Aos menos 47 países declaram realocar investimento em petróleo e carvão para fontes renováveis

04/11/21 | São Paulo

Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo

EUA, Canadá, Alemanha, Reino Unido e Dinamarca estão entre os signatários

Uma declaração conjunta com pelo menos 47 países promete realocar investimentos de fontes fósseis de energia —como petróleo, carvão e gás —para fontes renováveis, até 2030.

Publicada nesta quinta (4) na COP26, a declaração tem entre seus signatários Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido e Dinamarca. A proposta de realocação responde a uma das preocupações desta conferência do clima: o fluxo de financiamento para a transição energética.

Segundo especialistas ligados à presidência britânica da COP, os anúncios do setor financeiro de desinvestimento em projetos com alta emissão de gases-estufa não serão suficientes, caso os recursos não sejam realocados para fontes renováveis, completando a transição da matriz energética global —onde se concentram as emissões de gases causadores do aquecimento global.

Sob o título “Declaração de transição do carvão global para energia limpa”, o documento de apenas uma página traz quatro compromissos. O principal deles trata de encerrar a emissão de licenças para novos projetos de geração de energia a carvão, assim como o seu financiamento em outros países.

Os outros itens da declaração citam o investimento para dar escala às tecnologias de energia renovável, apoiar econômica e socialmente os trabalhadores, setores e comunidades afetados pelo fim dos investimentos em carvão, assim como apoiar outros países para uma transição energética global, prevista no documento para acontecer até por volta de 2030 nas maiores economias e até 2040 no restante do mundo.

A China, que não está entre os signatários do anúncio na COP, havia anunciado em setembro que não deve mais financiar projetos internacionais para carvão. O país, no entanto, ainda deve contar com a matriz energética baseada em carvão nos próximos anos e prevê começar a reduzir suas emissões apenas no fim da década.

Embora o Brasil tenha uma matriz energética considerada limpa, por se basear em hidrelétricas e por contar com biocombustíveis como o etanol, o acionamento das termelétricas, baseadas em combustíveis fósseis como o carvão, tem aumentado na última década, tanto em crises hídricas, como a que o país enfrenta atualmente, como também nos leilões de energia e no planejamento energético do governo federal. O Brasil não está entre os signatários da transição energética na COP26.

No entanto, o Brasil já teria condição de fazer a transição energética prometida pelo mundo. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a capacidade instalada de energia solar no país já supera a de termelétricas.

O Rio Grande do Sul, que concentra mais de 90% das reservas de carvão do país, tem encontrado resistência à exploração do mineral. O projeto da Mina Guaíba, na região metropolitana do estado, foi barrado pela Justiça e perdeu o apoio do governador Eduardo Leite (PSDB), que neste ano passou a defender o fim do uso do carvão.

A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade.

Usina termoelétrica a carvão pode ser vista na cidade de Baotou, na região autônoma da Mongólia, no interior da China – David Gray – 31.out.2010/Reuters (Foto: David Gray – 31.out.2010/Reuters)

As grandes hidrelétricas, como Furnas (foto), são as responsáveis pela produção de energia elétrica do país (60,26%); entre as usinas que estão em construção, esse o valor diminui: as novas hidrelétricas de grande porte correspondem a 12,68% da energia que será gerada pelas novas construções (Foto: Apu Gomes/Folhapress)

As usina térmicas, como a operada com gás natural em Uruguaiana (foto), entregam 25,86% da energia usada no país. Segundo a expectativa da Aneel, as termelétricas podem gerar 37,18% da energia produzida pelas novas usinas (Foto: /Reuters)

Os parque eólicos (na foto, em Fortaleza) geram 8,21% da energia brasileira. Entre as usinas em construção, as eólicas vão responder por 25,03% da potência (Foto: Jarbas Oliveira/Folhapress)

As termonucleares correspondem a 1,24% da energia gerada no país atualmente. Entre as usinas em construção, 13,64% da potência gerada virá das nucleares. Na foto, usina de Angra 2, no Rio de Janeiro (Foto: Caco Konzen/Folhapress)

Hoje, as usinas solares (como a do Piauí, na foto) respondem por apenas 0,82% da matriz energética. Segundo Aneel, 8,35% da energia que será gerada pelas usinas em construção virá dos campos com painéis fotovoltaica (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress)

Ativistas fazem manifestação enquanto são acompanhados por policiais pelas ruas de Glasgow (Foto: Hannah McKay – 3.nov.2021/Reuters)

Líderes e membros de grupos indígenas participam de cerimônia envolvendo o fogo sagrado (Foto: Andy Buchanan – 3.nov.2021/AFP)

Príncipe Charles se encontra com a designer Stella McCartney e com o ator Leonardo DiCaprio durante passeio a uma instalação com trabalhos da filha de Paul McCartney (Foto: Owen Humphreys – 3.nov.2021/Reuters)

Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, fala à imprensa durante evento da COP26 (Foto: Paul Ellis – 3.nov.2021/AFP)

Ativista sueca Greta Thunberg chega a reunião da COP26 (Foto: Yves Herman – 3.nov.2021/Reuters)

Prefeito de Londres, Sadiq Khan, e primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, participam de evento sobre investimentos verdes durante a COP26 (Foto: Peter Summers – 3.nov.2021/Reuters)