Restrições comerciais impulsionam fabricação de painéis solares fora da China

02/05/24 | São Paulo

Reportagem publicada pelo Portal Solar

Iniciativas de expansão de capacidade produtiva têm sido promovidas em diversos países para atender mercados com barreiras contra produtos chineses e fortalecer a indústria local

Restrições comerciais e mudanças políticas e regulatórias tem impulsionado iniciativas de expandir a produção de equipamentos de energia solar fora da China, país que concentra mais de 80% da indústria fotovoltaica global. Conforme relatório da consultoria InfoLink Consulting, iniciativas podem ser identificadas no sudeste da Ásia, Estados Unidos, Oriente Médio, Índia e Europa.

Em 2023, a demanda global de painéis solares totalizou 467 GW em 2023 e deve crescer em 10% em 2024, atingindo entre 492 e 538 GW. Esse avanço será impulsionado pela China, Europa, EUA, Brasil e Índia.

Em razão de barreiras comerciais e mudanças regulatórias em alguns dos principais mercados, fabricantes chineses estão promovendo novas estratégias de atuação no exterior. Apesar disso, a produção da China deve seguir dominante no cenário de curto e médio prazo.

Sudeste da Ásia
Nos últimos anos, os EUA têm imposto medidas contra a importação de placas solares chinesas. Para driblar essas restrições, a indústria tornou o sudeste da Ásia um importante polo de atendimento a demanda desse mercado.

Porém, essa tática tem enfrentado novos obstáculos. A InfoLink destaca que, a partir de junho de 2024, fabricantes do sudeste da Ásia não poderão exportar produtos para os EUA a não ser que façam uso de wafers não-originários da China. Diante da atual deficiência de fabricação desse componente fora do território chinês, muitos fabricantes planejam expandir a produção fora do país.

EUA
Segundo maior mercado de energia solar do mundo, os EUA têm apoiado o desenvolvimento de uma indústria local nos últimos anos, incluindo políticas de subsídios. Muitos fabricantes, como a Q-Cells, Silfab, Solar4America e Meyer Burger, tem planos de expandir a atividade de manufatura no país.

Porém, a InfoLink estima que o aumento da capacidade produtiva de células fotovoltaicas deverá ser bem limitado, atingindo apenas 7,3 GW por ano ao final de 2024. A estimativa é que esse volume chegou a 38,15 GW em 2027.

Em relação aos módulos, a expansão tem sido significativa nos últimos anos. Muitos fabricantes, como JA Solar, Trina, Astronergy e 3SUN, decidiram incrementar a produção nos EUA. Ao final de 2024, a expectativa é que a capacidade produtiva anual de módulos cresça 30 GW e supere 50 GW.

Oriente Médio
O Oriente Médio é um mercado promissor para o setor solar, com governos locais alocando investimentos em energia renovável e estabelecendo um ambiente favorável para investidores locais. Além do atendimento da demanda local, a produção de equipamentos solares na região poderá ser destinada a exportação para os EUA, diante da atual situação internacional.

A chinesa Zhonghuan confirmou uma colaboração com a saudita Vision Industries na instalação de uma fábrica de wafers com capacidade anual estimada de 20 GW. Também na Arábia Saudita, a GCL anunciou uma capacidade produtiva de 120 mil toneladas de silício policristalino.

Nos Emirados Árabes Unidos, a Trina planeja construir uma operação integrada de produção em três fases, incluindo 50 mil toneladas de silício policristalino, 30 GW de wafers, 5 GW de células e 5 GW de módulos.

Na Turquia, além da produção local de módulos ter chegado à capacidade de 19,7 GW ao final de 2023, a empresa Kalyon construiu uma operação integrada que inclui 2 GW de wafers, 2 GW de células e 2 GW de painéis solares.

Índia
O governo da Índia introduziu uma série de incentivos políticos para a produção doméstica, incluindo o uso de painéis solares indianos em projetos públicos de geração fotovoltaica. O Adania Group está planejando uma produção verticalmente integrada no país, incluindo 2 GW de wafers, 4 GW de células e 4 GW de módulos.

Ao mesmo tempo, fabricantes estrangeiros têm estabelecido capacidades de células e painéis na Índia. Porém, a consultoria avalia que o ritmo da expansão será lento, em razão de inadequações tecnológicas e dificuldades na importação de equipamentos.

Europa
Recentemente, governos de países europeus consideraram restringir importações da China, mas a capacidade produtiva local ainda não é capaz de atender a demanda e o continente segue bastante dependente de painéis solares chineses.

Barreiras comerciais resultariam no aumento de preços de módulos de fabricação europeia, afetando a lucratividade de desenvolvedores de projetos e atrapalhando o progresso da transição energética.

Dessa forma, a União Europeia planeja reduzir essa dependência e atingir independência energética por meio de políticas de incentivos. Em março de 2023, a Comissão Europeia propôs projetos legislativos para impulsionar a manufatura de tecnologias e materiais no continente. Ainda assim, a maioria das companhias seguem cautelosas em promover expansões, em razão de incertezas políticas.