Uso de energia solar cresce 138% no ABC em dois anos mesmo sem subsídios

18/02/24 | São Paulo

Reportagem publicada em Repórter Diário

Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) o número de moradores do ABC que passaram a optar pela energia fotovoltaica aumentou 138,2% entre 2021 e 2023. No primeiro ano foram feitas 620 ligações e em 2023 foram 1.477. Ao todo na região já foram 4.231 pontos, entre residências, comércio e indústria, que usaram o sol para alimentar equipamentos elétricos. O número de placas nos telhados só não é maior porque o custo de implantação do sistema ainda é alto para a maioria das famílias, embora haja financiamento. Como não há subsídio, os juros encarecem a prática e tornam longo o prazo de recuperação do investimento.

Para Pedro Drumond, coordenador da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) para o Estado de São Paulo, o tempo de retorno do investimento gira em torno de quatro anos e há tecnologia e espaço para implantação. “A área dos telhados em geral é suficiente para gerar mais que o dobro do que se consome de energia embaixo deles”, garante.

Para Drumond, o custo pode ser amortizado com financiamento e com a economia na conta de luz. “Quando você pega um empréstimo para comprar a energia solar, você tem um investimento, mas tem também economia na sua conta”, diz. A ideia, afirma, é que o valor que de economiza por mês na fatura de energia pague o financiamento. De acordo com o caso, do banco, da taxa e do cenário econômico, a economia da conta pode ser suficiente para pagar o valor do empréstimo. “Os bancos perceberam que é um ótimo negócio emprestar dinheiro para pessoas físicas e empresas e as linhas de crédito aumentaram muito, com linhas públicas e privadas”, continua.

Preço elevado

Para o engenheiro eletricista e coordenador dos cursos de engenharia e arquitetura da FSA (Fundação Santo André), Mário Garcia Júnior, apesar do apontado pela ABSOLAR, a implantação da energia solar ainda é muito cara e essa é a maior barreira para o seu crescimento no País.

O professor diz que a quantidade de placas fotovoltaicas encarece o produto final. “A economia na conta até ajuda a pagar o financiamento, mas como tudo que se usa vem da China e é pago em dólar ainda fica muito caro. Os bancos até têm ofertas, mas as vantagens são pequenas porque o tipo de empréstimo não é subsidiado pelo governo. Governos europeus investiram nesse subsídio e com isso reduziram muito o investimento em usinas, equilibrando a conta”, explica.

Mário Garcia Júnior diz que para o padrão mais comum de residências brasileiras a área dos telhados seria sim suficiente para garantir energia, porém tudo depende do padrão de consumo. “Se tiver ar-condicionado em todos os ambientes, lógico que a placa solar não vai suprir a casa de energia suficiente. Se você tem um aparelho de 4 mil watts de potência, e a maioria das placas usadas é de de 400 watts, só para esse aparelho seriam necessárias 10 placas”, exemplifica.

Para o professor da FSA, para fazer a energia solar acessível é preciso subsídio governamental. “Se tivesse um programa que facilitasse a aquisição isso ajudaria. Hoje tem empresa que promete retorno do investimento em dois anos, isso é absurdo, eu calculo que atualmente esse retorno deve chegar em oito anos”, afirma. Garcia acredita que se tivessem programas sociais para a aquisição de casas populares já com energia solar haveria grande impacto. “As placas seriam instaladas no lugar dos telhados e gerariam importante benefício social para aquelas famílias na conta de luz”, comenta.

Carro elétrico

Mário Garcia Júnior vê na energia solar grande vantagem para nova tendência que chega com força, a do carro elétrico. Veículos que chegam ao mercado com qualidade de acabamento, potência e autonomia comparáveis aos carros com motores à combustão e também com preço semelhante agora tomam o mercado.

Segundo Garcia, para valer à pena o carro elétrico, o consumidor tem de ter a própria geração de energia. “Eu vejo que o comprador do carro elétrico ainda não ligou uma coisa à outra, pois se ele tiver um sistema solar para alimentar o veículo ele não vai gastar nada. Hoje o modelo mais barato de carro elétrico parte de R$ 150 mil, se o comprador gastar mais R$ 20 mil ele vai ter como abastecer sem custo e aí sim o sistema faz mais sentido”, diz o professor da Fundação.

Baterias

O inconveniente do carro elétrico são as baterias, que em oito ou 10 anos perdem a eficiência e passam a não garantir toda autonomia. Na questão ambiental, pode ser problema quanto à destinação do resíduo e a viabilidade de substituição já que as baterias custam mais da metade do valor do carro. Para o professor de engenharia elétrica, há uma solução até que se tenha uma tecnologia melhor e disponível para armazenar carga, que é utilizar as baterias usadas dos carros por mais alguns anos nas casas.

O professor lembra que temos a energia solar On Grid, ligada na rede elétrica. “Por meio dela, toda energia que eu não usar na minha casa vai para o sistema pelos cabos da concessionária. Temos também a Off Grid, a que eu guardo essa carga em baterias para usar em períodos sem sol. O que se pode fazer é pegar essa bateria usada do carro, que já não garante a autonomia inicial do veículo, e colocar em casa para armazenar energia. Ela não garante a mobilidade do carro, mas vai poder ser utilizada por mais oito ou 10 anos na casa, só com isso se consegue dobrar o tempo de utilização”, completa o engenheiro.