisivo para que os agentes do mercado possam fazer o que sabem: empreender e gerar conhecimento, renda e empregos.

*Jânyo Diniz é CEO do grupo Ser Educacional

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No ano passado, fundos manifestaram preocupação específica com a Amazônia. (Secom-MT/Divulgação) (Foto: )