Veja como funciona as termelétricas, acionadas para evitar um apagão energético

08/08/21 | São Paulo

Reportagem publicada na CNN Online

Com baixo nível dos reservatórios, não é só o abastecimento de água que está ameaçado, mas também o fornecimento de energia

O Brasil enfrenta a pior estiagem dos últimos 91 anos. Com baixo nível dos reservatórios, não é só o abastecimento de água que está ameaçado, mas também o fornecimento de energia, já que a maior parte da produção do país vem de hidrelétricas. Para evitar um apagão, como aconteceu em 2001, usinas térmicas têm sido acionadas.

A CNN Brasil visitou a Usinas Xavantes, que fica em Goiânia, e mostra imagens que se repetem várias vezes ao dia: caminhões-tanque abastecem a usina térmica. São 320 mil litros de óleo diesel usados para a produção de energia elétrica a cada 24 horas. Dos tanques, o combustível é enviado para os geradores. A energia produzida a partir da queima do diesel é injetada nos transformadores da subestação para, então, ser enviada ao sistema interligado nacional.

A Usina Xavantes foi instalada depois da crise energética de 2001, quando o país passou pelo famoso apagão. Desde que começou a funcionar, presta serviços emergenciais, ou seja, só é acionada quando é acionada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Só que, neste ano, a demanda cresceu tanto que o 196 geradores estão ligados 24 horas por dia. E a energia que é produzida aqui é enviada a vários estados brasileiros.

As usinas térmicas emergenciais no Brasil são pagas para ficar de “stand by”, o que significa que a maioria só é acionada em caso de necessidade, bem diferente do cenário atual. “Este ano, nós começamos em março na operação de cerca de três vezes por semana. Em abril, foi aumentando para 4, 5 vezes e, desde junho, estamos gerando 24 horas, sete dias na semana”, diz João Guilherme Mattos, diretor da Usina Xavantes.

O que é produzido na usina é capaz de abastecer 350 mil casas por dia, ou 90% de uma cidade do tamanho de Goiânia, por exemplo.

Garantia de abastecimento

O professor da Universidade de Goiás (UFG) Enes Gonçalves Marra explica que a geração de energia pelas usinas térmicas emergenciais é a garantia do abastecimento, mesmo custando mais caro. “Em função da dificuldade também de se poder transportar energia entre as regiões do país, muitas vezes, é necessário que se acione termelétricas que estão próximas dos centros urbanos”, diz.

Quando as térmicas são acionadas, é sinal que as hidrelétricas não estão dando conta do recado e que é preciso economizar. Nos últimos sete anos, os reservatórios receberam um volume de água inferior à média histórica, segundo o ONS. A conta de luz nunca foi tão cara. Desde maio, o consumidor brasileiro vem pagando pela bandeira tarifária vermelha que, neste mês, passou para o patamar 2, com um custo adicional de R$ 9,49 a mais para cada 100 KW/h consumido.

Energia solar

Seria um prejuízo enorme para a produtora rural Edilaine Silvestre se ela não tivesse investido em geração própria. As placas de energia solar instaladas na fazenda da família suprem o consumo de pelo menos três imóveis e poupam a produtora rural de levar um susto sempre que receber a fatura.

“Conta de energia cara, mão de obra cara, a gente tem que otimizar onde dá. Hoje, eu não tenho problemas com conta de energia”, diz Edlaine. Essa é uma medida ainda pouco adotada no Brasil, onde só 1,7% da matriz energética é de geração solar.

Para os especialistas, apesar dos impactos ambientais e econômicos, as térmicas são a única saída para evitar o apagão.

“Embora a gente reclame de uma conta de energia mais salgada, pior seria sem a disponibilidade de energia. Ou com a obrigatoriedade de reduzir o consumo, como foi feito em 2001. Ou seja, as unidades familiares e as indústrias, além do setor de serviço, foram obrigados a reduzir em 20% a sua demanda por energia elétrica. Isso significa menos produção, férias coletivas, dispensar pessoas, já que a produção é menor”, diz Virgínia Parente, professora do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).